Navigation

Pedro Castillo x Keiko Fujimori: segundo turno ameaça polarizar o Peru

O esquerdista professor Pedro Castillo caminha para garantir sua passagem às urnas no Peru, ao liderar com 17,49% o parcial das eleições de domingo no Peru afp_tickers
Este conteúdo foi publicado em 13. abril 2021 - 04:02
(AFP)

O esquerdista Pedro Castillo e a candidata da direita populista Keiko Fujimori se enfrentarão em 6 de junho no segundo turno das eleições presidenciais, que ameaçam polarizar o Peru, afetado por crises políticas recorrentes nos últimos cinco anos.

O professor de escola rural e a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que está preso, lideram, com 19,09% e 13,05% dos votos, respectivamente, o primeiro turno, após a apuração de 96% das cédulas emitidas nas eleições celebradas no domingo, que contou com um recorde de 18 candidatos e nenhum favorito.

O país, em recessão por causa da pandemia e quase ingovernável desde 2016, que contou com três presidentes em cinco dias em novembro, agora se encaminha para um segundo turno entre dois candidatos situados nos extremos do espectro político e que no total tiveram apenas 32% dos votos no primeiro turno.

Keiko, de 45 anos, defende o livre mercado, enquanto Castillo, de 51, é favorável a um ativo papel econômico do Estado, inclusive com nacionalizações.

O professor promete convocar uma Assembleia Constituinte, mas ela defende a Carga Magna vigente, promulgada por seu pai em 1993 e que privilegia o liberalismo econômico.

"Esta é uma competição entre os ricos e os pobres [...], também uma luta entre o padrão e o peão, e entre o senhor e o escravo", declarou Castillo em sua cidade natal de Cajamarca (norte).

No entanto, os dois candidatos coincidem em alguns temas: ambos são antiaborto, defendem a família tradicional, não dão importância aos direitos da comunidade LGBTI e rejeitam a abordagem de gênero nas escolas.

"O Livro do Gênesis diz que o homem e a mulher são uma só carne. Defendemos a família, que é a célula fundamental da sociedade", disse Castillo em janeiro.

- "Dengue ou covid-19" -

O analista político Augusto Álvarez Rodrich considera que "os dois candidatos despertam grandes preconceitos na população, que se expressa no antifujimorismo e no anticomunismo".

"os dois causam reservas da população, mas a democracia estabelece que se deve optar por um deles, o que põe os peruanos em uma encruzilhada. Optar por um parece ser uma escolha entre a dengue e a covid-19", disse o analista à AFP.

Álvarez Rodrich destacou que os dois dizem que vão indultar condenados pela justiça: "Keiko, seu pai, e Castillo, Antauro Humala. Estes são antecedentes muito negativos. No Chile votariam no neto de Augusto Pinochet?".

O pai de Keiko cumpre pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção. Antauro Humala é um militar nacionalista condenado também a 25 anos por liderar uma rebelião armada em 2005 e é irmão e adversário político do ex-presidente Ollanta Humala.

Além do polêmico legado do pai, Keiko é criticada por ter alimentado a instabilidade com a ferrenha oposição de sua bancada aos presidentes Pedro Pablo Kukzynski e Martín Vizcarra. O primeiro foi forçado a renunciar em 2018 e o segundo, deposto em 2020.

Keiko ainda enfrenta um pedido do Ministério Público de 30 anos de prisão em um próximo julgamento por suspeita de lavagem de dinheiro e outras acusações no âmbito do escândalo da Odebrecht.

- Polarização geográfica -

Para o cientista político Carlos Meléndez não só haverá polarização ideológica, mas também geográfica entre Lima e a opulenta costa norte versus "o resto do país andino e rural".

"Essa polarização, que se expressa territorialmente também vai ser uma polarização na opinião pública", disse à AFP Adriana Urrutia, chefe da Associação Civil Transparência.

"É preciso destacar que o Peru é um país profundamente desigual e que as desigualdades se exacerbaram devido à pandemia", acrescentou.

Adversários políticos tentaram ligar Castillo à Venezuela de Nicolás Maduro. No Peru, vivem mais de um milhão de venezuelanos que fugiram da crise naquele país.

Castillo também foi acusado de estar vinculado com o braço político do Sendero Luminoso, apesar de ter integrado em Cajamarca as "rondas camponesas" armadas que resistiam às incursões da derrotada guerrilha maoísta.

- Vizcarra lidera legislativas -

A contagem de votos nas eleições presidenciais praticamente terminou nesta terça, mas a passagem dos dois candidatos ao segundo turno deve ser proclamada pelo Juizado Nacional de Eleições, o que será feito em maio, segundo antecipou seu chefe, Jorge Luis Salas.

Ao contrário, a apuração da eleição ao Congresso avança mais lentamente e também é liderada pelos partidos de Castillo (Peru Livre) e de Keiko (Força Popular), com percentuais similares aos recebidos pelos dois.

No entanto, é o ex-presidente Vizcarra que colhe mais votos como candidato ao Congresso e conseguiria a primeira maioria nacional, segundo a imprensa local.

Mas o mesmo Congresso que o destituiu em um julgamento relâmpago se apressa a inabilitá-lo na sexta-feira por dez anos para exercer cargos públicos, acusado de ter se vacinado reservadamente contra a covid-19.

A Missão Eleitoral da OEA destacou "o compromisso cívico" dos peruanos, especialmente "dos adultos idosos ou pessoas com deficiência", que algumas vezes esperaram horas para votar.

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?

Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco

Leia nossas mais interessantes reportagens da semana

Assine agora e receba gratuitamente nossas melhores reportagens em sua caixa de correio eletrônico.

A política de privacidade da SRG SSR oferece informações adicionais sobre o processamento de dados.