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Contreras morreu levando informações valiosas sobre os crimes da ditadura, denuncia governo chileno

(7 ago) Chilenos comemoram em Santiago a morte de Contreras afp_tickers

Manuel Contreras, ex-chefe da Polícia Política da ditadura de Augusto Pinochet, cujos restos foram cremados neste sábado, morreu levando informações valiosas sobre crimes ocorridos durante o regime militar, denunciou o governo chileno.

“Contreras morreu levando informações valiosas para se conhecer a verdade e fazer justiça em relação ao horror cometido pela ditadura”, aponta um comunicado do governo divulgado neste sábado.

Contreras, que morreu aos 86 anos, foi general do Exército, braço direito de Pinochet, e é considerado um dos maiores criminosos da história política chilena. Cumpria 529 anos de prisão por sua responsabilidade no assassinato, desaparecimento e tortura de milhares de pessoas na qualidade de diretor da Direção de Inteligência Nacional (Dina) entre 1973 e 1978, em plena ditadura.

“Ontem à noite, morreu um dos personagens mais obscuros da nossa história, responsável por crimes e violações graves dos direitos humanos em nosso país”, diz a nota do governo.

O corpo de Contreras, que estava internado desde 24 de setembro de 2014, foi entregue nesta madrugada pelo Hospital Militar à família do ex-general, segundo um comunicado do local.

Os restos do militar foram trasladados ao Cemitério Católico de Santiago, “onde foram cremados em uma cerimônia privada”, informou o porta-voz do local, Mauricio Newman.

O ex-general chileno estava impedido de receber honras militares em seu funeral, devido a um decreto assinado pelo Ministério da Defesa que proíbe estes atos no caso de militar condenado pela Justiça.

– Silêncio e cumplicidade –

À Dina, sob o comando de Contreras, é atribuída a maioria dos 3.200 desaparecimentos e mortes ocorridos durante a ditadura Pinochet (1973-1990). Contreras nunca admitiu os crimes, tampouco deu informações sobre os milhares de chilenos desaparecidos e torturados ou revelou o nome dos responsáveis por estes fatos.

“É paradoxal que a família de Contreras conheça o paradeiro de seus restos e que o ex-chefe da Dina tenha negado que outras famílias conhecessem o paradeiro dos seus”, criticou o subsecretário do Interior, Mahmud Aleuy.

“O que fica em evidência é a impunidade com que um sujeito como Manuel Contreras morre com a verdade, sem ter colaborado para que ela fosse revelada. Ele levou informações de grande importância”, disse à AFP Lorena Pizarro, presidente do Grupo de Familiares de Presos Desaparecidos (AFDD).

Após 25 anos do fim da ditadura, muitos casos de violação dos direitos humanos ainda não foram solucionados pela Justiça, tampouco conseguiu-se descobrir o paradeiro de desaparecidos, antes o sigilo mantido dentro das forças militares sobre estes fatos, acusam órgãos de defesa dos direitos humanos.

“Contreras e muitos outros sabem a verdade sobre o extermínio e a prática de desaparecimento forçado. O que ocorreu aqui é que as Forças Armadas nunca foram limpas destes criminosos, e, até hoje, existe cumplicidade”, afirmou Lorena.

A morte de Contreras foi comemorada durante a madrugada por centenas de chilenos em frente ao Hospital Militar e no centro de Santiago, mas lamentou-se que ele não tenha sido degradado.

Por conta disso, um grupo de defensores dos direitos humanos e de parentes de desaparecidos pediu em carta ao comandante em chefe do Exército, Humberto Oviedo, que Contreras seja degradado após a sua morte.

O documento também exige o fechamento da prisão Punta Peuco, localizada em Santiago, onde Contreras cumpria pena com outros 50 militares reformados e agentes de inteligência da ditadura, e contava com regalias como calefação, acesso à internet e telefone, condições diferentes das dos demais centros penitenciários.

msa/lb/lb

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