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Uruguai diz que mal-entendido levou a pensar que Brasil pressionava

(Arquivo) O presidente uruguaio, Tabaré Vázquez afp_tickers

O governo uruguaio informou que um “mal-entendido” levou seu chanceler a considerar que o Brasil tentou pressioná-lo para que se opusesse à transferência da presidência rotativa do Mercosul à Venezuela.

“Cabe destacar que houve um mal-entendido sobre a proposta brasileira de efetuar atividades conjuntas de promoção comercial entre os dois países em terceiros mercados, e que agora ficou perfeitamente claro que a mesma não tem relação alguma com a consideração da transferência da presidência pro tempore do Mercosul”, destacou a chancelaria uruguaia em um comunicado publicado nesta quarta-feira.

Na terça-feira, em um fato sem precedentes em décadas, a chancelaria convocou o embaixador uruguaio em Brasília para que desse explicações sobre as declarações do ministro uruguaio das Relações Exteriores, Rodolfo Nin Novoa, que acusou o Brasil de querer mudar a posição de Montevidéu sobre a transferência da presidência pro tempore do Mercosul para a Venezuela, oferecendo-lhe participar de negociações com terceiros países.

O Brasil “recebeu com profundo mal-estar e surpresa as declarações do chanceler Nin Novoa sobre a visita do ministro José Serra ao Uruguai”, em julho, anunciou, em um comunicado publicado pelo Itamaraty.

Segundo a taquigrafia de uma reunião com a Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Deputados, à qual a AFP teve acesso, Nin Novoa acusou Serra de tentar “comprar o voto” uruguaio.

“Quanto ao chanceler Serra e ao que disse – que, por outro lado era certo, tratava-se de um governo (interino de Michel Temer) que não se sabia quanto iria durar -, não gostamos muito que viesse ao Uruguai dizer – o tornou público, por isso o digo – que vinham com a pretensão de que a transferência fosse suspensa e que, além disso, se fosse suspensa, nos levariam em suas negociações com outros países, como que querendo comprar o voto do Uruguai”, disse Nin Novoa aos legisladores, segundo o documento oficial, divulgado pelo jornal local El País.

“Isso me incomodou bastante e também incomodou muito o presidente (Tabaré Vázquez)”, acrescentou Nin Novoa.

Durante coletiva de imprensa em julho, em Montevidéu, Serra ofereceu incluir o Uruguai em negociações comerciais com terceiros países.

A Venezuela considera ter assumido a presidência do Mercosul, depois que o Uruguai concluiu seu período, em julho, sem ato de transferência, como costuma acontecer, mas os outros parceiros do bloco – Brasil, Argentina e Paraguai – não reconhecem o governo de Nicolás Maduro no posto.

O chanceler brasileiro chegou a dizer a jornalistas nesta quarta-feira que “a Venezuela não vai assumir o Mercosul, isto é certo”.

“A Venezuela vive sob um regime autoritário, não democrático. Um país que tem presos políticos não pode ser um país democrático”, acrescentou.

O Mercosul inclui em sua norma a possibilidade de suspender seus parceiros se os demais entenderem que houve quebra institucional que afete a democracia.

Serra deu por superado o desentendimento com o Uruguai.

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