Brasil suspende a imunização anticovid de grávidas com AstraZeneca
O Brasil suspendeu nesta terça-feira (11) a imunização de gestantes com a vacina anticovid da AstraZeneca após um "evento adverso grave", que está sendo investigado pelo Ministério da Saúde.
A suspensão foi adotada até que sejam esclarecidas as causas da morte no Rio de Janeiro de uma mulher que tinha sido vacinada com o fármaco e sofreu uma trombose, informou em coletiva de imprensa o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
"Não está claro que a vacina tenha sido a causa dessa trombose. Estamos analisando os detalhes de todo o histórico para chegar a uma conclusão e esclarecer o que aconteceu", afirmou o doutor Jorge Kalil, consultor do Programa Nacional de Imunização (PNI), que participou da coletiva.
Franciele Francinato, coordenadora do PNI, explicou que as gestantes que tomaram a primeira dose da vacina da AstraZeneca devem suspender a aplicação da segunda dose até que o Ministério dê nova orientação.
Ela ressaltou que as grávidas com comorbidades devem ir aos postos de saúde para tomar as vacinas da Pfizer ou a CoronaVac, do Sinovac.
Números parciais do Ministério indicam que 22.295 grávidas tinham sido vacinadas em todo o país, 67% delas com o imunizante da AstraZeneca/Oxford. Francinato destacou até até agora o caso reportado no Rio de Janeiro foi o único "evento adverso grave" neste grupo.
A AstraZeneca Brasil afirmou em um comunicado que seus testes clínicos não incluem grávidas e puérperas (uma "precaução usual" nestes estudos), mas que "os estudos em animais não indicam efeitos prejudiciais diretos ou indiretos no que diz respeito à gravidez ou ao desenvolvimento fetal".
Os porta-vozes do programa de imunização insistiram em que a suspensão "é uma medida de cautela" que diz respeito exclusivamente às gestantes e às mulheres no pós-parto.
- "Critérios técnicos" -
Vários países europeus restringiram a aplicação do imunizante da AstraZeneca em pessoas abaixo de certas idades, devido ao aparecimento raro de coágulos sanguíneos entre milhões de vacinados. Estas decisões minaram a confiança desta vacina do grupo sueco-britânico.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou na noite desta terça "a suspensão imediata do uso da vacina" sueco-britânica em mulheres grávidas, argumentando que sua aplicação neste grupo não está prevista na bula do fármaco.
Vários estados, entre os quais São Paulo e Rio de Janeiro, seguiram estas recomendações sem aguardar o anúncio do governo federal.
Queiroga explicou que a decisão foi tomada por uma equipe com reconhecimento nacional e internacional e se baseou "em critérios exclusivamente técnicos".
Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fundação Oswaldo Cruz (vinculada à produção da vacina da AstraZeneca), avalia que "a Anvisa fez o que tinha que fazer".
"Não podemos ficar contra essa decisão", disse à AFP. "Mas isso não pode causar problemas e atraso [na vacinação] da população geral", ressaltou.
O Brasil, de 212 milhões de habitantes, já vacinou 32 milhões de pessoas com a primeira dose de uma das vacinas autorizadas e 15,3 milhões com a segunda.
Mais de 425.000 brasileiros morreram com o coronavírus, um balanço superado apenas pelos Estados Unidos.
- Alternativas -
A vacina chinesa CoronaVac, do laboratório Sinovac, é a mais usada no país, que aplica em menor medida o imunizante da AstraZeneca/Oxford e recentemente começou a administrar o fármaco produzido pela Pfizer/BioNTech.
A epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), destacou que a vacina da Pfizer é "a única que já tínhamos estudos e evidências científicas de que não tinha eventos adversos sérios no grupo das gestantes".
Mas a CoronaVac, apesar de não contar com estudos específicos para este grupo, usa uma tecnologia que já se provou segura, também presente nas vacinas contra a gripe, explicou.
O governo brasileiro incluiu as gestantes e as mulheres no pós-parto no grupo prioritário do plano de imunização a partir de 26 de abril devido ao alto risco de hospitalização pela covid-19.