Bolsonaro entrou com pé firme no Mercosul
El presidente Jair Bolsonaro entou nesta quarta-feira com pé firme na condução do Mercosul para quem pediu mais ação que discursos.
Bolsonaro recebeu do presidente argentino Mauricio Macri a liderança semestral do Mercosul, integrado também por Paraguai e Uruguai, duas semanas depois do anúncio de um pacto com Bruxelas negociado por 20 anos e que vai gerar um mercado de 780 milhões de habitantes
O encontro em Santa Fé é o primeiro a ter a presença de Bolsonaro, que antes de assumir a presidência em janeiro havia avisado que se retiraria do bloco se não obtivesse melhores oportunidades de negócios.
Diante de seus pares do bloco regional, fez comentários bem humorados e trocou opiniões sobre futebol com Macri. "Nossa rivalidade é só no futebol, graças a Deus", disse.
E justamente essa sintonia entre os líderes dos dois maiores países do Mercosul inclui uma idêntica visão liberal da economia.
- Eleições para Venezuela -
Em seus discursos em Santa Fé, Bolsonaro e Macri não vacilaram em atacar o governo do presidente da Venezuela Nicolás Maduro.
"Entre nós não há mais espaços para regimes autoritários", disse Bolsonaro.
"Como pode um país tão rico como a Venezuela chegar ao ponto de chegou? Se sabe como nasceu: o projeto de poder de um partido que não tinha limites. Quase afundaram o Brasil nesse populismo", garantiu.
Por seu lado, Macri pediu a Maduro para "parar de obstruir a transição democrática e parar com violações dos direitos humanos dos venezuelanos".
Ao final da reunião, os líderes dos países do Mercosul assinaram uma declaração em que expressaram sua preocupação "pela grave crise que a Venezuela atravessa, que afeta seriamente a situação humanitária e de direitos humanos" e pediram a realização de "eleições presidenciais livres, justas e transparentes" o quanto antes.
A Venezuela foi afastada do grupo há dois anos por não respeitar as normas democráticas do estatuto do bloco.
Com exceção do Uruguai, os outros três membros do Mercosul, assim como o Chile, que é associado, condenam o governo de Nicolás Maduro e o consideram uma ditadura. A Bolívia, que tenta entrar no bloco regional, apoia Maduro. Seu presidente, Evo Morales, participou desta reunião.
O documento foi aprovado pelos integrantes do Mercosul e seu texto não cita o líder opositor Juan Guaidó, a quem mais de 50 países, entre eles Argentina, Brasil e Paraguai, consideram presidente interino da Venezuela.
- A ratificação -
No semestre da presidência brasileira, o Mercosul começará a flexibilizar sua operação para ser mais competitivo e aberto.
"Queremos um Mercosul com menos discursos e mais ação e sem ideologia e com mais resultados", afirmou Bolsonaro.
Anunciou que, neste semestre, a tarifa externa comum será examinada, uma taxa para as importações de países terceiros e que é considerada "muito alta" e prejudicial à competitividade.
Uma questão fundamental será começar a encaminhar a ratificação parlamentar do acordo com a UE.
Esse tratado precisa ser aprovado pelos congressos dos 32 países e pelo Parlamento Europeu, um processo que deve durar pelo menos dois anos.
Por isso, nos próximos meses, o Mercosul vai definir como aplicará de forma provisória o acordo.
Na Europa, legisladores de vários países e grupos ambientalistas se declararam em guerra contra o pacto. Os produtores europeus sempre se opuseram à entrada da produção sul-americana em seus mercados.
Mas a esta suspeita acrescenta-se como um fator a rejeição generalizada causada pela política agrícola e ambiental de Bolsonaro, acusado de trabalhar a favor do agronegócio e de deixar de lado a proteção ambiental.
Na agenda do Mercosul, está para ser fechado no próximo mês um acordo com a Associação Européia de Livre Comércio (EFTA), composta por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. No próximo ano, há os pactos com Canadá e Coreia do Sul, disse o chanceler argentino Jorge Faurie.
Também buscará fortalecer seu relacionamento com a Aliança do Pacífico, que inclui Chile, Colômbia, México e Peru, países que já possuem acordos bilaterais com a UE.
No mesmo sentido, serão criados grupos de trabalho para delinear "acordos base" com países da América Central.
A cúpula lançou resoluções que influenciarão as vidas dos habitantes do bloco, entre eles, a eliminação da cobrança de "roaming" nos serviços de telefonia celular e transmissão de dados.