Eleições argentinas rumo à polarização entre Macri e oposição peronista
O processo eleitoral na Argentina se encaminha para a polarização entre a coalizão opositora do kirchnerismo e outras forças do peronismo que enfrentarão a aliança ampliada que tenta a reeleição do presidente liberal Mauricio Macri em outubro.
Nesta quarta-feira (12) vence o prazo para a inscrição de partidos e alianças, e Frente de Todos foi o nome escolhido para a coalizão entre o grupo da ex-presidente Cristina Kirchner e a Frente Renovadora, do centrista Sergio Massa, ex-chefe de gabinete da peronista, com quem rompeu e agora volta a se aliar.
Macri causou impacto há 24 horas, ao escolher como companheiro de chapa um peronista, o senador Miguel Ángel Pichetto, em uma jogada que implicou ampliar o partido governista Cambiemos (Mudemos), que passará a ser chamado de Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança).
"Macri surpreendeu. Pichetto não vai agregar, nem tirar votos dele. Mas tem muita experiência na política e capacidade de diálogo com governadores e legisladores. É um homem para a governabilidade sobretudo para depois das eleições se a situação vencer", disse à AFP o analista e consultor Ricardo Rouvier.
A reação dos mercados à chapa Macri-Pichetto foi favorável pelo segundo dia seguido, com uma recuperação do índice principal de 6,22%, após fechar em alta de 5,02% na terça.
- "Corrida de dois cavalos" -
A ação de Macri foi a contrapartida da surpreendente decisão de Kirchner em 18 de maio, quando se lançou como candidata a vice e colocou na cabeça da chapa seu ex-chefe de gabinete Alberto Fernández.
Desta forma, ela delegou o posto natural da candidatura presidencial a um nome mais moderado e de diálogo.
"As eleições viraram uma corrida de apenas dois cavalos, entre Macri e Fernández", destacou nesta quarta-feira a consultoria Eurasia Group em um relatório.
E a corrida até o momento parece cabeça a cabeça, com Fernández somando 35,2% das intenções de voto contra 34,9% para Macri, segundo um estudo recente da consultoria Management & Fit com 2.000 pessoas.
Coincidentemente, o analista político Sergio Berensztein afirmou que "as duas grandes coalizões estão se preparando para disputar o poder".
O terceiro na disputa, Roberto Lavagna, outro peronista candidato à Presidência, tem de 6% a 8% das intenções de voto.
Ex-ministro da Economia, Lavagna é o pai da reestruturação de 76% da dívida em default em 2006. Se apresentará em aliança com socialistas regionais e dissidentes do peronismo. Seu candidato a vice é um peronista liberal, o governador de Salta (norte), Juan Manuel Urtubey.
- Prudência e moderação -
A maioria dos observadores coincide em que predomina a prudência no ambiente político devido à crise econômica que castiga o país com recessão, inflação, desemprego e endividamento.
"À margem das candidaturas, há uma inclinação na política ao pragmatismo, à moderação e ao centro. Alberto Fernández é o mais moderado que Cristina poderia mostrar", comentou Berensztein.
Na aliança macrista participam com forte presença territorial em cada distrito a social-democrata União Cívica Radical (UCR). "É preciso reconhecer o aporte dos radicais que pediram uma abertura da coalizão e incorporar peronistas", acrescentou o analista.
"Os assessores eleitorais de Macri sempre pensaram que devem atrair os votos dos anti-peronistas. Neste sentido, (a candidatura de Pichetto) é um reconhecimento claro de como é difícil o panorama eleitoral, assim como a preocupação crescente de que Alberto Fernández tenha um resultado muito bom nas primárias e se situe perto de vencer no primeiro turno", destacou o Eurasia Group.
O primeiro turno das eleições será realizado em 11 de agosto, com as primárias abertas e obrigatórias, meramente testemunhais, pois quase todos os candidatos já têm o aval de seus partidos e alianças.
O primeiro turno está previsto para 27 de outubro, quando também será renovada a metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Um eventual segundo turno ocorrerá em 24 de novembro.