
Estudar na Suíça: o reverso da medalha

A Suíça e suas paisagens alpinas deslumbrantes, sua tecnologia avançada de um país certinho de 1° mundo, faz sonhar...
Estudantes estrangeiros que aqui chegam descobrem uma realidade mais complexa e devem aprender a adaptar-se a um outro modo de vida.
“De um dia para outro, mudar de país, mudar de língua, mudar de hábitos alimentares, não é mole”. A constatação é de Amon da Costa, brasileiro, 25 anos, graduado em História Geral que chegou na Suíça para estudar, em meados de 2003.
Esse porto-alegrense, constata que mudou até de família. Como fez amizade com um arquiteto suíço que participou do último Fórum Social de Porto Alegre (a quem cedeu a casa), Amon acabou conseguindo vir para a Suíça, graças em boa parte à generosidade do arquiteto e de sua esposa.
Obstáculos
A primeira surpresa para Amon: o arquiteto teve que assinar um termo de responsabilidade financeira pelo seu “protegido”, que não dispunha de todos os meios (monetários) necessários para permanecer na Suíça.
Foi assim que pôde inscrever-se em curso intensivo de francês, em Friburgo, na perspectiva de preparar um mestrado em história das Relações Internacionais. (O francês é importante, lembra, porque a documentação na língua de Molière é predominante).
A principal dificuldade em resolver seu problema de meios para estudar num país de custo de vida elevado vinha justamente do fato de não falar nenhum dos idiomas oficiais da Suíça. Como conseguir uma bolsa de estudos?
Amon se surpreendeu também com o fato de ter de entrar na rotina da vida do anfitrião (casado com uma psicóloga, e sem filhos). Vindo de uma família de classe média mais que remediada, dispunha de empregada em casa – algo praticamente inexistente na Suíça – e nunca pensou em ter que comprar comida, aprender a cozinhar, tirar a poeira dos móveis ou limpar ou chão.
Susto
Em Berna, faz tudo isso. Por exemplo, observa um rodízio, fazendo o jantar de dois em dois dias.
O choque maior, porém, para ele foi a dificuldade de integrar-se com jovens suíços. Simplesmente porque na Suíça aquela camaradagem à brasileira não existe. Aqui os amigos são geralmente de longa data. E, para entrar no círculo, é um pouco mais complicado… É uma atitude que o brasileiro facilmente qualifica de formal e fria, mas inteiramente normal para os padrões do país.
Resultado: as amizades que os brasileiros como Amon fazem é com outros estrangeiros, em geral de países em desenvolvimento. As afinidades lingüísticas e culturais desempenham aí papel importante.
A percepção de Fabrício
As diferenças dificultam, portanto, a integração. Mas a percepção do problema pode variar muito de uma pessoa para outra. Um exemplo: o de Fabrício Rabelo, 22 anos, mineiro de Diamantina.
Fabrício está na Suíça para aprender alemão, porque quer cursar Ciências da Computação, em Berna, onde reside atualmente e onde se beneficia igualmente de ajuda de uma família.
Mas o mineiro conseguiu integrar-se com pessoas de sua idade através da capoeira. Como professor desse esporte (e luta), ele pôde quebrar o gelo, conhecer muita gente e estabelecer contatos sociais e mesmo amizades.
Entrar no esquema
Conversando com brasileiros recém-chegados à Suíça constata-se que geralmente a maioria não entende que precisa também fazer um esforço de adaptação (sem renunciar à própria identidade). Eles vivem em país de outra cultura que tem referências e regras próprias.
Uma exigência elementar é falar a língua utilizada no lugar onde se vive. Isso é obviamente a base de uma integração.
Outro detalhe: o suíço é pontual. Chegar atrasado a compromissos, comportamento comum do brasileiro, “pode dar ensejo a um escândalo e à advertência de que os brasileiros não são dignos de confiança, justamente porque não cumprem compromissos”, diz Wellerson Miranda Pereira, advogado, 26 anos, bolsista do governo suíço.
País intrigante
Para Wellerson, que é natural de Brasília, essa atitude o obrigou a ser mais “recatado”, mais reservado e mais sério do que quando chegou, em meados de 2003. “A diferença – explica o advogado que faz especialização em direito do consumidor – é que as pessoas
aqui são francas, são diretas no que dizem e pensam, características normalmente evitadas pela nossa cultura”.
A compreensão mútua passa por detalhes tão rudimentares como estes. Compreensão que leva a ver melhor os lados positivos da Suíça “um país – constata Wellerson – realmente intrigante, pois consegue reunir quatro diferentes culturas (alemã, francesa, italiana e romanche), ter quatro línguas oficiais, e ainda manter a estabilidade e soberania nacionais”.
swissinfo, J.Gabriel Barbosa

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