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Corpos da voo malaio são recolhidos sob supervisão dos separatistas

Equipes de socorro recolhem os corpos do passageiro do Boeing 777 que caiu na zona de conflito do leste da Ucrânia afp_tickers

O odor da morte é quase insuportável na zona de impacto do avião da Malaysia Airlines, onde as equipes de resgate tentam recuperar os restos dos 298 passageiros da Malaysia Airlines que morreram na tragédia.

Os uniformes azuis dos socorristas contrastam com o amarelo dos campos de trigo de Grabove, seus gestos são lentos para colocar suas luvas ou carregar corpos.

Trabalhando durante todo o sábado, na zona de impacato do avião malaio, 50 km a leste de Donetsk, os equipes de socorro economizam suas palavras, enquanto detonações próximas são ouvidas.

A linha de frente entre os separatistas pró-russos e as forças ucranianas fica a poucos quilômetros e apesar, da tragédia aérea, não há sinais de trégua.

Os olhos se concentram em pequenos panos brancos amarrados a varas de madeira, plantadas um dia antes e único indicador da presença de corpos dispersos em meio ao trigo.

Os corpos, alguns já enegrecidos e inchados após mais de 36 horas ao ar livre, são, então, colocados em grandes sacos mortuários pretos e transportados em macas antes de serem reunidos na beira da estrada.

O destino previsto pelos rebeldes: o necrotério de Donetsk. De acordo com os rebeldes pró-russos, 27 corpos encontrados a alguns quilômetros de distância, perto de outra aldeia, já foram transportados para o necrotério da principal cidade da região, nas mãos de rebeldes separatistas.

Dois dias após a queda do voo da Malaysia Airlines, provavelmente causada pelo disparo de um míssil terra-ar, a área é fortemente vigiada e totalmente interditada à imprensa, que só tem acesso aos primeiros metros do local que se estende por quilômetros.

Tensão com a imprensa

Dezenas de rebeldes pró-russos armados bloqueiam a pequena estrada que atravessa a área onde os destroços do avião caíram e a tensão é alta, com dezenas de jornalistas.

“Nós protegemos a zona porque os especialistas estão trabalhando. Isso é normal não ter acesso a esses locais”, diz o homem que se apresenta como o comandante rebelde do batalhão responsável pela segurança do local, sem dar o seu sobrenome.

Poucos minutos depois, exasperado com as câmeras que querem filmar as buscas no campo, ele puxa a manga da camisa e dispara para o ar no meio de um grupo de jornalistas.

Por volta das 13h00, quando a coluna de veículos da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) chegou ao local, a tensão aumenta: os rebeldes posicionam um veículo no meio da estrada e trinta homens armados vão para o campo.

Após negociações, os observadores são autorizados a entrar na área. “Vocês têm tendas refrigeradas?” pergunta um observador a uma das equipes de resgate em meio a homens armados, cada vez mais numerosos. O homem balança a cabeça em negação.

A poucos metros de distância, malas espalhadas, livros, jogos para crianças, passaportes e um odor quase insuportável.

Uma hora e meia depois, os observadores retornam sem ter tido acesso a toda a área, e principalmente o local da queda. “Tivemos a oportunidade de conversar com líderes, habitantes da área e pessoas que recuperam os corpos”, comenta Alexander Hug, supervisor da missão na Ucrânia.

Pouco depois de sua partida, dois ônibus descarregam cinquenta passageiros: enfermeiras do hospital de Chakhtarsk e mineiros, com suas roupas de trabalho, capacete vermelho na cabeça e rosto ainda coberto de carvão.

Genia, de 21 anos, arrasta os pés em meio a seus companheiros: “Esta é a segunda vez que venho aqui, mas eu odeio isso. Ontem vieram nos buscar na mina, mas que horror todas essas partes do corpos em decomposição”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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