Perspectivas suíças em 10 idiomas

Moradores de Gaza buscam cadáveres sob os escombros de bairros devastados por ofensiva

Bairro de Shejaiya, na Faixa de Gaza, destruído por ataques aéreos israelenses. afp_tickers

Pouco antes da entrada em vigor da trégua entre Israel e o Hamas, a força aérea israelense bombardeou a casa da família Al-Nayar, matando 22 pessoas, incluindo 10 crianças, em Khan Yunes, no sul de Gaza.

No local em que se erguia o edifício de três andares resta apenas uma cratera, ruínas, pedaços de metal retorcidos e algumas roupas, assim como cadáveres que vizinhos e familiares retiram dos escombros.

“Toda a minha família, meus filhos, meus netos, morreram”, grita uma mulher de 85 anos, cercada por mulheres e crianças que foram lhe dar os pêsames e que também estão chorando.

“Estava no segundo andar, na varanda quando o míssil caiu e me lançou para fora, para longe do edifício”, conta seu neto Hussein, observando a cratera. Está prestes a chorar e tão abalado que mal consegue falar.

“Morreram meus dois filhos e minha mulher que estava grávida de cinco meses”, acrescenta. Tem um olho vendado e seus braços e pernas também têm ataduras.

O número de palestinos mortos na ofensiva israelense em Gaza superou os mil neste sábado, após a descoberta de mais de uma centena de mortos entre os escombros, durante a trégua acordada entre Israel e o Hamas.

Muitos aproveitam para voltar aos seus bairros devastados

Do norte ao sul deste território superpovoado, muitos palestinos aproveitaram a breve trégua para voltar aos seus bairros devastados, e se depararam com um espetáculo de desolação.

Em Shejaiya, um subúrbio da cidade de Gaza duramente bombardeado, um homem de 60 anos desaba em frente ao que foi sua casa e outro permanece de pé diante das ruínas.

Muitos remexem nos escombros e carregam alguns objetos pessoais, o que não deixa de ser perigoso. “Temos medo de todas essas bombas que ainda não explodiram e que estão sobre nossas cabeças e das minas que estão no chão. Temos medo de abrir uma porta e encontrar uma bomba”, afirma Khader Sukar, um morador de Shejaiya.

Para Abu Mohamed, de 37 anos e que vive em Beit Lahiya (norte), “é como um terremoto de magnitude 10. Não temos mais nenhuma referência desta zona. Cresci neste bairro desde os cinco anos e não consigo reconhecê-lo”, afirma.

Ninguém sabe ao certo quanto tempo esta trégua pode durar, e por isso as pessoas se apressam em preparar os corpos para enterrá-los enquanto é possível.

Em Khan Yunes, várias dezenas de homens passam correndo por uma rua com três cadáveres, um deles envolvido na bandeira do Hamas.

Um pouco mais a leste, poucos se atrevem a entrar no distrito de Juzaa, onde os habitantes dizem que os tanques israelenses estão patrulhando. “O exército continua ali e não se move”, afirma um morador.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR