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Vinicultura renasce na Geórgia com uso de método tradicional

O produtor de vinhos Guela Danelia mostra uma de suas garrafa em sua loja, na cidade de Batumi, em 30 de maio de 2014 afp_tickers

Numa loja bem escondida do labirinto de ruas de Batumi, cidade portuária da Geórgia às margens do mar Negro, turistas se apinham para provar o vinho de Guela Danelia. Para produzir sua bebida, o produtor de vinhos recorreu aos métodos ancestrais tipicamente georgianos.

“Produzo apenas cerca de 8.000 garrafas por ano, mas o mais importante a meu ver é que retomamos uma técnica mantida em segredo durante muitos anos por meus ancestrais”, diz à AFP o homem de 58 anos.

“A técnica única que nós utilizamos pertence à tradição milenar georgiana” de produção de vinhos, explica Danelia, sem dar mais detalhes.

O viticultor faz parte da nova geração de produtores georgianos que procuram diversificar seus mercados para além do tradicional – e imprevisível – cliente russo. O objetivo é chegar até clientes internacionais, voltando a métodos que tinham caído em esquecimento.

A tradição georgiana implica especialmente na conservação e fermentação do vinho durante meses – até anos – em jarras de argila gigantes, de 300 a 500 litros, chamadas Kvevris, que são enterradas no chão.

Quase todo lar georgiano produz seu próprio vinho utilizando as Kvevris, mas até agora o método não era utilizado para produção em larga escala.

Muitos especialistas consideram a Geórgia como o berço do vinho. Buscas arqueológicas mostraram que a vitivinicultura nesta pequena república do Cáucaso remonta a 7.000 antes de Cristo, muito antes da prática chegar à Europa.

O vinho tem um papel central na cultura desta antiga república soviética situada entre o mar Negro e as montanhas do Cáucaso. Ele é bebido sem moderação durante baquetes que duram horas, embalados por brindes propostos pelo “tamada”, ou mestre de cerimônia, que mais lembram repentistas.

“A adega ainda é considerada como o local mais importante da casa”, escreve a Unesco.

Na época da URSS, os métodos tradicionais foram deixados de lado em detrimento de uma produção em larga escala, apta a matar a sede de um país enorme.

“Toda bebida vermelha com o selo georgiano tinha a garantia de ser vendida na Rússia e a situação levou, inevitavelmente, a uma deterioração significativa da qualidade dos nossos vinhos”, explica Danelia.

O comunismo também desorganizou a produção, expropriando todos os proprietários de vinícolas após a anexação da Geórgia pela URSS, em 1921. Assim, as autoridades bolcheviques nacionalizaram, e depois fecharam, o negócio da família Danelia, mandando vários de seus membros para o Gulag [ndlr: sistema de campos de trabalho forçados soviético].

Foram necessários muitos anos e batalhas judiciais para que Danelia pudesse recuperar uma pequena parte da vinícola da família. Somente em 1999 ele conseguiu retomar a produção para, em 2005, reabrir a loja.

– Método inscrito na Unesco-

Após anos de produção em massa para a clientela russa, a situação mudou radicalmente para os produtores de vinho nos anos 2000 com a crise entre Rússia e Geórgia, cujo ápice consistiu na entrada de tanques russos no território georgiano em 2008.

O Kremlin impôs desde 2006 um embargo sobre o vinho georgiano, forçando os produtores locais a encontrar outros mercados e a privilegiar, a partir de então, a qualidade.

“Se nós quisermos criar nosso nicho no mercado internacional, nós devemos ressuscitar o que torna nossos vinhos especiais: as técnicas ancestrais e as variedades de vinhos”, avalia Levan Kitia, membro do Georgian Wine Club.

Moscou suspendeu o embargo em 2013. Mas, no meio tempo, inúmeros produtores já tinham chegado a outros países e haviam praticamente retomado os mesmos níveis de produção anteriores ao bloqueio russo.

“O renascimento da produção tradicional de vinho georgiano está no caminho certo”, resume Malkhaz Kharbedia, presidente do clube de vinho da Geórgia.

Um renascimento que obteve reconhecimento internacional depois que a Unesco tombou, em 2013, o método georgiano de vinificação tradicional como patrimônio cultural imaterial da humanidade.

“O método dá resultados particularmente bons para a produção de vinhos ‘laranja'”, uma tradição local que consiste em deixar fermentar, assim como nos vinhos tintos, um vinho branco com a casca da uva, diz Kharbedia.

A Geórgia se vangloria de ser precursora deste método de vinificação, hoje usado “na Itália, França, Alemanha, Nova Zelândia e na Califórnia”, segundo ele.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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