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Governo e oposição da Nicarágua retomam diálogo

O cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes (D) e o chanceler, Denis Moncada, numa coletiva de imprensa no intervalo das negociaçõe entre o governo e a oposição afp_tickers

O governo de Daniel Ortega e a oposição da Nicarágua finalizaram nesta quinta-feira (28) o segundo dia de diálogos voltado para discutir as regras que vão vigorar na negociação da grave crise que sacode o país há dez meses, um dia depois da adoção de um “mapa do caminho” para as discussões.

“As negociações avançaram com a discussão em detalhe dos pontos ainda a acordar”, informou a opositora Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia (ACJD) em um comunicado, sem se aprofundar no que foi abordado.

Acrescentou que “a negociação não entrou em temas de fundo”, e se manteve em questões relativas à metodologia do diálogo.

O chefe da delegação do bloco opositor, Carlos Tünnerman, disse à imprensa que ao meio-dia de sexta-feira espera-se concluir as normas que vão reger as negociações, no terceiro dia de diálogo.

As conversas entre a delegação do governo, liderada pelo chanceler, Denis Moncada, e a Aliança, presidida pelo ex-diplomata Tünnermann, transcorrem a portas fechadas na sede do Instituto Centro-Americano de Administração de Empresas (INCAE), 15 km ao sul de Manágua.

A presença de observadores internacionais “segue sendo uma exigência” da aliança, declarou antes do início do encontro, deixando no ar que existem posições contrárias sobre esse ponto.

“Todas as negociações aprovadas passaram por processos totalmente privados”, argumentou Ortega em 21 de fevereiro quando anunciou a disposição de voltar à mesa de negociação com o bloco opositor, integrado por empresários, estudantes e organizações civis.

Sob essa premissa, o diálogo se celebra sem acesso da imprensa aos participantes e sem informação do conteúdo das negociações.

Ante à onda de críticas ao sigilo das reuniões, o bloco se comprometeu a tornar públicos todos os pontos da negociação assim que tiverem sido acordados.

A aproximação entre as partes ocorre oito meses depois da suspensão das primeiras negociações mediadas pela Igreja Católica nicaraguense, então conturbado por violentos protestos antigovernamentais, que Ortega atribuiu a uma tentativa de golpe de Estado.

Os protestos explodiram em 18 de abril contra uma reforma da Previdência Social, que evoluiu para um pedido de saída de Ortega pela repressão que atuou contra os manifestantes, que deixou 325 mortos, mais de 700 detidos e milhares de exilados.

Ortega, ex-guerrilheiro de 73 anos que governa desde 2007 ao lado da esposa e atual vice-presidente, Rosario Murillo, aceitou negociar em meio a uma profunda crise econômica e fortes pressões da OEA, dos Estados Unidos e da União Europeia.

– Diálogo complicado –

Ortega anunciou na semana passada a vontade de retomar o diálogo para restaurar “a paz e a segurança” na Nicarágua e “abrir uma nova via” de entendimento, após dez meses de crise política que deteriorou a economia.

Antes da instalação da mesa, o governo libertou cem dos mais de 700 opositores presos por participar dos protestos que estouraram em abril contra o governo de Ortega.

O secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, celebrou o gesto e afirmou que “o caminho da libertação dos presos políticos retira os obstáculos e nos leva a soluções institucionais e democráticas”.

Contudo, entre os ex-detidos não estava nenhum conhecido dirigente opositor.

A Unidade Nacional Azul e Branco, que agrupa os movimentos da oposição, exigiu nesta quinta através de um comunicado a libertação de todos os “presos políticos, a anulação dos processos e retorno com garantia de todos os exilados”.

A Aliança destacou também que “continua apostando por uma saída pela via pacífica”, através da antecipação das eleições de 2021 e iniciar um processo de democratização.

Ortega, contudo, descartou a possibilidade de realizar o pleito antes da época estabelecida. Durante uma visita da Organização de Estados Americanos (OEA) a Manágua neste mês, o mandatário se comprometeu a reformar a lei eleitoral para as presidenciais de 2021.

O governo pretende que o diálogo contribua para “consolidar a paz e melhorar as condições” do país, que no ano passado registrou uma recessão de 4% após uma década de sólido crescimento econômico.

Governo e oposição voltaram a se encontrar nove meses depois de uma negociação fracassada mediada pelo episcopado, durante a violenta repressão dos protestos antigovernamentais, nos quais morreram pelo menos 325 pessoas, 700 foram detidas e milhares se exilaram em países vizinhos.

Ortega, de 73 anos, alegou naquela rodada de diálogo que os opositores e a Igreja pretendiam tirá-lo do governo ao propor uma agenda de reformas, que incluía antecipação das eleições.

“Ortega está encarando uma possibilidade concreta de total isolamento internacional”, comentou a ex-guerrilheira e dissidente sandinista Dora María Téllez.

“Existem sanções severas por parte dos Estados Unidos, ameaças de sanções iminentes da União Europeia, tem a carta democrática da OEA para pressioná-lo e não consegue dinheiro. Está asfixiado”, advertiu.

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