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Especialistas debatem futuro da democracia na América Latina

Foto tirada em 1° de abril de 2018 mostra mulher votando durante as presidenciais da Costa Rica afp_tickers

Especialistas e ex-governantes da América Latina se encontram em Santiago, no Chile, para analisar o andamento da democracia na região, onde, assim como em outras partes do mundo, reina a desconfiança nas instituições e nos partidos políticos e está em jogo até a própria democracia.

Os resultados eleitorais no Brasil, com a eleição do ultraconservador Jair Bolsonaro, e no México, onde governará a partir de 1º de dezembro – pela primeira vez – a esquerda de Andrés Manuel López Obrador, mais que respostas aos problemas como desigualdade, insegurança, emprego e corrupção, são sintomas do cansaço e da desconfiança nas instituições, nos partidos políticos e na própria democracia, concordam os especialistas.

Hoje “o cidadão vota contra o que há e não a favor do que vem”, lembrou o ex-presidente chileno Ricardo Lagos, na abertura – na segunda-feira à noite – de um seminário organizado pelo Instituto para Democracia e Assistência Eleitoral (IDEA, em inglês), em colaboração com a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).

Durante três dias analisam “O estado da democracia na América Latina: 40 anos do início da terceira onda democrática”.

A região não está alheia às turbulências registradas na Europa, com o avanço da extrema direita e dos partidos antissistema, ou nos Estados Unidos, com a vitória de Donald Trump.

“Pela primeira temos os mesmos desafios que o mundo desenvolvido”, acrescentou o ex-presidente Lagos.

Na América Latina, sete em cada 10 cidadãos sentem insatisfação com o funcionamento da democracia.

Isso apesar dos avanços econômicos e sociais, da incorporação da mulher na vida produtiva, da redução da pobreza e da generalização da luta contra a corrupção graças à intolerância do povo ao papel da imprensa e da justiça, recordou Sergio Bitar, membro do conselho de assessores do IDEA Internacional.

A isso se soma a explosão migratória, a corrupção desenfreada e a persistência da violência interna, que faz da América Latina a região com as cifras mais altas de homicídios por habitante do mundo.

“A falta de segurança se transformou em uma ameaça à democracia ao despertar temores que, bem explorados, dão força aos movimentos autoritários”, lembra Bitar.

A crescente “desconfiança e a desconexão dos cidadãos com as instituições públicas” está enfraquecendo “o contrato social e as frágeis democracias”, declara a secretária-geral da Cepal, a mexicana Alicia Bárcenas.

Um dos principais desafios da política em tempos de incerteza é fazer bons governos. E isso se traduz em governar sem improvisar, com transparência, com e para um cidadãos cada vez mais exigentes e com maiorias políticas.

“As sociedades não admitem serem governadas como antes” e com instituições “totalmente defasadas”, lembra Daniel Zovato, diretor regional do IDEA para América Latina e Caribe.

A isso se soma a necessidade de introduzir mudanças na estrutura produtiva e levar em conta a sustentabilidade social e ambiental.

Caso contrário, “corremos o risco de que esse mal-estar na democracia se transforme em mal-estar contra a democracia”, alerta Zovato.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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