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Novos modelos de embriões ajudariam pesquisas sobre abortos espontâneos

Duas equipes de pesquisadores encontraram métodos diferentes para produzir em laboratório um blastocisto, a primeira fase do embrião, cerca de cinco dias após a fecundação do óvulo por um espermatozoide afp_tickers

Cientistas geraram estruturas embrionárias humanas em um estágio inicial que poderiam ajudar a desvendar a “caixa-preta” das primeiras etapas do desenvolvimento humano e promover pesquisas sobre abortos espontâneos e malformações físicas em fetos.

Duas equipes de pesquisadores, cujos trabalhos serão publicados nesta quarta-feira (7) na revista Nature, encontraram métodos diferentes para produzir em laboratório um blastocisto, a primeira fase do embrião, cerca de cinco dias após a fecundação do óvulo por um espermatozoide.

Esta esfera de aproximadamente 200 células já possui uma estrutura celular complexa (uma camada de células externas – a futura placenta – que envolve uma cavidade cheia de líquido, contendo uma massa de células embrionárias).

Esses modelos chamados “blastoides”, que não podem seguir seu desenvolvimento como embriões naturais, poderiam ajudar a compreender eventos que ocorrem no início do desenvolvimento embrionário, como a interrupção espontânea da gravidez, ou as malformações favorecidas por certos medicamentos, ou poluentes.

“Estudar o desenvolvimento humano é muito difícil, especialmente nesta etapa do desenvolvimento. É, em grande parte, uma caixa-preta”, explicou em coletiva de imprensa Jun Wu, pesquisador da Universidade do Texas, que dirigiu um dos dois estudos.

Esses trabalhos ocorrem em um momento em que novas recomendações éticas estão sendo elaboradas sobre a pesquisa com embriões.

Atualmente, a pesquisa sobre as primeiras etapas do desenvolvimento depende da doação de embriões concebidos em meio a tratamentos com FIV (Fertilização In Vitro). Essas doações são poucas, porém, e estão sujeitas a muitas restrições.

Poder produzir “em grande escala” esses modelos embrionários “revolucionará a nossa compreensão sobre as primeiras etapas do desenvolvimento humano”, considerou José Polo, professor da Universidade Monash (Austrália), que dirigiu o segundo estudo.

– Células que “conversam entre si” –

Até agora, a criação de blastocistos no laboratório foi realizada apenas em animais: em 2018, pesquisadores holandeses conseguiram produzi-los a partir de células-tronco de ratos.

Para produzi-los em humanos, as duas equipes usaram métodos diferentes.

A equipe de Jun Wu usou células-tronco derivadas de embriões humanos e células pluripotentes induzidas (células-tronco produzidas em laboratório a partir de células adultas). A equipe de José Polo começou com células de pele adultas.

Ambos chegaram ao mesmo resultado: as células se organizaram gradualmente para reproduzir as três estruturas que compõem os blastocistos humanos.

“O que nos surpreendeu foi que quando as juntamos, elas se auto-organizam, parecem conversar entre si de alguma forma… Depois se fundem”, detalhou Polo.

No entanto, os blastoides obtidos pelas duas equipes diferem dos blastocistos naturais: contêm células de tipo indeterminado e não possuem certos elementos provenientes especificamente da interação entre o óvulo e o espermatozoide.

Apenas 20% dos testes funcionaram em média.

Os pesquisadores insistem no fato de que esses modelos de laboratórios não são embriões propriamente ditos e não são capazes de continuar seu desenvolvimento.

Por precaução, concluíram o experimento quatro dias após colocarem os blastoides em cultura, o equivalente a cerca de 10 dias de desenvolvimento no caso de uma fecundação normal.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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