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Vizcarra questiona legitimidade do novo governo peruano e ganha apoio de manifestantes

Manifestantes tomam a praça San Martín, em Lima afp_tickers

Três dias após ser destituído em um julgamento político relâmpago, o ex-presidente peruano Martín Vizcarra questionou nesta quinta-feira (12) a legitimidade do novo governo, de Manuel Merino, e pediu à população que protestasse pacificamente nas ruas.

Milhares de peruanos protestaram na quinta-feira em Lima e outras cidades em repúdio a Merino, um movimento convocado por grupos sociais.

Os manifestantes se reuniram na praça San Martín e no parque do distrito de Miraflores, zona sul da capital, para expressar oposição ao novo governo.

Um grupo que tentou entrar no Congresso foi dispersado pela polícia com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Os manifestantes queimaram objetos e enfrentaram os agentes com paus e pedras.

Alguns policiais, jornalistas e manifestantes ficaram feridos após os confrontos.

A Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos informou que dezenas de pessoas foram detidas após os protestos.

“A legalidade está em questão e a legitimidade, que é dada pelo povo, estamos vendo nas ruas” com as manifestações contra Merino, disse Vizcarra mais cedo a jornalistas ao entrar no Ministério Público para depor sobre a causa da suposta corrupção que o destituiu.

Na última segunda-feira, o Congresso destituiu Vizcarra por “incapacidade moral” no encerramento de um segundo julgamento político contra ele em menos de dois meses, após denúncias de que ele havia recebido propina para autorizar obras públicas quando era governador da região sul de Moquegua, em 2014, acusações negadas por ele.

“Até a OEA solicitou o pronunciamento do Tribunal Constitucional” sobre a legalidade da destituição, assinalou o popular ex-presidente.

Merino, opositor que liderava o Congresso, pediu calma nesta quinta-feira. “Não iremos fazer nenhuma mudança traumática”, prometeu, após seus novos ministros, de maioria conservadora, prestarem juramento, e afirmou que irá manter “as boas decisões” do governo Vizcarra.

Ao assumir o governo na terça-feira, ele afirmou que vai respeitar o calendário das próximas eleições, previstas para 11 de abril de 2021, e que deixará o poder em 28 de julho do próximo ano, dia em que acabaria o mandato de Vizcarra.

– Protestos em várias cidades –

Merino voltou a ser alvo de protestos. “Não concordamos com isso que o Congresso faz. Que necessidade de fazer essa barbaridade, de destituir Vizcarra!”, contestou Irene Aguilar, que compareceu, acompanhada da filha, ao parque Miraflores, em Lima.

“Merino não é presidente!”, “Nem a Covid nos fez tanto mal quanto Merino”, diziam cartazes exibidos por manifestantes em outro protesto, na praça San Martín da capital. Passeatas semelhantes ocorreram ao cair da noite em outras cidades.

Vizcarra, que conta com níveis recorde de apoio da população, defendeu o direito dos peruanos de protestar contra Merino, o que ocorre diariamente desde a última terça-feira. “Temos que fazer um apelo à população para que se expresse pacificamente (…), as manifestações têm que ser permitidas”, disse ele a poucas horas de novas manifestações convocadas em Lima e outras cidades.

“A resposta está sendo dada pelas pessoas [nas ruas] ao Sr. Merino”, acrescentou. “Também pedimos à Polícia Nacional que respeite as manifestações”, disse, afirmando que com o novo governo “temos visto agora uma polícia agressiva”.

Um tribunal decidirá amanhã sobre o pedido do MP de proibir Vizcarra de deixar o país por 18 meses, enquanto as investigações avançam. O ex-presidente garantiu que não deixará o Peru, não se refugiará em embaixada, nem será hospitalizado para evitar as investigações.

– Novo gabinete –

Os 18 membros do gabinete de Merino prestaram juramento na quinta-feira, em meio à preocupação dos mercados com o risco de uma tendência populista do novo governo antes das eleições gerais de abril de 2021.

A OEA confirmou que enviará uma missão de observadores eleitorais ao Peru para a preparação das eleições gerais de abril, um dia após expressar “preocupação profunda” com a crise política no país andino.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o representante da alta comissária de Direitos Humanos da ONU na América do Sul expressaram preocupação com a forma de agir da polícia peruana durante os protestos.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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