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Maduro e Guaidó intensificam disputa pelo poder na Venezuela

Infográfico mostra mapa-múndi com reações internacionais após a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela afp_tickers

A tensão política na Venezuela aumenta hora a hora entre a oposição, liderada por Juan Guaidó, o autoproclamado “presidente interino” do país, e Nicolás Maduro, pressionado por muitos dirigentes a convocar novas eleições como saída para a crise na Venezuela.

Depois de ter recebido, na quinta-feira, o apoio decisivo de chefes do Exército, Maduro deve voltar a denunciar nesta sexta-feira, diante da imprensa, um golpe de Estado orquestrado, segundo ele, pelos Estados Unidos.

O procurador-geral, Tarek William Saab, também deverá se pronunciar sobre a ordem emitida pelo Supremo Tribunal da Venezuela, pró-regime, a fim de abrir uma investigação criminal sobre o Parlamento, controlado pela oposição, por ter “usurpado” as funções de Nicolás Maduro.

Por sua parte, Juan Guaidó, o jovem presidente do Parlamento que proclamou-se chefe de Estado interino na quarta-feira, declarou à rede Univision que se prepara para anunciar novas medidas.

“Continuaremos a avançar para acabar com a usurpação do poder (e estabelecer) um governo de transição e eleições livres”, disse ele em um local secreto em Caracas.

Guaidó, de 35 anos, pediu aos venezuelanos que continuem os protestos contra o regime, que fizeram 26 mortos em quatro dias, segundo a ONG Observatório Venezuelano do Conflito Social.

Segundo a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, mais de 350 pessoas foram presas nesta semana durante os protestos, “incluindo 320 apenas no dia 23 de janeiro”.

A ex-presidente chilena pediu “discussões imediatas para acalmar uma atmosfera cada vez mais inflamável”.

– “Corredor de escape” –

Guaidó sugeriu uma saída para Maduro, citando uma possível anistia.

“Em tempos de transição, coisas semelhantes aconteceram (…), não podemos excluir nada, porém devemos ser muito firmes no futuro (…) acima de tudo para enfrentar a emergência humanitária”, disse ele, questionado sobre a possibilidade de uma anistia ao presidente venezuelano.

“Devemos também rever isso (a anistia), ele também é um funcionário público, infelizmente ditador e responsável pelas vítimas de ontem na Venezuela”, continuou o opositor.

O Parlamento prometeu em 15 de janeiro uma “anistia” aos soldados que não reconheceram o governo de Maduro.

O vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão, cujo país expressou apoio a Guaidó, propôs a criação de um “corredor de escape” para retirar Nicolás Maduro e sua equipe do país.

Mas a tensão permanece elevada nesta sexta-feira. “É perigoso ter governos paralelos”, disse Michael Shifter, do Diálogo Interamericano.

A autoridade de Guaidó foi reconhecida pelos Estados Unidos e depois por vários países da América Latina e pelo Canadá.

Mas Maduro pode contar com o apoio do Exército, reafirmado pela voz de seu ministro da Defesa, o general Vladimir Padrino. Ele denunciou na quinta um “golpe de Estado em andamento” liderado pelo “império dos Estados Unidos”.

“Não há dúvida de que é o próprio Donald Trump quem quer impor um governo”, disse o líder socialista, também apoiado por Moscou e Pequim.

A União Europeia, que considera ilegítimo o segundo mandato de Nicolás Maduro, pediu “eleições livres”, sem reconhecer Juan Guaidó.

Mas a Alemanha se declarou pronta, “no âmbito de consultas europeias”, para reconhecer o opositor como presidente da Venezuela, se eleições livres não forem organizadas “em breve”.

Quanto ao ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, ele “exortou” fortemente Nicolás Maduro a “abster-se de qualquer forma de repressão contra a oposição”.

Já o governo espanhol defendeu que a União Europeia reconheça Guaidó como presidente interino da Venezuela se caso Maduro não convoque novas eleições o mais rápido possível.

Na quinta, os Estados Unidos mantiveram sua pressão, pedindo uma reunião de emergência do Conselho de Segurança no sábado sobre a situação no país, apesar da oposição declarada da Rússia a uma reunião sobre uma questão “interna” da Venezuela.

O agravamento da crise ocorre no meio do pior desastre econômico da história moderna do país petroleiro.

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