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Oposição recua enquanto se prepara para grande marcha na Venezuela

Opositores venezuelanos protestam em Caracas, em 10 de abril de 2017 afp_tickers

Depois da morte de dois jovens, os protestos na Venezuela arrefeceram nesta terça-feira (11), aniversário de um breve golpe contra Hugo Chávez em 2002, enquanto a oposição prepara o que anuncia como a maior manifestação contra o governo de Nicolás Maduro, no próximo dia 19.

O estudante Daniel Queliz, de 19 anos, morreu na madrugada desta terça vítima de um disparo, quando policiais dispersavam um protesto na cidade de Valencia (norte), informou a Procuradoria.

É a segunda vítima fatal deixada pelas manifestações, que tiveram seu epicentro em Caracas. Na última quinta-feira (6), quando a polícia desbloqueava uma via nos arredores da capital, outro jovem, também de 19 anos, já havia morrido. Segundo o governo, ele não participava do protesto.

Caracas estava em calma nesta terça, depois das mobilizações da véspera, que levaram a violentos confrontos entre policiais e manifestantes pela quinta vez desde o início de abril. Enquanto os agentes usavam gás lacrimogêneo e balas de borracha, a multidão respondia com pedras e garrafas.

Escombros, lixo queimado e postes de luz derrubados bloqueavam algumas vias mais cedo. A Defensoria do Povo denunciou ataques a seus escritórios em seis cidades, mas não informou quando aconteceram.

“Denuncio, perante a opinião pública, que tenham sido atacados por grupos violentos” os escritórios da Defensoria em Caracas e em outras cinco cidades do interior, tuitou o defensor do povo Tarek William Saab.

Hoje, a oposição recebeu líderes estudantis e sindicais, além de representantes de organizações não governamentais, para definir seu apoio ao protesto da próxima terça (18).

“A luta se dá em todas as frentes. Vamos continuar na rua”, disse à imprensa o presidente do Legislativo, Julio Borges.

O deputado culpou o governo pelos confrontos, que também deixaram dezenas de feridos e levaram a pelo menos 134 detenções, segundo ONGs e autoridades.

“Toda a violência está sendo gerada, porque não deixam o povo se expressar por meio das eleições”, assegurou Borges.

Mais cedo, acompanhado de outros deputados, ele procurou o comando da Guarda Nacional para entregar um documento que pede “o fim da repressão”.

“O papel da Força Armada neste momento é ajudar a ter eleições na Venezuela”, disse Borges a um militar que o recebeu na rua, sem entrar no prédio.

– Apoio a Maduro

A oposição prepara uma manifestação para 19 de abril, feriado nacional. Será “a mãe de todas as marchas”, adverte o vice-presidente del Parlamento, Freddy Guevara.

Nesse mesmo dia, está prevista uma manifestação chavista no centro de Caracas. Hoje, os seguidores de Hugo Chável relembraram 15 anos do golpe de Estado que depôs brevemente o falecido presidente (1954-2013).

“11 de Abril de 2002, golpe de Estado oligárquico decretado pelo império com seu governo da vez… 2017, seguimos na batalha”, escreveu Maduro no Twitter.

Milhares de simpatizantes do governo se concentraram nesta terça em Puente Llaguno, próximo ao Palácio presidencial de Miraflores, para evocar o dia em que Chávez deixou o poder após uma gigantesca manifestação da oposição. O episódio terminou com a morte de 19 pessoas.

Chávez foi restituído à Presidência dois dias depois por militares leais a ele.

“Estou aqui em apoio a Maduro e em defesa da Revolução. Os protestos da oposição buscam apenas uma intervenção estrangeira”, disse à AFP a manifestante Arelis Morales.

– ‘Desgaste’

Para analistas consultados pela AFP, tanto o chavismo quanto a oposição apostam “no desgaste” da outra parte.

“Nenhum grupo quer dar seu braço a torcer (…). O governo reprime, à espera de que os manifestantes se cansem, e a oposição seguirá adiante. Trata-se de quem resiste mais”, explicou o cientista político Ricardo Sucre.

Os opositores foram às ruas em rejeição às sentenças, por meio das quais o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) assumiu as funções do Parlamento e retirou a imunidade dos congressistas. Essas sentenças foram parcialmente anuladas após fortes críticas da comunidade internacional.

Os manifestantes também exigem a realização das adiadas eleições para os governos municipais e estaduais, assim como garantias de que haverá eleição à Presidência em 2018, como determina a lei.

Algumas lideranças exigem eleições gerais imediatas, o que já foi descartado por Maduro.

A oposição reivindica ainda o fim da recente sanção que impede o ex-candidato à Presidência Henrique Capriles de exercer cargos públicos pelos próximos 15 anos, por acusações de irregularidades administrativas como governador de Miranda.

Nesta terça, o advogado de Capriles, Rafael Chavero, denunciou que o objetivo do governo é tirar seu cliente da disputa presidencial.

“Não há qualquer vontade do governo de reduzir a temperatura. Joga para o desgaste”, afirmou a psicóloga social Colette Capriles, esclarecendo não ter vínculos familiares com o líder da oposição.

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