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Indígenas fecham estradas no Equador no segundo dia de protestos

Policiais equatorianos desmontam barricada em 27 de outubro de 2021 em Otón, província de Pichincha, que indígenas e camponeses montaram para bloquear o tráfego em protesto contra o aumento de preços dos combustíveis afp_tickers

Indígenas e camponeses bloquearam estradas em seis das 24 províncias do Equador nesta quarta-feira (27), no segundo dia de protestos contra a política econômica do governo, que se realizam em meio a um estado de exceção pela violência do narcotráfico.

A poderosa e opositora Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) decidiu estender o protesto, impulsionado principalmente pelo aumento de 90% nos preços dos combustíveis desde 2020 e que tinha começado na terça-feira. O primeiro dia terminou com um balanço de 37 detidos, cinco policiais feridos e dois militares retidos por manifestantes, que se encontravam em bom estado de saúde, segundo o governo.

Um jornalista e líder indígena morreu acidentalmente nesta quarta-feira durante a cobertura dos protestos na cidade andina de Cotopaxi (sul de Quito), informou a ONG Fundamedios, que também registrou oito agressões contra a imprensa durante as manifestações.

A Conaie, que participou de revoltas sociais que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005, montou bloqueios com pedras, terra, troncos e pneus em chamas em vários pontos da rodovia Pan-Americana, na saída norte de Quito, segundo jornalistas da AFP. A via vai até a fronteira com a Colômbia.

Militares e policiais patrulharam as vias, retirando os escombros e restabelecendo a passagem de veículo como na localidade de Otón, onde cerca de 20 caminhões esperavam para poder avançar para o norte, entre eles o de Roberto Haro, que transporta uma carga de fraldas descartáveis para Pasto, do lado colombiano.

“As fraldas deviam estar em Pasto ontem à noite. (Os manifestantes) não percebem como quem faz transporte de carga perde”, disse Haro à AFP, queixando-se também de que “o diesel está caro”.

– “Vamos manter o controle” –

O Serviço Integrado de Segurança ECU911 também relatou bloqueios de estradas nas províncias de Imbabura (norte de Quito), Bolívar e Chimborazo (as duas ao sul) e na amazônica Pastaza (sudeste).

“O governo fez besteira ao aumentar a gasolina a cada instante”, disse Dennis Viteri, operário têxtil de 28 anos, em outro ponto dos protestos.

Além dos bloqueios, na terça-feira houve uma manifestação de indígenas, trabalhadores, professores e estudantes em Quito, na qual foram registrados confrontos com a polícia perto da sede do Executivo.

“Ontem, as Forças Armadas e a Polícia garantiram o controle e a ordem, respeitando aquelas manifestações sem violência. Hoje, vão fazer o mesmo e se amanhã o desafio persistir, vamos manter o controle”, disse o presidente conservador Guillermo Lasso nesta quarta-feira durante uma cerimônia militar em Quito.

Os protestos aconteceram em meio a um estado de exceção por 60 dias decretado por Lasso em 18 de outubro para combater a criminalidade ligada ao narcotráfico, com um aumento de homicídios e massacres carcerários que deixaram mais de 2.000 mortos no país este ano.

O governo, que também enfrenta uma crise econômica agravada pela pandemia, enviou militares às ruas para apoiarem os policiais no combate à violência, sem suspender direitos como os de protesto e reunião.

– “De mal a pior” –

O ex-presidente Lenín Moreno (2007-2021) eliminou em 2019 subsídios milionários aos combustíveis, uma medida vinculada a acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para receber empréstimos.

A Conaie liderou, então, protestos violentos contra essa medida, que deixaram 11 mortos e obrigaram Moreno a revogá-la. Em maio de 2020, ele estabeleceu reajustes mensais dos preços de acordo com a cotação do petróleo, que está em alta.

Lasso – que assumiu em maio de 2021 – manteve esse mecanismo até que, no último fim de semana, decretou aumentos de até 12% nos combustíveis, aumentando o diesel de US$ 1,69 para US$ 1,90 dólar e a gasolina comum de US$ 2,50 para US$ 2,55.

“Pedimos ao governo que deixe os combustíveis em preços justos. Não percebem que estão prejudicando o povo”, disse Juan Chusig, um desempregado que arrastava galhos para reforçar uma barricada na saída norte de Quito.

A Conaie exige uma redução de preços para US$ 1,50 o galão de diesel e para US$ 2,10 o de gasolina.

“Vamos continuar, não vamos parar porque todo o povo está se mobilizando (…) Todos estamos unidos porque vamos de mal a pior”, disse Patricio Guamán, um artesão de 46 anos, que protestou no bairro San Francisco de Oyacoto, enquanto seus vizinhos acendiam fogueiras com árvores cortadas.

Os indígenas representam 7,4% dos 17,7 milhões de habitantes, segundo o último censo de 2020, mas dirigentes de povos originários sustentam que são 25%.

O Equador registra 47% de pobreza e miséria, 28% de subemprego e desemprego, uma dívida externa de quase 46 bilhões de dólares (45% do PIB) e um déficit fiscal de 5% do PIB.

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