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Israel deseja prorrogar trégua e Hamas denuncia falta de acordo

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, é visto em 6 de agosto de 2014 afp_tickers

Israel está disposto a prorrogar o cessar-fogo na Faixa de Gaza sem condições e sem limite de tempo, além de sua expiração prevista para sexta-feira, mas o Hamas advertiu que a falta de um acordo ameaça a trégua.

“Israel não vê nenhum problema em prorrogar o cessar-fogo sem pré-condições”, declarou uma autoridade à AFP nesta quarta-feira, sob condição de anonimato.

Questionada sobre a duração dessa possível prorrogação, a fonte indicou que poderia ser ilimitada.

O subchefe do Hamas, Mussa Abu Marzuk, declarou que não se chegou a um acordo sobre a prorrogação do cessar-fogo de 72 horas com Israel na Faixa de Gaza, que expira nesta sexta-feira.

“Não há acordo para prolongar o cessar-fogo”, informou Abu Marzuk, que faz parte da delegação palestina que participa das negociações com Israel mediadas pelo Egito.

Enquanto isso, a vida tentava retomar seu curso normal na Faixa de Gaza nesta quarta-feira, segundo dia de um cessar-fogo provisório e que depende das difíceis negociações entre israelenses e palestinos que atualmente prosseguem no Cairo.

Uma relativa normalidade reinava no território devastado pelos bombardeios do Exército israelense, onde os habitantes acreditam que este cessar-fogo iniciado na terça, às 8h (2h no horário de Brasília), possa perdurar, diferentemente de todas as tréguas precedentes.

Cabe aos israelenses e aos palestinos enviados ao Cairo transformar essa pausa na guerra em uma trégua durável durante negociações indiretas sob a mediação do Egito, um dos dois únicos países árabes a assinar um acordo de paz com Israel.

Essas discussões tendem a ser muito difíceis, com exigências inconciliáveis e uma multiplicidade de atores com interesses divergentes.

O Exército israelense garante ter retirado todas as suas tropas da Faixa de Gaza, além de anunciar a suspensão de todas as restrições impostas à população civil do lado israelense. Mas seus soldados continuam “prontos para qualquer eventualidade”, advertiu o o chefe de Estado-Maior, Benny Gantz.

Netanyahu justifica operação militar

Em entrevista coletiva, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reafirmou que a operação militar contra a Faixa de Gaza foi “justificada” e “proporcional” à ameaça que o Hamas representa, mas manifestou seu “profundo pesar” pela morte de civis palestinos.

“O Hamas é o responsável pela destruição e pelas mortes” na Faixa de Gaza, disse Netanyahu à imprensa, acusando o movimento islâmico palestino de disparar foguetes contra escolas e hospitais e utilizar civis como “escudos humanos”.

“A tragédia de Gaza foi orquestrada pelo Hamas”, insistiu.

Difícil reconstrução

Para Gaza, o grande desafio de reconstrução vai começar. A ofensiva militar lançada por Israel em 8 de julho – com o objetivo de parar os disparos de foguete contra seu território e destruir a rede de túneis utilizada pelo Hamas – deixou 1.875 palestinos mortos, incluindo 430 crianças e adolescentes, de acordo com números do Ministério palestino da Saúde.

A Organização das Nações Unidas declarou estar disposta a ajudar na reconstrução de Gaza, mas pela última vez, segundo seu secretário-geral, Ban Ki-moon, que pediu por uma paz duradoura durante uma reunião especial da Assembleia Geral da organização.

“Será que devemos continuar construindo, destruindo, construindo e destruindo?”, questionou Ban, defendendo que “essa deve ser a última vez que se reconstrói” a Faixa de Gaza.

O conflito também mergulhou no abismo uma economia já estraçalhada de um pequeno território, no qual 1,8 milhão de pessoas tentam sobreviver ao bloqueio israelense.

Do lado israelense, 64 soldados e três civis morreram.

Os serviços de emergência palestinos ainda tentam limpar as ruas e recuperar corpos sob os escombros em Shajaya e Khuzaa. Os trabalhadores das companhias de eletricidade também se esforçam para restabelecer o fornecimento do serviço.

A Liga Árabe anunciou que enviará em breve ministros de pelo menos quatro de seus países-membros a Gaza como demonstração de “solidariedade” com os palestinos. Essa delegação também deverá avaliar as necessidades para a reconstrução do território palestino, estimadas pela Autoridade Palestina em vários bilhões de dólares.

“Olhe para a minha casa, foi pulverizada”, lamentava Abu Musa al-Rus em frente ao que um dia foram as paredes de sua residência e que agora não passam de pedaços de concretos pichados pelos soldados israelenses.

Uma guerra sem vencedor

Israel e o Hamas aceitaram uma trégua segunda-feira à noite e, agora, as delegações israelense e palestina (com representantes do Hamas, de seu aliado da Jihad Islâmica e do Fatah) negociam no Cairo.

A suspensão do bloqueio a Gaza é uma das principais exigências palestinas, enquanto Israel insiste em seu imperativo de segurança.

Os egípcios se reuniram na terça-feira à noite com os israelenses e com os palestinos nesta quarta.

As autoridades israelenses se mostraram discretas hoje após seguidas fortes declarações.

Do lado palestino, a intransigência permanecia, pelo menos publicamente. “Nossa delegação no Cairo (…) não cederá a qualquer uma de nossas exigências”, garantiu Ismail Haniyeh, ex-primeiro-ministro do Hamas em Gaza e número dois do braço político do Hamas. “O que o ocupante não conseguiu no campo de batalha, não pode conseguir no cenário político”, insistiu.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que Washington apoia as negociações sobre o cessar-fogo “em longo prazo”, que deve passar “pelo reconhecimento de que Gaza não pode ficar permanentemente isolada do mundo”.

“Não tenho qualquer simpatia pelo Hamas, mas tenho simpatia pelas pessoas comuns que sofrem em Gaza”, disse Obama, destacando que o objetivo em curto prazo é ampliar a trégua após várias semanas de um sangrento conflito.

Segundo o presidente americano, os israelenses precisam “ter confiança em que não se repetirão os disparos de foguetes vistos durante várias semanas”. Já os palestinos precisam “ter alguma esperança de abertura, de modo que não se sintam entre muros”.

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