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Cúpula Mundial de Hepatites foca em diagnóstico e acesso a tratamento

Gottfried Hirnschall, líder do Departamento de HIV/aids da Organização Mundial da Saúde, em São Paulo, em 1º de nomvebro de 2017 afp_tickers

A segunda Cúpula Mundial de Hepatites discute, a partir desta quarta-feira, em São Paulo, a generalização do diagnóstico e o acesso a tratamentos mais baratos, para erradicar essa doença que mata 1,3 milhão de pessoas por ano.

Segundo dados divulgados no evento, apenas nove países estão avançando nas metas do compromisso assumido por 194 nações em 2016 de erradicar a doença até 2030: Brasil, Egito, Geórgia, Alemanha, Islândia, Japão, Holanda, Austrália e Catar.

O país anfitrião aproveitou a ocasião para expor sua estratégia de generalização dos diagnósticos, uma das maiores carências na luta contra esse vírus.

Nos últimos seis anos, o Brasil realizou 28 milhões de exames de detecção da hepatite, e outros 12 milhões serão feitos no próximo ano, com o objetivo de chegar a 200 milhões em 2030, uma quantidade praticamente equivalente à população atual do país.

“O Brasil realizou 28 milhões de exames em seis anos, estamos muito surpresos, é um número recorde de testes de hepatite”, disse Homie Razavi, do Centro de Análises para as Doenças, com sede nos Estados Unidos.

“Muitos países não entendem que para erradicar a doença será necessário passar toda a população pelo crivo, mas o Brasil entendeu isso”, acrescentou.

Razavi explicou que o Egito, um país exemplar na luta contra a hepatite, só realizou quatro milhões de exames, em uma população de 94 milhões de habitantes.

Representantes de 80 governos e cerca de 200 especialistas e acadêmicos participam da cúpula de três dias, convocada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Aliança Mundial Contra as Hepatites. A primeira cúpula foi realizada em 2015 na Escócia.

A hepatite é uma inflamação do fígado causada por um vírus. Há cinco tipos, embora o B e o C sejam responsáveis por mais da metade de todos os novos casos de câncer de fígado, segundo dados da OMS.

Há 325 milhões de casos confirmados no mundo todo, embora se estime que a taxa de diagnóstico da hepatite B é de apenas 10% e de 20% para o tipo C.

A hepatite do tipo C é transmitida principalmente pelo sangue contaminado, e está presente, entre outros, nos países orientais (15 milhões de casos), na Europa (14 milhões), África (11 milhões) e no sudeste asiático (10 milhões), segundo dados divulgados na semana passada pela OMS em sua sede em Genebra.

A do tipo B, que se transmite pelo sangue e por outros fluidos corporais, atinge sobretudo o leste da Ásia e a Austrália, onde há 115 milhões de casos diagnosticados. A segunda região mais afetada é a África, com 60 milhões de casos.

A luta pela erradicação é complexa.

“Os ingredientes para o sucesso são simplificar o exame de diagnóstico, ter programas públicos, tratamentos com preços mais baixos e mostrar vontade política”, disse Gottfried Hirnschall, diretor da OMS para o Departamento de HIV e do programa global de hepatite. Estes dois vírus estão relacionados por compartilharem as mesmas vias de transmissão.

– Acesso aos tratamentos –

O evento acontece em pleno debate sobre o acesso popular aos tratamentos.

A OMS detalhou na terça-feira que nos últimos anos um número recorde de três milhões de pessoas tiveram acesso ao tratamento para a hepatite C, e 2,8 milhões receberam remédios em 2016 para a de tipo B, com maior número de casos confirmados.

No entanto, milhões de pessoas, em sua maioria em países de rendas médias ou baixas, continuam sem poder adquirir as novas alternativas médicas.

A questão foi o motivo de um pequeno protesto nesta terça-feira em frente à sede em São Paulo da fabricante do medicamento mais potente e com menos efeitos colaterais contra a hepatite C, que no Brasil chega a um preço de 6.213 dólares em média para um tratamento de três meses, segundo cálculos da Coalition Plus, uma organização especializada no combate à aids e à hepatite.

A combinação de sofosbuvir, do laboratório Gilead, e daclatasvir, do Bristol-Myers Squibb, representa um avanço ao aumentar as chances de cura para até 95%, em apenas 12 semanas, superando tratamentos anteriores que demoravam muito mais.

Para o Médicos sem Fronteiras (MSF), a chave está na distribuição de alternativas genéricas de qualidade comprovada.

Jessica Burry, da campanha de acesso a medicamentos do MSF, explicou que a capacidade dos fabricantes de tratamentos genéricos é ilimitada, e que o aumento da demanda contribui para a diminuição dos preços.

“Necessitamos vontade política, governos que executem ações para adquirir medicamentos genéricos (…) e encontrar os pacientes”, acrescentou.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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