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Com Lula em liberdade, PT realiza seu primeiro Congresso da era Bolsonaro

Foto divulgada pelo Partido dos Trabalhadores mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) durante encontro com executiva nacional do PT em Salvador, 14 de novembro de 2019 afp_tickers

O Partido dos Trabalhadores (PT) inicia seu 7º Congresso em São Paulo nesta sexta-feira (22), com a presença de seu líder histórico, o ex-presidente Lula, recentemente libertado, para discutir sua resposta à onda conservadora que levou Jair Bolsonaro ao poder.

A reunião do partido cofundado por Lula em 1980 vai durar até domingo, quando será realizada a votação para designar sua nova liderança, atualmente ocupada pela deputada federal Gleisi Hoffmann, que tenta a reeleição.

Depois de vencer quatro eleições presidenciais consecutivas (2002, 2006, 2010, 2014), o PT entrou em uma fase de desgaste com o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e a operação ‘Lava Jato’, cujas investigações condenaram Lula a 8 anos e 10 meses de prisão.

Após 19 meses preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula, de 74 anos, foi libertado em 8 de novembro, graças a uma alteração pelo Supremo Tribunal Federal (STF) das regras de cumprimento de penas, o que lhe permitirá esgotar todos os recursos judiciais em liberdade.

Assim que saiu da prisão, o ex-presidente (2003-2010) atacou Bolsonaro e suas políticas pró-mercado e chamou o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro de “canalha”, acusando-o novamente de tê-lo condenado sem provas para tirá-lo da eleição presidencial do ano passado.

Ele também pediu a seus seguidores para recuperar o poder em 2022, dando a entender que está pronto para a briga, embora em entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal britânico The Guardian tenha insinuado que pode passar o bastão. “A Igreja católica, com 2 mil anosde experiência, aposenta os bispos aos 75”, afirmou.

Mas antes, o PT, que conseguiu elegar apenas 256 prefeitos em 2016 (menos da metade dos 630 eleitos em 2012) deve definir sua estratégia para o pleito municipal de 2020.

Entre as cidades perdidas está São Paulo e os municípios de seu cinturão industrial, onde Lula iniciou as greves do fim dos anos 70, durante a ditadura militar (1964-85).

Segundo o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, nos últimos anos no Brasil “se consolidou um antipetismo que será um obstáculo para conseguir uma posição de destaque em cidades como São Paulo”.

O PT conservou, apesar de tudo, o papel de maior partido na fragmentada Câmara dos Deputados com 54 assentos, de um total de 513. Em 2014, tinha conseguido eleger 69. Em 2010, a bancada tinha 88 legisladores.

O PT ainda tem seis senadores, de um total de 81, e governa quatro dos 27 estados brasileiros, todos no Nordeste, seu bastião histórico.

– Sem autocrítica –

Algumas das nove teses que serão submetidas à votação dos delegados do PT reforçam a necessidade de mudanças e uma reorientação de posições e de uma nova direção.

Couto, no entanto, vê pouco espaço para um discurso que busque ser ouvido além do eleitorado tradicional petista, fortemente ligado à figura de Lula.

“Há pessoas no partido que têm uma boa leitura do país, mas quem o controla, não”, disse Couto.

“Desde as eleições de 2018, o personalismo [no PT] se fortaleceu”, acrescentou.

O próprio Lula rejeitou qualquer perspectiva de autocrítica.

“Quem quiser que o PT faça autocrítica, faça a crítica você”, disse na semana passsada em Salvador, referindo-se a reclamos de outros partidos da esquerda.

No plano internacional, Lula denunciou na entrevista ao The Guardian o “golpe de Estado” contra o presidente boliviano Evo Morales, embora tenha admitido que este “cometeu um erro quando buscou um quarto mandato”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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