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Novo massacre deixa 31 mortos em penitenciária de Roraima

Uma mulher assiste à notícias sobre o massacre ocorrido em prisão brasileira em Roraima, no dia 6 de janeiro de 2017 afp_tickers

Um total de 31 presos foram brutalmente assassinados na madrugada desta sexta-feira (6) em uma penitenciária de Roraima, quatro dias após uma sangrenta vingança deixar 56 mortos em um presídio de Manaus, em plena guerra de facções pelo controle do tráfico de drogas.

Assim como ocorreu na capital do Amazonas, as vítimas foram decapitadas, mutiladas e esquartejadas, segundo fotos obtidas pela AFP, nas quais dezenas de corpos aparecem empilhados em um enorme banho de sangue.

Após as perícias realizadas nos corpos, as autoridades reduziram durante a tarde o balanço de mortos de 33 para 31.

“A barbárie ocorreu às 02H00 da manhã. Não houve troca de tiros, as vítimas foram assassinadas com objetos cortantes ou armas artesanais”, descreveu Uziel Castro, secretário de Justiça de Roraima.

Um vídeo exclusivo obtido pela AFP mostra como os presos, a maioria usando roupas íntimas, levaram os corpos até os veículos do Instituto Médico Legal (IML), do lado de fora da prisão.

Localizada nos arredores de Boa Vista, capital do estado, a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) é o maior presídio de Roraima e tem mais de 1.400 internos, superando o dobro de sua capacidade.

Apesar do clima de tensão entre facções rivais nos presídios da região norte – estratégica rota do tráfico de drogas e que faz fronteira com a Venezuela, Peru e Colômbia – o massacre não seria uma represália ao de Manaus, segundo as autoridades.

“Não é, aparentemente, uma vingança do PCC à Família do Norte”, afirmou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, na apresentação do Plano Nacional de Segurança, em Brasília.

As vítimas seriam presos que não pertenciam a nenhuma facção, já que estas foram separadas no ano passado, completou Uziel Castro.

“Acreditamos ser uma ação isolada, uma barbaridade cometida contra presos comuns”, explicou, destacando que “as péssimas condições do presídio não são um mistério para ninguém”.

No dia 17 de outubro, dez presos morreram na Pamc, alguns decapitados e outros queimados vivos. No mesmo dia, oito presos foram assassinados em uma penitenciária de Rondônia.

Guerra sangrenta

Este novo incidente ocorre apenas quatro dias após uma rebelião no Amazonas deixar 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), no segundo maior massacre registrado em uma prisão brasileira.

Os assassinatos brutais e sua ostentação da violência – a maioria das vítimas foram decapitadas e mutiladas – responderam, segundo as investigações, a uma vingança da FDN, aliada do Comando Vermelho (CV) do Rio de Janeiro, contra o PCC, a poderosa organização nascida no início da década de 1990 em uma prisão de São Paulo.

Uma “tragédia anunciada” para especialistas como Camila Dias, professora da Universidade Federal do ABC, que vinham alertando para as consequências desastrosas que a guerra aberta entre o PCC e o CV poderiam gerar para o deficiente sistema penitenciário brasileiro.

As duas organizações criminosas mais poderosas do Brasil romperam sua aliança em junho, dando início a uma guerra sangrenta pelo domínio nacional do tráfico de drogas.

Depois do massacre em Manaus, organizações internacionais como Human Rights Watch e o papa Francisco chamaram a atenção sobre as condições de vida nas prisões do Brasil, consumidas pela superpopulação e pelo domínio das facções.

Confortáveis em seu interior – onde possuem telefones celulares, armas e drogas -, estas facções fizeram dos presídios seus centros de operações.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou que levará os casos ante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Segundo o órgão, as tragédias foram motivadas “pela falta de adoção de ações concretas por parte do Estado para resolver o problema, que sempre se repete”.

Novas medidas

Pressionado por seu longo silêncio diante da rebelião de Manaus, o presidente Michel Temer reagiu rapidamente desta vez, lamentando o ocorrido em um comunicado.

Na quinta-feira ele anunciou a construção de novas prisões, bem como cinco centros de segurança máxima, para enfrentar uma crise que, como anunciaram os especialistas, não demoraria a somar novos capítulos.

A guerra nas prisões “é efeito de uma política de encarceramento em massa que produz e amplifica as péssimas condições das prisões brasileiras”, afirmou Dias à AFP, que considerou as medidas apresentadas pelo governo insuficientes.

Com 622.000 presidiários – em sua maioria jovens negros – o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Rússia, segundo dados oficiais.

Nacionalmente, a taxa de ocupação das prisões é de 167% e um relatório do ministério da Justiça estima que seria preciso aumentar as vagas em 50% para solucionar o problema.

Mais de um preso por dia morreu de forma violenta nas prisões brasileiras em 2016, segundo dados recolhidos pela imprensa local.

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