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Fernando Henrique lamenta atraso do Brasil em descriminalizar drogas

O ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso (C) durante debate sobre a política de drogas, no Rio de Janeiro, no dia 22 de abril de 2015 afp_tickers

O Brasil está atrasado na questão da descriminalização das drogas, disse nesta quarta-feira, no Rio, o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, durante mesa redonda da Open Society Foundation.

“Aqui as pessoas não são conservadoras, mas atrasadas. É tabu no Brasil discutir sobre drogas. Não tem sentido tratar o usuário como bandido. O contrabandista sim, tem que ser criminalizado”, declarou Fernando Henrique em uma mesa redonda internacional sobre as reformas em políticas antidrogas e seu impacto na América Latina.

Para o ex-presidente social-democrata (1995-2002), de 83 anos, membro da Comissão Mundial de Políticas sobre Drogas, é necessário ampliar o debate sobre a questão, bem como uma mudança cultural para mudar a lei e o comportamento da polícia, que essencialmente penaliza negros e pobres.

Ruth Dreifuss, ex-presidente da Suíça e presidente da Comissão Mundial de Políticas sobre Drogas, lembrou que até seus defensores consideram um fracasso a guerra contra as drogas lançada pelos Estados Unidos durante o governo de Richard Nixon, e que chegou a hora de seguir caminhos alternativos.

Segundo ela, nenhum continente sofreu de forma tão brutal os efeitos desta guerra quanto a América Latina.

“O que esperamos do debate mundial, previsto para 2016 em Nova York, é uma troca de bons procedimentos para mostrar o que tem sido feito para abandonar esta ideologia de ‘guerra contra as drogas’ e abrir caminhos para as reformas”, declarou.

“É necessária uma mudança fundamental voltada para políticas de saúde”, destacou.

Outros participantes da mesa redonda, organizada no Rio pela Open Society Foundation, do bilionário americano George Soros, disseram que os mercados das drogas estão hoje nas mãos de traficantes e criminosos e que são os países que devem regulamentar estes mercados, como ocorre, por exemplo, com o álcool.

“Os que ganham muito dinheiro com a proibição são os narcotraficantes, em detrimento dos agricultores”, afirmou o colombiano Daniel Mejía, diretor do Centro sobre Segurança e Drogas da Universidade dos Andes.

Dreifuss destacou “a diferença entre descriminalização e regulamentação” como no Uruguai e em vários estados dos norte-americanos.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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