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Hospitais do Amazonas sob pressão constante por segunda onda da pandemia

Enfermeiros internam paciente na emergência do hospital de Manacapuru, no estado do Amazonas, em 20 de janeiro de 2021 afp_tickers

Hospitais do interior do estado do Amazonas colapsam frente à segunda onda da pandemia da covid-19, sem unidades de terapia intensiva, além de afetados, como em Manaus, pelo esgotamento das reservas de oxigênio.

“Foi muito rápido, quando a gente olhou estava tudo cheio, a nossa estrutura não suporta”, relata um funcionário do Hospital Hilda Freire, em Iranduba, município a 40 km de Manaus.

A cidade, de cerca de 50 mil habitantes, registrou 15 mortes pela covid-19 entre segunda e quarta-feira, um número maior do que nos últimos quatro meses da pandemia.

Chega-se a Iranduba por meio de uma estrada com trechos em obra, que viram lama com as chuvas amazônicas.

Esse é o trajeto que os pacientes mais graves têm que percorrer até Manaus, única das 63 cidades do estado com unidades de terapia intensiva.

Em Hilda Freire, quase todos os 30 leitos estão ocupados. A reserva de oxigênio, que durava duas semanas, agora não dá para um dia.

“Tivemos algumas perdas”, conta um funcionário, que preferiu não se identificar, coberto por roupas brancas de proteção.

“Ficamos muito abalados porque não tínhamos como socorrê-los”, acrescenta, relatando mortes por asfixia que prefere não listar.

“Assim que descarregam o oxigênio, ficamos preocupados com até onde chegaremos no dia seguinte. É uma tensão constante”, afirma outro funcionário.

Apesar do abastecimento ter aumentado nos últimos dias por causa de embarques de outros estados e uma doação da Venezuela, o Amazonas vive uma explosão de casos, que podem estar relacionados a uma variante do vírus, mais contagiosa, detectada na região.

A emergência sanitária multiplicou os desafios logísticos em uma área conhecida por suas grandes florestas e seus extensos rios.

Os parentes dos pacientes procuram soluções por conta própria. Uma voluntária deixa um cilindro para uma paciente de 86 anos que está há duas semanas hospitalizada.

“Ela ficou três ou quatro horas sem oxigênio, aí a família entrou em desespero e nos pediu auxílio”, conta.

– “Muitos morreram” –

Cerca de 85 km a oeste ao longo da AM-070, atravessada por rios e selva, chega-se a Manacapuru, município com mortalidade de 223/100.000 habitantes, a mais alta do estado do Amazonas, que por sua vez é segundo dos 27 estados brasileiros com maior proporção de óbitos (159/100.000). A nível nacional, o Brasil beira os 213.000 mortos pela covid-19.

No pronto-socorro do hospital Lázaro Reis, único nesta cidade de 100 mil habitantes, os pacientes vão e vêm sem parar e o pessoal médico vai de um lugar para outro com placas e laudos nas mãos.

As paredes e as grades de emergência dão sinais de pouca manutenção. No final do corredor estreito, a sala parece precária. Um paciente em uma maca é conectado diretamente a um cilindro de oxigênio.

“Não sei te dizer quantos morreram, mas foram muitos”, afirma um médico quando questionado sobre o dia em que o oxigênio acabou.

O barulho de uma sirene incomoda as pessoas. “Outra ambulância!”, alguém comenta.

“Não, é oxigênio”, responde um homem que controla o acesso à rua do hospital com cones vermelhos. Ele rapidamente abre caminho para o comboio de quatro caminhões escoltados, carregados com cilindros verdes.

Eles estacionam no hospital de campanha improvisado em uma policlínica em diagonal ao Lázaro Reis.

Uma dúzia de homens cuida apenas do fluxo de oxigênio: cilindros cheios de um lado, cilindros vazios do outro.

“Dá uma alegria quando chegam”, comenta o homem que mantém a passagem reservada para as emergências. “A gente nunca sabe se virão de novo”, acrescenta.

Um funcionário administrativo do hospital diz que há uma semana não tem um minuto de calma. Faz parte da rotina desses funcionários disputar a prioridade do abastecimento para garantir os tempos das recargas.

O atraso na entrega, segundo autoridades, resultou na morte de sete pessoas na terça-feira em Coarí, município próximo a Manacapuru.

Enquanto levanta os cilindros vazios para o caminhão que voltará a Manaus para se reabastecer, o funcionário do hospital de campanha olha para o céu, com as mãos unidas como para orar, e implora: “Que o oxigênio nunca pare!”.

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