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Ucrânia assina acordo com UE em dia crucial para o leste do país

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, propôs prolongar o cessar-fogo decretado no leste da Ucrânia, ao mesmo tempo que exigiu a libertação dos reféns e o controle da fronteira entre seu país e a Rússia. afp_tickers

A Ucrânia assinou nesta sexta-feira um acordo de associação histórico com a União Europeia, o que provocou uma dura reação da Rússia, pressionada pela UE para que diminua a tensão no leste separatista do país.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, decidiu prolongar o cessar-fogo decretado para o leste da ex-república soviética até segunda-feira, coincidindo com o prazo dado pela União Europeia para que Moscou adote medidas concretas para reduzir a tensão na região, de acordo com uma fonte diplomática da UE.

Poroshenko também exigiu a libertação dos reféns, entre eles os observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e o fim da “infiltração” de armas e combatentes pela fronteira entre seu país e a Rússia, revelou a fonte.

Os líderes da UE, reunidos em Bruxelas, deram à Rússia até a próxima segunda-feira para que adote uma série de medidas concretas para propiciar a pacificação no leste da Ucrânia, sob pena de mais sanções, segundo um comunicado oficial da cúpula de Bruxelas divulgado nesta sexta-feira.

As medidas concretas exigidas pelos líderes da UE incluem a libertação de todos os reféns na região, o retorno às autoridades ucranianas de três postos fronteiriços, negociações sobre o plano de paz ucraniano e um mecanismo de vigilância de sua aplicação.

“Que grande dia! Provavelmente o mais importante para meu país desde a independência em 1991”, declarou Poroshenko antes da assinatura deste acordo comercial, que pretende suprimir a maioria das barreiras alfandegárias entre a UE e a Ucrânia, país de 45 milhões de habitantes com importantes setores metalúrgicos e agrícolas.

O acordo de associação UE-Ucrânia é o mesmo que o antecessor de Poroshenko, o destituído Viktor Yanukovytch, se recusou a assinar em novembro, o que provocou uma onda de protestos, a queda de Yanukovytch e o conflito com a Rússia, que anexou em março a Crimeia a seu território.

Desde então, Kiev lançou uma operação militar para reprimir a insurreição separatista pró-russa no leste do país que já deixou mais de 400 mortos.

“É um grande dia para a Europa. A União Europeia está a seu lado, hoje mais do que nunca”, declarou por sua vez Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu.

Na Rússia, o presidente Vladimir Putin lamentou a assinatura do acordo.

“O golpe de Estado inconstitucional em Kiev e as tentativas para impor ao povo ucraniano a escolha artificial entre Europa e Rússia empurraram a sociedade para a divisão e para um doloroso confronto interno”, declarou Putin a um canal de televisão russo.

“No sudeste do país corre o sangue, há uma catástrofe humanitária em curso, milhares de pessoas fogem dos combates buscando refúgio em outros lugares, entre eles a Rússia”, completou.

Consequências graves

A assinatura deste acordo acaba com as esperanças do presidente russo de incorporar a Ucrânia à recente União Econômica Euro-asiática, criada pela Rússia em parceria com outras ex-repúblicas soviéticas, Belarus e Cazaquistão.

Geórgia e Moldávia, também ex-repúblicas soviéticas, assinaram nesta sexta-feira o mesmo acordo de associação com a UE.

Mas o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Grigori Karasin, advertiu para as consequências.

A Rússia teme a entrada em seu território de produtos fabricados na UE via Ucrânia em detrimento de sua produção nacional e considera que Kiev não pode manter relações comerciais privilegiadas com Bruxelas e Moscou ao mesmo tempo.

Desta forma, o Kremlin garantiu que vai adotar medidas para defender sua economia no momento das consequências negativas.

Durante a campanha eleitoral, o presidente ucraniano prometeu em maio orientar a Ucrânia em direção a Europa. Poroshenko considera que este acordo é um primeiro passo para a entrada de seu país na União Europeia.

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, assinou em março o primeiro capítulo do acordo com a UE de caráter político.

110.000 pessoas fogem da Ucrânia

Na quinta-feira, Poroshenko disse estar disposto a alcançar um acordo de paz com Putin.

Representantes de Kiev e líderes separatistas também iniciaram uma terceira rodada de negociações diretas em Donetsk, apesar de os combates continuarem.

De acordo com o Exército, cinco soldados ucranianos morreram na quinta-feira à noite em ataques rebeldes.

Desde o início de 2014, um total de 110.000 pessoas fugiram da Ucrânia para a Rússia e outras 54.400 optaram por abandonar suas casas e seguir para outros pontos do país, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Além disso, o presidente da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), o suíço Didier Burkhalter, comemorou a libertação de quatro observadores sequestrados no leste da Ucrânia há um mês, mas pediu a libertação dos oito funcionários que permanecem detidos.

Os quatro observadores sequestrados em 26 de maio por rebeldes pró-Rússia chegaram na quinta-feira à noite em um hotel de Donetsk, reduto dos separatistas no leste da Ucrânia.

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