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Chile: estudantes voltam às ruas em repúdio à lei da gratuidade

Estudantes em Santiago, no dia 11 de abril de 2017 afp_tickers

Estudantes chilenos protagonizaram nesta terça-feira (11) um protesto no centro de Santiago em repúdio ao avanço no Congresso de um projeto de lei que busca instaurar a gratuidade no ensino superior, o qual exigem que seja reformulado.

As organizações estudantis convocaram a primeira manifestação do ano quando o Congresso chileno se preparava para votar a aprovação geral da esperada nova lei de Educação Universitária, que estabelece a gratuidade universal sob certas condições de crescimento econômico.

Indicações ao emblemático projeto, parte de uma grande reforma impulsionada pelo governo de Michele Bachelet, foram rechaçadas na Comissão de Educação, o que impede sua discussão no plenário.

“Gostaria de votar a favor de uma reforma da educação superior, mas não nos peçam para votar a favor de um projeto como este, que me frustra e decepciona”, disse o deputado independente Giorgio Jackson, ex-dirigente estudantil.

O governo deverá agora negociar reformulações do projeto, que amplia a categoria de beneficiários da gratuidade quanto maior o crescimento econômico.

“A reforma não é suficiente, falta gratuidade e falta qualidade na educação pública. Falta muito e por isso temos que protestar”, comentou à AFP Rocío, uma estudante de Ciências Sociais que se juntou à manifestação quando passava em frente à sede do governo chileno.

“É uma desilusão” esta reforma, comentou Juan Pablo de la Torre, outro dos milhares de estudantes que compareceram à marcha.

Logo no início do protesto, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e os manifestantes responderam com pedras e pedaços de madeira, ameaçando o clima festivo e pacífico que permaneceu durante grande parte do tempo. Também houve outros confrontos com a polícia no fim da marcha.

“O balanço é positivo, a marcha se realizou sem maiores problemas excetuando-se alguns incidentes isolados”, disse o prefeito de Santiago, Felipe Alessandri.

A Confederação de Estudantes do Chile (Confech) estimou que 90.000 pessoas tenham comparecido ao protesto, enquanto a Polícia informou terem sido 35.000, contabilizando, também, 30 detidos e seis policiais feridos.

Futuro incerto

Os estudantes querem que impeçam a análise desta nova lei “porque é um projeto inicial pior”, falou a jornalistas o porta-voz estudantil, Patricio Medina.

Os discentes acusam o governo de Bachelet de ignorar suas opiniões e legislar, com maioria em ambas as Câmaras, sem levar em conta os movimentos sociais, fundamentais para impulsionar a reforma de um sistema educacional herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Este sistema facilitou a criação de universidades privadas e desmontou a educação pública em todos os seus níveis, ao reduzir drasticamente os recursos destinados a ela.

Para adiantar os benefícios desta nova lei, o governo de Bachelet optou em 2016 por estabelecer mediante a Lei de Orçamento Geral da Nação a gratuidade universitária para dezenas de milhares de estudantes chilenos, os primeiros a estudar sem custos em décadas.

Este ano, repetiu a fórmula, beneficiando 200.000 alunos, mas agora deve assegurar uma lei que garanta o benefício a longo prazo.

Mas, com a proximidade das eleições presidenciais, o movimento estudantil começou a pressionar pela concretização de uma educação pública, gratuita e de qualidade no Chile.

Neste contexto, o ex-presidente de direita Sebastián Piñera, cujo primeiro mandato viveu o renascimento do movimento estudantil, lidera as pesquisas com 25% das intenções de voto.

Confirmando seu caminho para a reeleição, Piñera – que teve sua afirmação de que a “educação é um bem de mercado” reprovada pelo movimento estudantil – assegurou que não apoia a gratuidade universal, e que, caso voltasse ao poder, optaria por um sistema de bolsas e créditos.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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