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Estudo sugere nova origem para aparecimento de água na Terra

Pedaço do meteorito Sahara 97096 (com cerca de 10 centímetros de comprimento), uma amostra de condrito enstatita afp_tickers

A água cobre 70% da superfície da Terra, mas como este elemento crucial para a vida como a conhecemos surgiu no nosso planeta é tema de um longo debate científico.

Uma equipe de cientistas franceses avançou mais um passo na solução deste quebra-cabeça nesta quinta-feira (27), ao reportar na revista científica Science ter identificado quais rochas espaciais podem ter sido responsáveis por sua origem e sugere que nosso planeta teve água desde a sua formação.

A cosmoquímica Laurette Piani, que conduziu o estudo, disse à AFP que as descobertas contrariam a ideia dominante de que a água foi trazida a um planeta originalmente seco por cometas ou asteroides.

Segundo modelos remotos de como o Sistema Solar se formou, os grandes discos de gás e poeira que giravam em torno do Sol e, eventualmente, formaram os planetas internos eram quentes demais para sustentar gelo.

Isto explicaria as condições estéreis encontradas em Mercúrio, Vênus e Marte, mas não nosso planeta azul, que tem vastos oceanos, uma atmosfera úmida e uma geologia bem hidratada.

A ideia mais comum é que a água foi trazida posteriormente por objetos extraterrestres e os principais suspeitos são os meteoritos conhecidos como condritos carbonáceos, ricos em minerais hidratados.

Mas o problema era que sua composição química não combina muito com as rochas do nosso planeta.

Os condritos carbonáceos também se formam nos confins do Sistema Solar, tornando-se menos propensos a ter bombardeado a jovem Terra.

– ‘Tijolos’ planetários –

Outros tipos de meteorito, denominados condritos enstatitas, são muito mais próximos de uma paridade química, contendo isótopos (tipos) similares de oxigênio, titânio e cálcio.

Isto indica que eles teriam sido os ‘tijolos’ que formaram a Terra e outros planetas internos do Sistema Solar.

No entanto, devido a que estas rochas se formaram perto do Sol, presumia-se que fossem muito secas para serem responsáveis pelos ricos reservatórios de água da Terra.

Para testar se isto de fato é verdade, Piani e seus colegas da Universidade de Lorraine usaram uma técnica denominada espectrômetro de massa para medir o hidrogênio contido em 13 condritos enstatitas.

Atualmente, as rochas são raras, compondo apenas 2% da coleção conhecida de meteoritos e é difícil encontrá-los em condições puras, sem contaminação.

Os cientistas descobriram que as rochas continham hidrogênio suficiente para abastecer a Terra com água equivalente a três vezes a massa de seus oceanos – e talvez muito mais.

Também mediram dois isótopos de hidrogênio porque a proporção relativa dos mesmos é muito diferente entre um e outro objeto celeste.

“Nós descobrimos que a composição isotópica do hidrogênio dos condritos enstatitas é similar à da água armazenada no manto terrestre”, disse Piani, que comparou o achado a uma paridade de DNA.

Descobriu-se que a composição isotópica dos oceanos é consistente com uma mistura de 95% de água de condritos enstatitas – uma prova extra de que foram responsáveis pela quantidade de água da Terra.

Os autores descobriram mais adiante de que os isótopos de nitrogênio dos condritos enstatitas são similares aos da Terra – e sugeriram que estas rochas também poderiam ser a fonte do componente mais abundante da nossa atmosfera.

Piani acrescentou que o estudo não exclui que tenha ocorrido uma adição posterior de água de outras fontes, como cometas, mas indica que os condritos enstatitas contribuíram significativamente para a formação do reservatório hídrico da Terra na época.

O trabalho “traz um elemento crucial e elegante para este quebra-cabeça”, escreveu Anne Peslier, cientista planetária da Nasa, em um editorial que acompanhou o estudo.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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