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Testes rápidos falharam na Itália no combate à segunda onda de covid-19

(ARQUIVOS) Nesta foto de arquivo tirada em 06 de novembro de 2020, um profissional de saúde segura um teste rápido de antígeno negativo para covid-19 na clínica Villa Mafalfa em Roma afp_tickers

Em uma tenda ao ar livre, um médico coleta material das narinas dos pacientes, esfrega em um papel e em poucos segundos, obtém o resultado: negativo.

Apesar de a Itália ter realizado milhões de testes deste tipo, não tem conseguido conter a segunda onda de covid-19.

Os resultados desta nova ferramenta permitem que os cidadãos circulem livremente quando são negativos e, portanto, países como França, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Eslováquia têm sido incentivados a seguir essa estratégia, agendando testes rápidos em farmácias, estações de trem, aeroportos e centros especializados.

“Esses testes nos permitirão fortalecer nossa capacidade diagnóstica”, explicou o ministro da Saúde da França, Olivier Véran, no domingo, em entrevista à imprensa.

Na Itália, esses testes não conseguiram, no entanto, conter a nova onda da epidemia, que registrou 623 mortes nesta quarta-feira (11) e mais de 32 mil novas infecções em 24 horas para um total de mais de um milhão de infectados.

“Acho que esses testes não estão sendo usados corretamente (…) porque são usados para monitorar, mas não são suficientes para isso”, alertou à AFP a professora de medicina molecular Andrea Crisanti, da Universidade de Pádua, uma das principais especialistas sobre a pandemia.

– Rápido e barato –

A vacina contra a covid-19, que pode estar pronta nas próximas semanas ou meses, não será capaz de conter a atual onda de infecções na Europa e em outros lugares.

Os políticos procuram soluções alternativas para evitar um bloqueio geral, preocupados com as graves consequências econômicas e sociais.

A Itália ordenou o fechamento de bares, restaurantes e lojas nas regiões mais afetadas e impôs um toque de recolher noturno em todo o país, mas não quis adotar um segundo bloqueio em toda a península, como o de março.

O teste do antígeno, com boa confiabilidade nos primeiros dias da infecção, é fundamental para essa estratégia. São rápidos, baratos e capazes de diagnosticar o vírus desde o início do contágio e em poucos minutos.

Os testes de PCR molecular são, sem dúvida, os mais confiáveis, mas demoram um ou dois dias para indicarem o resultado, podendo chegar a 7 dias devido à alta demanda.

“Ter um instrumento desse tipo é essencial, fica estabelecido imediatamente se o paciente tem o vírus. É um bom ponto de partida”, diz o médico de família Francesco Stevanato, que já realizou cerca de cinquenta exames em sua clínica em Veneza.

– Não é uma panaceia –

O teste deve ser utilizado em aeroportos para impulsionar viagens e turismo, e em escolas e empresas para que possam se manter abertas.

Para o professor Sergio Abrignani, da Universidade de Milão, que assinou em setembro uma carta junto com outros cientistas pedindo seu uso em escala nacional, não se trata de uma panaceia.

“Existem situações práticas em que o teste de antígeno é a melhor alternativa”, diz ele.

“Por exemplo, quando você viaja de trem ou navio e quer reduzir o risco. O teste molecular demora muito para dar uma resposta”, diz ele.

Na Itália, se o antígeno for positivo, é obrigatório fazer um teste de PCR para confirmar o resultado. Porém, como os testes rápidos são 80/90% precisos, há o risco de algumas pessoas infectadas passarem despercebidas.

“Se o objetivo é verificar se há transmissão em uma comunidade, ótimo”, diz Crisanti.

O Ministério da Saúde italiano garantiu à AFP que não existe uma estratégia específica para a utilização deste teste e que o que se pretende é o reforço da capacidade de realização de testes.

Em qualquer caso, uma abordagem nacional para a luta contra a covid-19 é muito difícil de aplicar na Itália. Cada um das 20 regiões são responsáveis a nível local pela política de saúde, o que cria enormes disparidades.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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