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As mãos colombianas que protegem vidas na Ucrânia

Um funcionário da MC Armor organiza caixas com equipamentos de proteção balística para serem exportados para a Ucrânia, na fábrica da empresa em Cota, perto de Bogotá, em 24 de março de 2022 afp_tickers

Cerca de 700 pessoas trabalham a todo vapor em uma fábrica colombiana para atender aos crescentes pedidos da Ucrânia. Elas produzem capacetes e coletes blindados para civis e soldados que se defendem da invasão russa.

Alguns cortam, outros colam, outros costuram, em uma vertiginosa escala de turnos cada vez mais intensos na empresa MC Armor, a cerca de 14 quilômetros da capital Bogotá.

“Desde o início da guerra (na Ucrânia), os pedidos e doações dispararam”, disse Miguel Caballero (54), fundador da empresa.

Eles passaram de cerca de 200 peças blindadas exportadas por mês para mais de 2.400, desde que as tropas russas avançaram em território ucraniano em 24 de fevereiro.

“O que fizemos em um ano em vendas estamos fazendo em três ou quatro semanas”, explica o diretor.

Na planta, cartazes exibem a frase “We stand with Ukraine” (Estamos com a Ucrânia).

A MC Armour nasceu há 30 anos em meio ao conflito armado colombiano que contrapõe guerrilheiros, paramilitares, narcotraficantes e agentes do Estado há mais de meio século.

Caballero percorre as estações de trabalho uma a uma e monitora cuidadosamente as diferentes etapas de fabricação.

“Aqui a guerra nos ensinou algo de positivo (…) conhecimento, experiência, qualidade ficaram do conflito colombiano”, diz o chefe da empresa certificada com selos internacionais e nacionais.

Capacetes, coletes, roupas, escudos, balaclavas, luvas, entre outras vestimentas à prova de balas, lhe valeram um nome no mercado mundial; 80% de sua produção é exportada para 42 países.

María Tapias, 58 anos, funcionária da fábrica desde sua fundação, dobra uma montanha de coletes à prova de balas.

“Estou orgulhosa de poder enviar produtos para a Ucrânia para salvar muitas vidas de pessoas inocentes”, diz ela.

– Guerra não é negócio –

Os persistentes bombardeios e combates russos na Ucrânia já deixaram milhares de mortos.

Chegar ao país do Leste Europeu tornou-se um desafio logístico “complicado”, mas Caballero não se intimida.

“O principal obstáculo é que o céu na Ucrânia está fechado, então temos que chegar por outros países, principalmente pela Polônia ou pela Comunidade Europeia”, explica.

Os despachos consistem em um kit de proteção que inclui um capacete e um colete blindado por cerca de 1.200 dólares, destinados a médicos, jornalistas, “civis que estão saindo para defender seu país e as forças militares ucranianas”, segundo Caballero.

Diante da crescente demanda, os funcionários reduziram os tempos de produção. Há um mês, fabricar 50 kits levava 120 dias, hoje são apenas 12.

“Estamos trabalhando de domingo a domingo, estamos um pouco exaustos”, diz María Tapias.

Com décadas de experiência, a MC Armour também vestiu 41 chefes de estado, com roupas seguras e elegantes.

Como controle de qualidade, Caballero e seus funcionários foram baleados em trajes blindados. Ninguém, segundo ele, ficou ferido.

Embora os conflitos aumentem sua renda, o diretor insiste que sua missão “não é lucrar com a guerra”.

“Não vendemos armas nem munições (…) nossa missão é salvar a vida de seres humanos”, diz enfaticamente.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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