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Esquerdista Castillo e Keiko Fujimori se aproximam do segundo turno no Peru

O esquerdista professor Pedro Castillo caminha para garantir sua passagem às urnas no Peru, ao liderar com 17,49% o parcial das eleições de domingo no Peru afp_tickers

O professor de esquerda Pedro Castillo e a direitista Keiko Fujimori se aproximam nesta segunda-feira (12) de garantir suas vagas no decisivo segundo turno eleitoral no Peru, ao liderarem com, respectivamente, 18,83% e 12,21% dos votos as eleições de domingo, com quase 90% das cédulas apuradas.

Atrás deles estão dois candidatos de direita, o economista Hernando de Soto com 11,97% e o ultraconservador Rafael López Aliaga com 11,90%, segundo a última contagem do Escritório Nacional Eleitoral (ONPE).

Castillo e Fujimori devem se enfrentar na votação de 6 de junho e o vencedor assumiria o 28 de julho, dia em que o Peru comemora o bicentenário de sua independência.

O novo governante terá o desafio de superar a emergência de saúde, com números recordes de infecções e mortes nos últimos dias, uma profunda recessão econômica e crise política em um país de 33 milhões de pessoas.

A apuração da eleição para o Congresso unicameral de 130 membros avançava mais lentamente em paralelo e também era liderado pelos partidos de Pedro Castillo (Peru Livre) e Keiko Fujimori (Força Popular) com 16,6% e 12,6%, respectivamente.

– A luta apenas começou –

“A mudança e a luta estão apenas começando”, disse Castillo, de 51 anos, que saiu do anonimato em 2017 ao liderar milhares de colegas em uma prolongada greve nacional.

Esse professor de escola rural começou a aparecer com possibilidades nas pesquisas e a se destacar entre os 18 candidatos há apenas uma semana, após percorrer silenciosamente o país e apresentar bom desempenho nos debates eleitorais na televisão.

“Com Castillo, temos uma esquerda anti-establishment que é socialmente conservadora e rejeita a economia de livre mercado”, disse o cientista político Carlos Meléndez, que antecipa uma “votação complicada”, disse à AFP.

Muitos se surpreenderam com o resultado da votação, que busca encerrar um período turbulento de cinco anos no qual, desde 2018, assumiram quatro presidentes.

Em um país sem partidos políticos fortes e onde os políticos pesam mais que a ideologia, um total de 18 candidatos concorreram à presidência, sem favoritos.

“Infelizmente fomos surpreendidos por Castillo e estamos, portanto, preocupados, mas ao mesmo tempo, também, vendo que o país está realmente dividido”, disse à AFP Rumi Cahuana, de 38 anos, de Lima.

– Bolsa e dólar –

Na Bolsa de Lima, o Índice S&P/BVL Peru Geral, o mais representativo, caiu 2,29% nesta segunda-feira. Nove índices caíram e dois permaneceram estáveis, enquanto o dólar subiu ligeiramente para 3,64 soles (0,44% a mais que na sexta-feira), mas logo baixou para 3,62, um pouco mais baixo que o fechamento de sexta-feira.

Um chefe do setor bancário, que pediu para ter sua identidade preservada, disse à AFP que “o resultado do primeiro turno não está deixando uma reação negativa no mercado, como poderia ser previsto em princípio”.

A empresa de pesquisas Ipsos havia antecipado que os cédulas das regiões rurais restantes favoreceriam a filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori (1990-2000), embora De Soto estivesse em segundo lugar no início da votação.

Fujimori, que disputa a presidência pela terceira vez – perdeu para Ollanta Humala em 2011 e para Pedro Pablo Kuczynski em 2016 – diz ter “muita fé” na confirmação de sua passagem para o segundo turno.

Ele está sob o investigação do Ministério Público pelo escândalo da construtora Odebrecht, que afetou também quatro ex-presidentes peruanos.

O Ministério Público, que se prepara para levá-la a julgamento, anunciou em 11 de março que buscaria uma sentença de 30 anos de prisão para Keiko Fujimori pelos supostos crimes de “crime organizado, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça”.

Se ela ganhar a presidência, só poderá ser levada a julgamento quando seu mandato de cinco anos terminar.

– “Antivoto” –

Entre Castillo e Fujimori se prevê “um segundo turno polarizado, disse o diretor da Ipsos no Peru, Alfredo Torres.

“Ambos têm bastante antivotos. Há um sentimento anti-Fujimori em um setor da população e em outro há um sentimento anticomunista”.

“O anticomunismo se deve à terrível experiência com [a guerrilha maoísta de] Sendero Luminoso […] e, em certa medida, também se deve às evidências do fracasso do regime chavista na Venezuela”, disse Torres à AFP.

“No Peru há um milhão de imigrantes venezuelanos e isso é visto como um mau sinal pelos peruanos”, acrescentou.

Mas também haverá um confronto geográfico, segundo o Meléndez: “A eleição deixa uma divisão Lima/litoral norte contra o resto do país andino e rural”.

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