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Dilma acusa oposição de desestabilizá-la e luta por seu mandato no Senado

A presidente Dilma Rousseff, em Brasília, no dia 19 de abril de 2016 afp_tickers

O pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff foi lido nesta terça-feira no Senado, dando início às deliberações que poderiam terminar com seu mandato em meados de maio.

À noite, os senadores definiram um possível cronograma de trabalho que prevê que a votação inicial no plenário deverá acontecer por volta do dia 11 de maio. Na ocasião, o Senado vai definir se Dilma será acusada formalmente ou se o caso será arquivado definitivamente.

A dinâmica política parece estar contra o governo, que, no domingo, foi derrotado categoricamente na Câmara dos Deputados, que aprovou o pedido de impeachment por 25 votos a mais que o mínimo necessário (367 votos a favor e 137 contra).

Caso o Senado ratifique a decisão dos deputados, Dilma perderá temporariamente a presidência por até 180 dias, à espera de uma sentença definitiva e será substituída pelo vice-presidente Michel Temer, do PMDB, a quem acusa de ser um dos líderes da “conspiração” que procura derrubá-la através de “um golpe de Estado”.

Na sexta-feira, os partidos designarão os 21 senadores que integrarão a comissão que analisará a acusação, e entre segunda-feira e quarta-feira da semana que vem começarão os trabalhos até a votação para admitir ou não o pedido.

“Uma aventura golpista”

A presidente Dilma Rousseff acusou a oposição, nesta terça-feira, de tentar desestabilizá-la desde que foi reeleita em 2014 e chamou de “aventura golpista” o governo que seu vice-presidente prepara para substituí-la no caso de ser destituída pelo Senado.

“Este meu segundo mandato tem o signo da desestabilização política (…) A aventura golpista levou a uma situação que nós não vivíamos no Brasil, de raiva, de ódio, de perseguição”, afirmou ante correspondentes estrangeiros.

A primeira mulher a assumir a Presidência do Brasil denuncia ser vítima de um complô que não a deixou governar depois de vencer por uma margem de apenas 3,2% um segundo mandato e afirmou que as denúncias sobre manipulação das contas públicas são “uma fraude política”.

“Isso não é impeachment. É uma tentativa de eleição indireta de um grupo que de outra forma não teria acesso pelo único meio justificável (…) Isto não trará estabilidade política ao país. Por que não trará estabilidade política ao país? Porque rompe a base da democracia”, afirmou.

Durante seu discurso, Dilma repassou a saga política que a deixou na atual situação, começando com o pedido da oposição de recontagem dos votos depois das eleições, até uma série de derrotas que seu programa de governo sofreu no Congresso ano passado, todas iniciativas que, segundo ela, buscavam tirar o Brasil da recessão econômica.

A presidente também destacou que não existe qualquer investigação por corrupção contra ela, em um momento em que muitos políticos são denunciados no escândalo de corrupção na Petrobras.

A conspiração

Apontado pela presidente como um dos capitães da “conspiração” que busca acabar com o ciclo do Partido dos Trabalhadores no poder, Temer é um advogado discreto, que costuma agir nos bastidores.

Nesta terça-feira, o vice disse esperar “silenciosa e respeitosamente” a decisão do Senado que poderia soltar em suas mãos a presidência do país.

Dilma indicou que Temer e seus assessores “estão vendendo terreno na Lua” ao difundir detalhes de seu eventual programa de governo.

A imprensa brasileira destacou, nesta terça-feira, que o vice-presidente já estaria organizando seu gabinete.

A presidente também não poupou alfinetadas contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do mesmo partido de Temer, a quem responsabiliza de haver aceitado o pedido do julgamento de destituição por “vingança explícita” depois que o PT decidiu apoiar uma investigação contra ele no Comitê de Ética desta casa.

Cunha se colocou na ponta da lança da oposição e, na segunda-feira, levou pessoalmente ao Senado a decisão da Câmara contra Dilma. Durante o ato, buscou pressionar o Senado para que avance com velocidade porque, neste momento, o país só teria “meio governo”.

A presidente voltou a mostrar-se desafiadora e disse que resistirá até o final. “Lutei contra a ditadura e agora luto na democracia”, declarou.

Agora, o Senado toma a palavra e, segundo as sondagens da imprensa, a oposição tem os votos para tirá-la do poder e submetê-la a julgamento.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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