Perspectivas suíças em 10 idiomas

López Obrador começa governo com comissão investigativa de Ayotzinapa

O mexicano Andrés Manuel López Obrador em sua primeira entrevista coletiva como presidente, na Cidade do México, em 3 de dezembro de 2018 afp_tickers

O novo presidente de México, Andrés Manuel López Obrador, lançou nesta segunda-feira (3) a sua “transformação” do país com coletivas de imprensa matinais e a instalação de uma comissão investigativa para esclarecer o famoso caso dos 43 estudantes desaparecidos em 2014, conhecido como Ayotzinapa.

O esquerdista, amplamente conhecido por suas iniciais como AMLO, prometeu uma ruptura com o passado e deu início a uma nova investigação de um caso que é um dos pontos mais obscuros do governo de seu antecessor, Enrique Peña Nieto.

“Com a assinatura deste acordo iniciamos o processo de busca dos jovens de Ayotzinapa. Esse foi o nosso compromisso e estamos começando a cumprir com a nossa palavra”, disse López Obrador após assinar o decreto de criação da comissão.

“Espero que logo saibamos a verdade, que a justiça seja feita e se torne um exemplo para que nunca mais violem os direitos humanos em nosso país”, acrescentou.

Segundo a hipótese da Promotoria sob o governo de Peña Nieto, os 43 estudantes da escola de Ayotzinapa para professores rurais estavam em Iguala, no estado de Guerrero (sul), apoderando-se de ônibus para suas mobilizações políticas quando foram baleados e detidos por pistoleiros e policiais locais.

Os agentes corruptos os teriam entregado a narcotraficantes, que teriam assassinado-os para depois incinerar seus corpos e jogar as cinzas em um rio.

Entretanto, o governo de Peña Nieto foi criticado pelo ombudsman do México – que o acusou de divulgar informação falsa ou parcial do caso -, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ONU e por outras organizações de direitos humanos.

A nova comissão será composta formalmente em 30 dias úteis e será integrada pelos pais dos estudantes e membros do governo, assim como especialistas e técnicos profissionais.

Retomará as investigações e recomendações emitidas pelo ombudsman e por outros organismos, segundo informou o subsecretário de Direitos Humanos, Alejandro Encinas.

“Todo o governo irá ajudar neste objetivo e asseguro a vocês que não haverá impunidade, nem neste caso tão tristo nem em nenhum outro”, acrescentou López Obrador.

“Ganhe a confiança de todos os mexicanos, como você vê, não confiamos mais em ninguém, mas temos um pouco de esperança de que você, como ser humano, seja mais humano”, disse María Martínez, mãe do estudante Miguel Hernández, a López Obrador.

“É muito difícil sentar à mesa e ver que há uma cadeira vazia”, continuou Martínez.

– Coletiva matinal –

Mais cedo, o governo de López Obrador rompeu com o estilo mais distante da administração anterior ao anunciar reuniões diárias com o gabinete de segurança, seguidas de coletivas de imprensa.

“De segunda a sexta, às seis da manhã, como fizemos hoje, vamos nos reunir com os integrantes do gabinete de segurança pública porque este é o tema que mais preocupa os mexicanos”, disse AMLO durante a entrevista coletiva, similar às que mantinha quando era prefeito da Cidade do México (2000-2005).

As entrevistas coletivas abertas quase não existiam durante o governo de Peña Nieto, que poucas vezes aceitou perguntas da imprensa.

O México se viu fortemente atingido pela violência ligada ao narcotráfico desde que o governo de Felipe Calderón (2006-2012) mobilizou o Exército na luta contra o crime organizado.

López Obrador declarou no sábado que manterá o Exército nas tarefas de segurança e criará uma guarda nacional que será coordenada pelos militares, o que gerou críticas de defensores dos direitos humanos, que afirmam que a participação das Forças Armadas agrava a violência.

O novo chefe de Estado acrescentou que seu governo começou sem problemas, em uma entrevista coletiva na qual também abordou temas de migração e o cancelamento da construção do novo aeroporto da Cidade do México.

Dentre as felicitações pela posse, o presidente americano, Donald Trump, parabenizou López Obrador. “Trabalharemos bem juntos em muitos anos pela frente”, comemorou o presidente americano no Twitter.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR