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Fujimorismo perde hegemonia no fragmentado novo Congresso peruano

Presidente peruano Martin Vizcarra afp_tickers

Os peruanos definiram no domingo um novo e fragmentado Congresso, cujo controle passou do fujimorismo para forças que estariam dispostas a negociar com o presidente Martín Vizcarra, de acordo com os primeiros resultados oficiais.

O fujimorismo caminha, se confirmada a tendência, a perder a hegemonia que mantinha desde 2016, de acordo com o resultado parcial divulgado pelo órgão eleitoral sete horas após o fim da votação.

“É o colapso do fujimorismo, é uma queda muito profunda, um golpe muito forte”, declarou à AFP o analista Luis Benavente, diretor do instituto Vox Populi.

As eleições foram convocadas por Vizcarra em 30 de setembro, quando ele fechou o Congresso com o qual mantinha confrontos por suas ações contra a corrupção.

O órgão eleitoral não divulgou resultados a nível nacional, mas na Lima metropolitana, que elege quase um terço dos membros do Congresso unicameral (36 de 130), a apuração é liderada pelo Partido Morado, que declara ser de “centro-centro”, com 14,42% dos votos.

Em seguida aparecem o Podemos Peru (12,69%), partido liderado por um general da reserva antifujimorista de direita, e o Ação Popular (12,69%).

O Partido Popular Cristão (direita) figura em quarto lugar com 7,83%, à frente do partido Força Popular, liderado por Keiko Fujimori, com 7,33%.

Em Arequipa, maior região do sul peruano, que escolhe seis parlamentares, o fujimorismo está em último entres os oito partidos mais votados, assim como em Cusco, antiga capital inca, que define cinco parlamentares.

O percentual de atas processadas varia em cada região, o que dificulta qualquer projeção, mas em uma rápida apuração a nível nacional do instituto de pesquisas Ipsos, o fujimorismo aparece como a sexta força no novo Congresso, com 6,9%, perdendo o controle absoluto que conquistou em 2016 (com 36,3%).

“Não sabemos quantos congressistas obterão (os fujimoristas), mas as primeiras projeções indicam que seria um décimo de 2016”, disse o analista Fernando Rospigliosi.

Em 2016 o fujimorismo conquistou 73 cadeiras de 130, mas agora ficaria com menos de 20, de acordo com algumas projeções.

Nesse caso, o movimento será uma minoria em um Congresso fragmentado, dominado pelo partido Ação Popular e três outras formações de centros que provavelmente negociarão com Vizcarra, que não tem partido.

O popular presidente de centro-direita pediu “um relacionamento (entre Executivo e Legislativo) responsável, maduro, buscando consenso em benefício do Peru”, depois de votar na cidade de Moquegua, no sul, onde cresceu e da qual foi governador entre 2011 e 2014.

Força gravitacional desde 1990, o fujimorismo assumiu o controle absoluto do Congresso em 2016, mas sofreu vários contratempos ao tentar prejudicar Vizcarra, além dos problemas judiciais de Keiko, a quem a Justiça poderia enviar novamente à prisão preventiva na terça-feira, no âmbito do escândalo com a empreiteira brasileira Odebrecht.

O fechamento do Congresso decretado por Vizarra em 30 de setembro, com o qual procurou encerrar uma crise política diante de um choque de poder recorrente, não causou protestos como os que viviam em nações vizinhas, pois recebeu o apoio de 90% dos peruanos, de acordo com pesquisas.

Se a projeção do Ipsos for confirmada, Vizcarra terá o apoio Legislativo que precisa para suas reformas contra a corrupção.

“Pedimos ao novo Congresso que respeite a luta contra a corrupção”, demandou o procurador José Domingo Pérez, apelidado de “Superprocurador”, que investiga Keiko Fujimori e três ex-presidentes no caso Odebrecht.

Atingida pelo escândalo, Keiko Fujimori passou 13 meses em prisão preventiva, o que diminuiu sua popularidade depois de se candidatar à Presidência do Peru nas eleições de 2011 e 2016.

Também prejudicou a imagem de seu principal aliado, o partido socialdemocrata APRA, cujo líder, Alan García, duas vezes presidente do Peru (1985-1990 e 2006-2011), cometeu suicídio em abril passado, quando seria preso pelo mesmo escândalo.

Esse partido também foi punido nas urnas e corre o risco de ficar fora do Congresso.

– Apatia –

As eleições devem servir para encerrar uma crise política marcada por confrontos recorrentes entre o Executivo e o Legislativo, que levaram Vizcarra a fechar o Congresso unicameral e a convocar novas eleições parlamentares.

A oposição reagiu, denunciando um “golpe de Estado”, e deu posse à vice-presidente Mercedes Aráoz como “presidente encarregada”, mas ela renunciou no dia seguinte.

Além disso, a oposição recorreu ao Tribunal Constitucional, que validou a dissolução ao decidir que Vizcarra havia se ajustado aos preceitos da Magna Carta.

Nas eleições diretas, 130 parlamentares serão eleitos por apenas 16 meses, até 28 de julho de 2021, os cinco anos do Congresso eleito em 2016. Esse dia também encerra o período de Vizcarra, que era vice-presidente de Pedro Pablo Kuzcynski.

Quase 25 milhões de peruanos estavam registrados para votar, uma obrigação no país. Quem não comparece às urnas deve pagar uma multa equivalente a 25 dólares.

Vinte e um partidos tinham 2.331 candidatos no total, quase todos desconhecidos pelos cidadãos, incluindo pela primeira vez uma indígena transexual, Gahela Cari.

As próximas eleições gerais serão em abril de 2021, sem possibilidade de reeleição de Vizcarra, ou dos parlamentares que serão eleitos neste domingo.

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