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Manifestante morre no Chile na noite mais violenta do ano

(29 jan) Manifestantes incendeiam local em construção durante cerimônia nos arredores do estádio Monumental, em Santiago afp_tickers

Um manifestante morto, saques e incêndios ocorreram na madrugada desta quinta-feira (30), no pior dia de violência no Chile registrado até agora neste ano, no contexto de uma crise social que, agora, envolve o mundo do futebol.

Esses novos distúrbios ocorreram durante os protestos pela morte de um torcedor do Colo Colo. Ele faleceu na noite de terça-feira, após ser atropelado por um caminhão da polícia perto do Estádio Monumental.

A polícia informou que a vítima é um jovem de 22 anos que protestava em uma barricada, quando “foi atropelado por um ônibus Transantiago (transporte público), que instantes antes havia sido roubado por homens encapuzados”, em meio a distúrbios violentos.

“Sem dúvida, este dia foi o mais violento de 2020 e nos lembra os piores momentos do mês de outubro do ano passado”, afirmou o chefe de polícia da zona leste de Santiago, Enrique Basaletti.

O jovem morreu em um hospital próximo, enquanto o homem encapuzado que o atingiu foi espancado “por outros manifestantes”. Ele também foi levado para um centro médico e se encontra em estado grave. O ônibus roubado foi incendiado, de acordo com a polícia.

Os tumultos se concentraram no norte da capital chilena.

Na comuna de Quilicura, nos arredores de Santiago, saques ocorreram em pelo menos três supermercados, enquanto na vizinha Lampa os manifestantes incendiaram escritórios públicos.

Em outras áreas da capital, outros ônibus pegaram fogo, causando a suspensão de várias rotas de transporte público em Santiago.

Pelo menos 20 quartéis policiais foram atacados, e 46 militares ficaram feridos em Santiago e em outras cidades, como Valparaíso (centro) e Concepción (sul), onde também ocorreram incidentes graves, relatou Baseletti.

Os tumultos aumentaram a temperatura dos protestos, depois de semanas de relativa calma.

O jovem atropelado é a segunda vítima em dois dias, após a morte na terça-feira à noite do torcedor do Colo Colo atropelado pelo caminhão da polícia no meio de confrontos com agentes. Este episódio foi a faísca dos motins registrados entre quarta e quinta-feiras.

Iniciada há quase quatro meses, a crise social chilena deixou 20 mortos até o momento, enquanto mais de 3.000 pessoas ficaram feridas. Deste total, cerca de 400 sofreram ferimentos graves nos olhos, causados por balas de borracha disparadas por policiais do Batalhão de Choque.

A morte do torcedor provocou novas críticas contra a Polícia, já criticada por agências humanitárias que a acusam de extrapolar no uso da força para conter os protestos.

Em meio à crise social, as torcidas organizadas participaram ativamente dos protestos e, nas últimas semanas, juntaram-se ao público em geral durante partidas amistosas e oficiais para entoar músicas e slogans contra o governo de Sebastián Piñera. De acordo com as últimas pesquisas, sua aprovação caiu para 6%.

Os torcedores acenderam velas no local, onde o torcedor morreu, e ergueram barricadas que foram incendiadas nas ruas adjacentes ao estádio e até em uma estação de metrô.

Também atearam fogo a uma loja e a um carro da polícia. A polícia de choque reagiu com bombas de gás lacrimogêneo.

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