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Passados 42 anos, a Voyager 2 ainda mapeia o espaço interestelar

A Voyager 2 deixou a órbita da Terra em 1977, um mês antes da sua gêmea Voyager 1, mas levou sete anos a mais para atingir o limite externo da heliosfera, a cerca de 18 bilhões de quilômetros de distância afp_tickers

Uma sonda lançada pela Nasa quatro dias após a morte de Elvis proporcionou um verdadeiro tesouro de dados além da “bolha solar” que envolve a Terra e nossos planetas vizinhos, relataram cientistas nesta segunda-feira.

Mas para cada mistério que a Voyager 2 resolveu sobre os ventos solares, campos magnéticos e raios cósmicos que golpeiam a fronteira entre o espaço interestelar e a esfera de influência do Sol, surgiu um novo.

A Voyager 2 deixou a órbita da Terra em 1977, um mês antes da sua gêmea Voyager 1, mas levou sete anos a mais para atingir o limite externo da heliosfera, a cerca de 18 bilhões de quilômetros de distância.

A heliosfera é formada pelo campo magnético do Sol e por ventos solares que podem atingir velocidades de três milhões de quilômetros por hora.

Ela pode ser comparada a um superpetroleiro cósmico atravessando o espaço, disse Edward Stone, professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia e principal autor de um dos cinco artigos publicados na revista Nature Astronomy.

“À medida que se move pelo meio interestelar, há uma onda na frente, assim como com a proa de um navio”, disse Stone a jornalistas por telefone.

Os cientistas esperavam responder a uma série de perguntas comparando os dados enviados pelas duas sondas, que perfuravam a bolha protetora do Sol em diferentes ângulos e locais.

“Não tínhamos nenhum dado quantitativo bom sobre quão grande é essa bolha que o Sol cria ao seu redor com vento solar supersônico e plasma ionizado acelerando em todas as direções”, disse Stone.

– ‘Vazamento’ de partículas –

A Voyager 2 confirmou, por exemplo, a existência de uma “barreira magnética” na borda externa da heliosfera, que havia sido prevista pela teoria e observada pela Voyager 1.

“Mas, ao contrário de todas as expectativas e previsões, a direção do campo magnético não mudou quando a Voyager 2 cruzou a heliopausa”, disse à AFP Leonard Burlaga, cientista do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa e principal pesquisador de um dos estudos.

A chamada heliopausa é a fronteira de contato relativamente fina, onde o vento solar de partículas carregadas e o vento interestelar colidem.

Os cientistas também ficaram surpresos com o fato de que levou 80 dias para a Voyager 2 atravessar essa barreira magnética, enquanto sua sonda irmã o fez em menos de um dia.

E há também o enigma do vazamento.

Quando a Voyager 1 cruzou o limiar da heliosfera, detectou partículas do espaço sideral – notadamente raios cósmicos – correndo na direção oposta.

“Na Voyager 2, foi exatamente o contrário”, disse Stone. “Depois que saímos da heliosfera, continuamos vendo partículas vazando de dentro para fora”.

Em pelo menos um caso, foi uma semelhança entre as duas missões que foi desconcertante.

– Johnny B. Goode –

“Isso é muito estranho”, disse Tom Krimigis, cientista do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins e autor sênior de um estudo que relata medições de partículas carregadas.

“Um cruzamento (da heliopausa) ocorreu no mínimo solar, quando a atividade solar é a menor, e o outro no máximo solar”, disse a jornalistas.

“Se considerarmos nossos modelos pelo valor nominal, esperamos que haja uma diferença maior”.

A atividade do Sol aumenta e diminui em ciclos de 11 anos.

Construídas para durar uma dúzia de anos, Voyager 1 e Voyager 2 partiram para explorar os planetas exteriores do sistema solar, não para se tornarem os primeiros objetos feitos pelo homem a sondar as profundezas do espaço interestelar.

Depois de 42 anos em ação, elas continuam fortes, embora ambas ficarão sem energia e silenciosas dentro de cinco anos, segundo os cientistas.

Mas isso não significa que elas desaparecerão, disse Bill Kurth, pesquisador da Universidade de Iowa e coautor do estudo focado nas ondas de plasma.

“Elas vão durar mais que a Terra”, disse. “Estão em suas próprias órbitas em torno da galáxia por cinco bilhões de anos ou mais, e a probabilidade de elas esbarrarem em algo é quase zero”.

Se a vida inteligente em um canto distante da Via Láctea encontrar alguma das sondas um dia, um “disco dourado” incluindo o desenho de um homem e de uma mulher nus, o som de pássaros e de baleias e “Johnny B. Goode”, de Chuck Berry, estarão a bordo.

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