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Guayaquil e seus erros no enfrentamento da pandemia de coronavírus

Homem sentado no bairro Nigeria, no sul de Guayaquil, Equador, em 11 de abril de 2020, durante a epidemia de coronavírus. afp_tickers

Guayaquil, mais do que qualquer outra cidade equatoriana, paga por seus erros ao lidar com a pandemia de coronavírus.

A capital econômica do país de 17,5 milhões de habitantes assistiu a imagens dantescas nos últimos dias.

Corpos foram vistos nas ruas embrulhados em sacos plásticos. O precário sistema de saúde entrou em colapso, com muitos profissionais infectados.

Longas filas de veículos com caixões de papelão se formaram nos portões dos cemitérios.

E o pior ainda está por vir. As autoridades esperam até 3.500 mortos durante a pandemia.

Segundo dados oficiais, a província de Guayas e sua capital, Guayaquil, concentram 73% dos quase 7.300 infectados, incluindo 315 mortos, desde 29 de fevereiro.

1) Gênese

Com 2,7 milhões de habitantes, a portuária Guayaquil apareceu antes da emergência como um ponto vulnerável.

O primeiro caso foi o de uma mulher que voltou da Espanha. Quase meio milhão de equatorianos vivem naquele país e na Itália. Muitos migraram devido à crise financeira do final dos anos 90.

O fluxo de viagens é intenso, principalmente em fevereiro e março, época de férias escolares.

2) Desleixo

O Equador “reagiu tarde” às advertências sobre a disseminação do vírus pelo mundo, disse Daniel Simancas, epidemiologista da Universidade Tecnológica Equinocial (UTE).

Houve também atraso na compra de testes e a vigilância epidemiológica foi deficiente.

Erros que tinham como “terreno fértil” as condições sociais de Guayaquil.

3) Desigualdade

Embora Guayas seja o estado que mais contribui para a produção do país (27%), sua capital registrou 11,2% de pobreza em dezembro, segundo dados oficiais.

O desemprego e o subemprego estão em torno de 20% na cidade, o que fez muitas famílias temerem a fome com o distanciamento social.

“As pessoas querem sair para produzir e isso se deve à mesma estrutura produtiva de emprego informal que existe em Guayaquil”, disse à AFP o economista Alberto Acosta Burneo, da consultoria Spurrier.

O sociólogo de Guayaquil, Carlos Tutivén, da Universidade Casa Grande, também destaca o “modelo de desenvolvimento econômico” de Guayaquil.

No porto, consolidou-se a maior resistência à esquerda que governou o país por 2007 a 2017. Mas nenhuma fórmula “foi poderosa o suficiente para resolver a desigualdade” em uma cidade onde as mansões da Ilha Mocolí convivem com favelas sem serviços básicos.

4) Desobediência

Quase 3.300 pessoas violaram o toque de recolher de 15 horas por dia imposto pelo governo em Guayas.

Mesmo com os militares nas ruas, é comum ver vendedores ambulantes, a maioria sem máscaras e longas filas do lado de fora das lojas, sem o distanciamento recomendado.

O sociólogo Tutivén observa que “trancar-se em uma casa com quatro metros quadrados, com quatro, cinco, seis pessoas, pode ser sufocante”, aponta ele em diálogo com a AFP.

Simancas ressalta que “muitas famílias com muito dinheiro também desrespeitaram as medidas de quarentena”.

5) Mea culpa

Sob fortes críticas, os governos federal e locais reconheceram as graves falhas no tratamento da crise.

A prefeita Cynthia Viteri, infectada pelo vírus, disse que “todos” são culpados.

“Vemos nossos doentes perderem a vida todos os dias … grávidas não têm hospital para dar à luz e 100 pessoas morreram por falta de diálise “.

“Não só a Saúde do país entrou em colapso, mas também as funerárias e necrotérios”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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