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Rússia responde às sanções por crise na Ucrânia; combates no centro de Donetsk

Dois homens andam em frente a uma cratera gerada após um ataque aéreo à ucraniana de Donetsk, em 6 de agosto de 2014. afp_tickers

Intensos combates alcançaram nesta quinta-feira o centro de Donetsk, reduto dos separatistas do leste da Ucrânia, em plena escalada das tensões entre o Ocidente e a Rússia, que impôs um embargo à importação de alimentos europeus e americanos.

Neste contexto, e com os crescentes temores de uma intervenção russa nesta ex-república soviética, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, anunciou no Twitter que estava nesta quinta-feira a Kiev para expressar seu apoio político ao governo ucraniano.

Em Donetsk, a maior cidade em mãos dos rebeldes, intensos bombardeios atingiram pela primeira vez o centro da cidade. As autoridades contabilizaram pelo menos quatro mortos civis e pediram às pessoas para se manterem abrigadas.

As autoridades regionais afirmaram que um obus atingiu um hospital, matando uma pessoa e ferindo outras duas. O prefeito relatou, por sua vez, tiros em torno das instalações dos serviços de segurança ucranianos, transformadas pelos separatistas em uma de suas principais bases. De acordo com a mesma fonte, três civis foram mortos durante a noite.

A ofensiva lançada pelo exército ucraniano há quatro meses no leste do país tem como objetivo isolar Donetsk do resto do território controlado pelos rebeldes, bem como da fronteira com a Rússia. Os combates se intensificaram consideravelmente nos últimos dias, mas se concentraram nos bairros periféricos.

Um porta-voz militar, Andrii Lysenko, confirmou “operações ofensivas” em andamento “em torno de Donetsk e Lugansk”, mas negou qualquer ataque da aviação.

20.000 soldados russos na fronteira

Em Kiev, Anders Fogh Rasmussen se reuniu com o primeiro-ministro Arseni Yatseniuk, antes de um encontro programado com o presidente Petro Poroshenko. As autoridades ucranianas já disseram que esperam um apoio militar e não apenas declarações políticas, como apelou no domingo o ministro da Defesa Valéri Gueleteï.

A Otan, da qual a Ucrânia não faz parte, estima que o número de soldados russos na fronteira ucraniana aumentou de 12.000 em meados de julho para 20.000 atualmente. Ela denunciou na quarta-feira uma “situação perigosa”, temendo que a Rússia use “o pretexto de uma missão humanitária ou de manutenção de paz para enviar soldados ao leste da Ucrânia”.

Durante uma conversa telefônica quarta-feira à noite, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente ucraniano expressaram sua preocupação com as declarações de Moscou “sugerindo” um papel a desempenhar na Ucrânia por meio de “forças de manutenção de paz”, segundo a Casa Branca.

A Rússia exige medidas de emergência na Ucrânia, onde a situação continua a deteriorar-se no terreno. Segundo a ONU, o conflito já matou mais de 1.100 pessoas em quase quatro meses e fez cerca de 300 mil refugiados.

Várias cidades em mãos dos rebeldes e sitiadas pelas forças ucranianas, incluindo Lugansk, enfrentam uma situação humanitária cada vez mais difícil, com dificuldades de abastecimento e escassez de água e eletricidade.

Embargo agrícola

Os últimos dias foram marcados por confrontos particularmente violentos. As forças ucranianas lamentavam nesta quinta-feira a morte de sete de seus soldados em 24 horas.

Kiev também optou por acabar com o cessar-fogo declarado no local da queda do avião da Malaysia Airlines, após a suspensão até nova ordem das buscas pelos restos mortais das 298 vítimas.

O primeiro-ministro holandês Mark Rutte considerou na quarta-feira que não havia condições de segurança para que os especialistas holandeses, australianos e malaios trabalhassem nos escombros do Boeing abatido por um míssil na zona rebelde em 17 de julho.

A tragédia obrigou os europeus, até então reticentes e divididos sobre a questão, adotar sanções econômicas contra a Rússia, que eles acusam de armar a rebelião separatista.

Em resposta, a Rússia proibiu nesta quinta-feira a importação de alimentos procedentes dos países da Europa e dos Estados Unidos.

A proibição afeta principalmente a carne bovina, suína e de frango, pescado, os laticínios, as verduras e frutas procedentes dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Canadá e Noruega.

Moscou também ameaçou fechar o espaço aéreo do país aos aviões que viajam entre a Europa e a Ásia pela Sibéria, a rota mais curta.

O fechamento do espaço aéreo russo para os voos entre Europa e Ásia provocaria às companhias que utilizam a rota importantes gastos de combustível.

Mas também provocaria perdas para principal companhia aérea russa, a Aeroflot, que recebe a cada ano entre 250 e 300 milhões de dólares de indenizações pelos voos de trânsito.

Já a União Europeia (UE) anunciou que se reserva o direito a adotar medidas contra Moscou após a decisão das autoridades russas de proibir durante um ano a importação de alimentos.

“Após uma avaliação completa pela Comissão Europeia das medidas adotadas pela Federação da Rússia, nos reservamos o direito de adotas as medidas apropriadas”, disse Frédéric Vincent, porta-voz da Comissão.

Vincent afirmou que as autoridades russas atuaram com motivação “claramente política”.

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