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Brasil viveu em março pior mês da pandemia e teme abril ainda mais trágico

Enterro de vítima da covid-19 no cemitério municipal São João de Porto Alegre, em 26 de março de 2021 afp_tickers

Março já é de longe o pior mês da pandemia no Brasil, com mais de 66.000 mortos, e os especialistas preveem outro mês trágico em abril, com hospitais saturados e, em alguns casos, forçados a escolher quem receberá atendimento.

De 1º a 31 de março, foram registradas 66.573 mortes por covid-19, mais que o dobro dos 32.881 de julho de 2020, que havia sido o mês mais letal até agora.

Esta quarta foi registrado um novo recorde diário de óbitos: 3.869 em 24 horas, elevando o total de falecidos pela covid a 321.515, um balanço superado apenas pelos Estados Unidos. A média em sete dias, que cresce sem parar desde fevereiro, é de 2.976, mais do que o quádruplo do início do ano.

“Nunca um único evento gerou tantas mortes em 30 dias na história do Brasil”, disse à AFP o médico Miguel Nicolelis, ex-coordenador da Comissão Científica formada pelos estados do Nordeste para enfrentar a pandemia.

“É o pior momento, com o maior número de óbitos e maior número de casos. O que indica que o mês de abril ainda vai ser muito ruim”, comentou, por sua vez, a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

A semana de 21 a 27 de março também foi a que registrou mais casos (quase 540.000), o que significa que, em duas semanas, haverá mais pessoas precisando de internação. Desde o início da pandemia, foram 12,7 milhões de infectados no país.

Mas os hospitais já estão saturados: 18 das 27 unidades da federação têm mais de 90% de seus leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para covid-19 ocupados, e outros sete registram uma ocupação entre 84% e 89%, segundo o último boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Vários estados começaram a adotar protocolos para alocar os leitos disponíveis para pacientes com mais chances de sobreviver.

“Chegamos a uma situação muito trágica, semelhante à que aconteceu na Itália” no início do ano passado, disse Maciel à AFP.

Pelo menos 230 pessoas com covid-19 ou suspeitas de estarem com a doença faleceram em março à espera de leito em uma UTI da região metropolitana de São Paulo, segundo a TV Globo.

E os temores aumentam com a proximidade do inverno, quando há maior demanda para internações por outras doenças respiratórias.

“Podemos ter uma confluência de todas essas demandas junto com índices ainda muito altos de casos de covid, gerando o que chamo de tempestade perfeita nos meses de inverno no Brasil”, afirma Nicolelis.

“A pandemia está completamente fora de controle e a possibilidade de atingirmos 4.000 óbitos por dia é muito real já a partir desta semana. E, com isso, a perspectiva de atingirmos um total de meio milhão de óbitos até julho passa a ser muito possível”, acrescenta.

– Mobilidade social, novas variantes –

A gestão caótica da pandemia fez este mês com que o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, um militar sem experiência na área, fosse substituído pelo cardiologista Marcelo Queiroga, quarto titular da pasta em um ano.

Após a primeira reunião do comitê recém-formado pelo governo e o Congresso para combater a pandemia, Queiroga pediu nesta quarta aos brasileiros que usem máscaras e mantenham o isolamento durante o feriado da Semana Santa.

Mas o presidente Jair Bolsonaro, que desde o início da pandemia menosprezou a gravidade da doença e promoveu aglomerações sem uso de máscara, voltou a criticar as medidas de isolamento social, devido a seus efeitos negativos para a economia.

“Não é ficando em casa que nós vamos solucionar esse problema”, disse, na contramão dos líderes do Congresso e do seu próprio ministro da Saúde.

Os confinamentos sempre foram parciais e pouco respeitados no Brasil. Alguns estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, declararam feriados prolongados este mês, mas a medida pode ser contraproducente devido ao alto número de pessoas que decidiram viajar ao invés de ficar em casa.

A mobilidade social também aumenta o risco de novas variantes mais contagiosas, como as que surgiram no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil.

“Estamos gerando uma série de mutações, uma série de novas variantes, e isso não é uma ameaça só para o Brasil, é uma ameaça para o mundo todo, começando pela América do Sul”, ressalta o especialista.

O colapso dos hospitais coloca o Brasil “na fronteira de um colapso funerário”, aponta.

“Em São Paulo e Porto Alegre, já existem filas para enterros, filas em cartórios, já existe uma dificuldade de conseguir urnas funerárias”, relata.

– Vacinação lenta –

Enquanto isso, a vacinação avança lentamente.

Até o momento, em torno de 8% da população recebeu a primeira dose e 2,3% está totalmente imunizada com uma das duas vacinas disponíveis no país: a chinesa CoronaVac e a anglo-sueca da AstraZeneca.

A crise da saúde anda de mãos dadas com a crise econômica. O desemprego passou de 11,2%, em janeiro de 2020, para 14,2%, em janeiro deste ano, afetando 14,3 milhões de pessoas.

No ano passado, um terço da população conseguiu sobreviver com o auxílio emergencial, suspenso em janeiro. Esses pagamentos serão retomados em abril, mas em valores menores.

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