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Eleições no México reduzem ambições de López Obrador e fortalecem oposição

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, mostra os resultados das eleições de meio de mandato do domingo, 6 de junho de 2021, no Palácio Nacional da Cidade do México, em 7 de junho de 2021 afp_tickers

A “transformação” do México prometida pelo presidente Andrés Manuel López Obrador pode estagnar após as eleições deste domingo, que reduziram sua poderosa maioria na Câmara dos Deputados e fortaleceram a oposição antes das presidenciais de 2024.

O Morena, partido de esquerda do presidente, perderá a maioria de 253 deputados que detém sozinho na Câmara de 500 legisladores e dependerá dos votos de seus aliados para somar entre 265 e 298 assentos, segundo a projeção oficial.

Além disso, a coalizão governista ficará sem a “maioria qualificada” de dois terços dos assentos -necessários para a realização das reformas constitucionais-, que atualmente detém com 333 assentos.

López Obrador “não vai conseguir fazer as mudanças constitucionais que deseja com o objetivo de concentrar ainda mais poder”, opinou Pablo Majluf, analista e crítico da chamada “Quarta Transformação”, como é conhecido o projeto presidencial.

Sem maioria qualificada, os objetivos da cruzada anti-neoliberal do presidente esquerdista estão quase cancelados, como a intenção de devolver o controle do setor energético ao Estado, na tentativa de revogar as leis que abriram as portas às empresas privadas em 2014.

Também inviabiliza seu projeto – anunciado em abril – de modificar ou eliminar órgãos autônomos como o regulador de telecomunicações, o IFT, ou o instituto de acesso à informação, o Inai, que critica com insistência, estimam especialistas.

– Oposição “fortalecida” –

Soma-se à perda de assentos uma oposição revitalizada.

Os tradicionais partidos Ação Nacional (PAN), Revolucionário Institucional (PRI) e Revolução Democrática, que formaram uma aliança, terão entre 181 e 213 assentos na Câmara dos Deputados.

O resultado supõe um salto inesperado dos 139 que somam atualmente, o que dificultou suas atuações legislativas.

“Sinto que é um alento que pode ajudar a encorajá-los a continuar trabalhando para 2024”, afirmou a analista Paula Sofia Vázquez.

No México não há reeleição presidencial, e AMLO, sigla pela qual o presidente é conhecido, disse que deixará a política no final do mandato.

Especialistas destacam o conservador PAN, que ocupará entre 106 e 117 assentos. Atualmente, tem 77.

Mas o revés parlamentar do Morena é compensado por seu crescimento nos governos estaduais, nos quais deverá eleger 11 governadores.

“Já podemos dizer que o Morena é o único partido político com presença nacional”, garantiu Vázquez.

Isso significa um fortalecimento do partido para as eleições presidenciais, tanto pelo maior controle territorial como pelo orçamento que o governo nacional concede a estas entidades.

“Geralmente são estes (os governadores) que mobilizam o voto localmente e têm dinheiro que vem da federação”, lembrou Majluf.

– Forte revés na capital –

Mas o sólido crescimento nacional não esconde a amarga derrota em várias prefeituras da Cidade do México, “um bastião lopezobradorista” até as eleições de domingo, acrescenta o analista.

Segundo dados preliminares, o Morena teria perdido seis das 12 prefeituras que governou, algo que Vázquez atribui a um “voto punitivo” às políticas de AMLO, como a estratégia de combate à covid-19 e a austeridade.

“O voto punitivo pertence à classe média e média baixa, que é aquela que já tinha um determinado nível (econômico) e viu-se em perigo ou até mesmo perdeu com a pandemia”, analisou.

Embora a epidemia esteja diminuindo há mais de 20 semanas e a capital tenha quase normalizado seu ritmo de vida, foi durante meses o epicentro do vírus no país, com mais de 34.281 mortes acumuladas, 15% do total nacional.

O limitado apoio econômico do governo federal aos que perderam negócios e empregos teria se somado ao impacto das restrições de gastos no início do governo, afirma o analista.

A Cidade do México concentra grande parte da burocracia e organizações civis afetadas pelos cortes orçamentários e muito criticadas pelo presidente que as acusa de serem privilegiadas em detrimento do erário público.

“Eles são cidadãos e famílias que foram pessoalmente feridos pelo presidente”, concluiu Vázquez.

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