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O dia em que os retratos de Chávez voltaram ao Palácio Legislativo

Um membro da Assembleia Constituinte posa com uma foto do ex-presidente Hugo Chávez em 4 de agosto de 2017 afp_tickers

Um homem agita um boneco do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez em meio à multidão. Ao seu redor, todos gritam: “voltou, voltou!”, enquanto assistem os membros da Assembleia Constituinte entrarem no Palácio Legislativo com retratos de Chávez.

Uma foto de Chávez voltou ao Parlamento, no centro de Caracas, levada pelos constituintes Cilia Flores, a primeira-dama; Diosdado Cabello, e Delcy Rodríguez, ex-chanceler, eleita nesta sexta-feira presidente da Constituinte.

Os três posaram sorrindo para as câmeras com o quadro, uma composição na qual, junto à foto de Chávez, aparece um cartaz do libertador Simón Bolívar.

Minutos depois, o quadro foi levado ao Salão Elíptico do Palácio Legislativo, onde funcionará a Constituinte que foi criticada pelo Vaticano, pelos Estados Unidos, pela União Europeia, e por vários países latino-americanos.

“Se Chávez voltar, volta o povo. O povo tinha que estar sempre aqui, governando. Nunca tive sair daqui”, disse à AFP com seu boneco do ex-presidente Yhonder Vegas, de 40 anos, trabalhador da companhia de petróleo estatal PDVSA.

– Arrumar a economia –

O centro de Caracas estava militarizado e a maioria da imprensa foi impedida de entrar no Legislativo. Só algumas câmaras puderam passar. Muitos jornalistas viram o ato por televisão de uma tenda.

Tatiana Torres, trabalhadora do Ministério Penitenciário, se juntou ao coro de gritos de apoio aos novos constituintes que entravam no Parlamento segurando rosas vermelha.

“Essa Constituinte tem que arrumar a economia. Tem que prender os deputados da direita que não têm feito nada”, expressou.

Enquanto ouviram a primeira sessão através de vários alto-falante na praça Bolívar do centro de Caracas, outros governistas esboçavam suas propostas.

“Que baixem os preços, por culpa da guerra econômica tudo está caro. Preciso, que nos ajudem”, disse à AFP José Salazar ao expor suas esperanças na Constituinte, agitando dois cartazes de Bolívar e Chávez.

Assim que a Constituinte foi instalada, Rodríguez falou aos 545 constituintes e ao país, prometendo que a paz e a estabilidade econômica voltarão.

“Na Venezuela não há fome, na Venezuela há vontade. Daqui temos o poder para combater a guerra econômica”, disse.

Do lado de fora do Legislativo, as pessoas se retiraram quando a sessão terminava. América, uma menina de 6 anos, deixou seu sanduíche, distribuído no ato, no chão.

Yessenia, sua mãe, o pegou, limpou um pouco com a mão e o entregou de volta. “Não podemos desperdiçar, em casa não há quase nada de comida”, disse sorrindo.

– “Pondo ordem” –

No dia 6 de janeiro de 2016, na ressaca da vitória legislativa, o ex-presidente do Parlamento, o veterano opositor Henry Ramos Allup, ordenou retirar do edifício todos os quadros do ex-presidente, e os de Bolívar, feito pelos chavistas.

Na sede da Assembleia Nacional não havia até então retrato de qualquer outro ex-presidente venezuelano.

A oposição, que controla o Parlamento desde que venceu as eleições legislativas de 2015, tentou nesta sexta-feira marchar até o Palácio para protestar contra a Constituinte.

No entanto, cerca de mil manifestantes opositores foram dispersados no leste da cidade com gases lacrimogêneos.

Nos arredores do Palácio, as pessoas passavam de mão em mão quadros com Chávez usando roupa militar ou beijando um crucifixo, até que chegassem ao Legislativo.

“Aqui chegamos para pôr ordem, para fora a direita fascista. Esta Constituinte vai melhorar o país, porque o império quer nos roubar tudo”, afirmou José Hernández, vestido de militar, enquanto mostrava um desenho de Chávez ajoelhado diante de Simón Bolívar, Jesus Cristo e da Virgem Maria.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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