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Pelo menos 50 soldados mortos em reduto jihadista na Síria

(Arquivo) Soldados na província de Aleppo afp_tickers

Os jihadistas ultra-radicais do Estado Islâmico (EI) mataram nesta sexta-feira pelo menos 50 soldados do Exército sírio em uma emboscada em Raqa, reduto do grupo no norte do país, afirmou uma ONG.

Os intensos combates entre o Exército e esse movimento jihadista sunita são uma das várias frentes da guerra que devasta a Síria há três anos, deixando mais de 170.000 mortos e obrigando nove milhões de pessoas a deixarem suas casas.

Na região de Raqa, reduto do EI, centenas de soldados batiam em retirada da base da Divisão 17, situada ao norte da cidade de mesmo nome, sob um forte ataque jihadista.

“Pelo menos 50 soldados caíram na emboscada. Alguns foram mortos em combate, mas a maioria foi decapitada. O destino dos outros não foi informado”, indicou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Soldados decapitados

Na província de Raqa, a base da Divisão 17 é uma das três posições ainda mantidas pelo regime, junto com a do Regimento 93, ao norte da cidade, e com o aeroporto de Tabqa, mais a oeste.

Já os militantes do EI indicaram 75 soldados executados pelos jihadistas. “Graças a Deus, 75 fugitivos da Divisão 17 foram capturados e decapitados em Abou Chareb”, tuitou um deles.

A imprensa oficial mantinha total silêncio a respeito do ataque.

Na noite desta sexta, o Exército se retirou totalmente da base da Divisão 17, indicou o OSDH, sem dar maiores detalhes.

Segundo o OSDH, os jihadistas do EI querem “limpar” os territórios controlados pelo grupo para ampliar a sua hegemonia.

Os combates começaram na quinta-feira e deixaram no total 69 mortos do lado do regime, incluindo os 50 soldados, e 28 entre os jihadistas, de acordo com o OSDH.

Grupo cria emirado na Síria

Enquanto isso, o grupo insurgente islamita Frente Al-Nosra anunciou a criação de um emirado na Síria, depois da proclamação de um califado pelo EI, dividindo ainda mais a rebelião que luta contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad.

Da mesma forma que o EI, a Frente Al-Nosra, ligada à Al-Qaeda, está estendendo sua zona de influência, conquistando localidades estratégicas e competindo com outros grupos rebeldes.

No fim de junho, o Estado Islâmico proclamou um califado nos territórios que controla, da cidade síria de Aleppo, no norte, à província iraquiana de Diyala, no leste.

Em 11 de julho, circulou na internet uma gravação de áudio, atribuída ao líder da Al-Nosra, Abu Mohammad al-Julani, anunciando a criação de um “emirado”.

“Chegou a hora, amados, de criar um emirado no Levante”, declarou Julani, acrescentando que as fronteiras seriam “o regime, os que exageram (o EI), os corruptos (os rebeldes)” e os curdos.

O Levante é uma zona geográfica histórica que abrange, entre outros países do Oriente Médio, a Síria.

Dias depois do anúncio da criação do emirado, foram travados os primeiros confrontos entre os membros da Al-Nosra e outros grupos rebeldes, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Até agora, os dois eram aliados na luta contra o regime de Assad.

Os enfrentamentos inéditos tornam mais complexo o conflito, que opõe não só os rebeldes ao governo, mas também os rebeldes aos jihadistas do EI.

Membros da oposição síria afirmam que essa mudança de postura se deve ao enfraquecimento da Al-Nosra nos últimos meses em sua disputa por influência com o EI, o que levou a uma reformulação de sua estratégia.

A Frente Al-Nosra surgiu na Síria no fim de 2011, um ano e meio antes da criação do EILL. Ao contrário desse grupo, a Al-Nosra integrou a rebelião e reivindicou vários ataques importantes contra o governo.

A guerra civil síria já causou mais de 170.000 mortes e deixou nove milhões de refugiados.

Seca agrava situação no país

Além da guerra que assola do país, a seca também afeta os sírios. O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho manifestou preocupação com a falta de água na Síria que pode comprometer seriamente a colheita.

O nível de água é baixo e as instalações de abastecimento estão danificadas, explicou nesta sexta a organização humanitária em um comunicado.

“O Crescente Vermelho árabe sírio e seus parceiros do Movimento estão cada vez mais preocupados com as consequências humanitárias da seca atual”, declarou o Dr. Abdul Rahman Attar, presidente do Crescente Vermelho árabe sírio.

Em um país onde metade da população sofre com a fome, segundo a ONU, um primeiro comboio de ajuda humanitária enviada sem o consentimento do governo sírio, chegou ao país a partir da Turquia, anunciaram as Nações Unidas.

Os nove caminhões transportavam alimentos e material médico, além de equipamentos para purificar a água e construir abrigos, segundo o Escritório de Coordenação das Relações Humanitárias das Nações Unidas.

Esta foi a primeira aplicação de uma resolução adotada no dia 14 de julho pelo Conselho de Segurança da ONU autorizando a entrada de comboios humanitários vindos de Turquia, Jordânia e Iraque sem o consentimento prévio do governo sírio.

A ONU avalia em 10,8 milhões o número de sírios que precisam de ajuda humanitária.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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