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Lula se despede da esposa com lágrimas e duras críticas a seus acusadores

Ex-presidente Lula recebe condolências durante o funeral de sua esposa, Marisa Letícia, em 4 de fevereiro de 2017 em São Bernardo do Campo afp_tickers

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se despidiu neste sábado de sua esposa e companheira de luta Marisa Leticia, após um velório cheio e comovente que terminou com um duro discurso contra as acusações de corrupção que rondaram o casal no último ano.

“Marisa morreu triste porque a canalhice que fizeram com ela e a imbecilidade e a maldade que fizeram com ela, eu vou dedicar…”, desabafou Lula sem terminar a frase, em frente ao caixão da ex-primeira-dama, coberto pela bandeira do Brasil e outra do Partido de los Trabalhadores (PT).

Eu tenho 71 anos, não sei quando Deus me levará, acho que vou viver muito, porque eu quero provar que os facínoras que levantaram leviandade com a Marisa tenham, um dia, a humildade de pedir desculpas a ela, disse Lula, comovido e aplaudido pela multidão de admiradores que se reuniram na sede do Sindicato dos Metalúrgicos.

Marisa Letícia Rocco – com quem Lula se casou em 1974 e teve três filhos, depois de ambos ficarem viúvos de seus primeiros cônjuges – faleceu aos 66 anos no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após sofrer um AVC em 24 de janeiro.

O hospital anunciou a morte da ex-primeira-dama nesta sexta-feira (3), após ela ter sido diagnosticada com ausência de fluxo cerebral na quinta-feira.

Vestido totalmente de preto, o líder petista recebeu os pêsames e abraçou centenas de desconhecidos e figuras destacadas do PT, como a ex-presidente Dilma Rousseff, o presidente do partido, Rui Falcão, vários membros do Congresso e ex-ministros.

“Mataram dona Marisa”

Vários aliados políticos de Lula vincularam a morte de Marisa Letícia ao ano de turbulências e sobressaltos judiciais do ex-presidente, que enfrenta cinco acusações ligadas ao escândalo de corrupção na Petrobras, algumas delas envolvendo sua esposa.

“Não é exagero dizer que mataram a dona Marisa, ela foi vítima de uma perseguição gigantesca e não aguentou”, disse a jornalistas o senador do PT Lindbergh Farias.

Essa teoria da perseguição judicial que, segundo o próprio Lula, buscaria impedir que ele seja candidato presidencial em 2018, foi esboçada também por Dilma e defendida por vários membros do PT.

“Há um ano dona Marisa não tinha nenhuma alegria, vivia sob ameaças de prisão, de prisão dos filhos. Tenho convicção de que sua partida prematura está muito ligada a esse clima de ódio”, disse Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete de Lula e ex-ministro de Dilma.

– Conversa com Temer –

Na quinta-feira, o presidente Michel Temer e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foram ao Hospital Sírio-Libanês para dar os pêsames a Lula.

O líder petista recebeu Temer cordialmente, e inclusive aproveitou a ocasião para fazer algumas observações políticas.

Segundo vários meios, Lula criticou a proposta do atual presidente de reforma da Previdência em meio à grave recessão nacional, e lhe recomendou estimular o consumo interno em vez de promover medidas de austeridade.

“Neste momento de desavenças tão profundas, a morte de Marisa possibilitou esses encontros e a vontade de que se converse mais sobre o Brasil”, afirmou no velório o ex-senador e cofundador do PT Eduardo Suplicy.

O corpo da ex-primeira-dama será cremado na tarde deste sábado, ao final do velório, em uma cerimônia reservada para a família.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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