Defesa Civil de Gaza relata ao menos 80 mortos em bombardeios israelenses

A Defesa Civil de Gaza informou nesta quarta-feira (14) pelo menos 80 mortos em bombardeios israelenses na sitiada e devastada Faixa de Gaza, onde a ONG Médicos Sem Fronteiras considera que Israel está criando as condições para uma “erradicação dos palestinos”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se reuniu com o enviado americano Steve Witkoff, com quem conversou sobre a libertação de reféns em poder do movimento islamista palestino Hamas em Gaza.
Na terça-feira, enviou uma delegação ao Catar para participar das negociações. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também viajou ao país, como parte de uma gira pelo Oriente Médio.
O Hamas, que governa o estreito território desde 2007, libertou na segunda-feira o refém israelense-americano Edan Alexander, mantido em cativeiro em Gaza desde o ataque do grupo islamista em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.
O Exército interrompeu os combates para permitir a libertação, mas os bombardeios foram retomados na terça-feira, quando Netanyahu anunciou uma intensificação da ofensiva em Gaza.
Segundo o último balanço da Defesa Civil palestina, os ataques israelenses mataram nesta quarta-feira pelo menos 80 pessoas.
As forças israelenses, que romperam uma trégua de dois meses com o Hamas em 18 de março, também bloqueiam desde 2 de março qualquer entrada de ajuda humanitária em Gaza, onde 2,4 milhões de habitantes enfrentam fome, escassez de medicamentos e de combustível.
A Médicos Sem Fronteiras denunciou que Israel está criando as condições para uma “catástrofe humanitária deliberada” e o acusou de tentar condicionar a ajuda a um deslocamento forçado de seus habitantes.
“Estamos testemunhando, em tempo real, a criação das condições para uma erradicação dos palestinos em Gaza”, alertou a ONG em um comunicado.
– “Quem não morre por míssil, morre de fome” –
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu o fim das barreiras à entrada de ajuda humanitária, e várias ONGs, entre elas a Médicos do Mundo e a Oxfam, alertaram sobre o risco de uma “fome em massa” caso o bloqueio continue.
Imagens da AFP feitas em Jabaliya, no norte de Gaza, mostraram mulheres chorando ao redor de mortalhas brancas manchadas de sangue.
“É um bebê de nove meses. O que ele fez de errado?”, gritava uma delas. “Os que não morrem por um míssil morrem de fome, e os que não morrem de fome morrem por falta de medicamentos”, denunciou Hassan Moqbel.
Mohamad Awad, um médico do hospital indonésio próximo a Jabaliya, declarou à AFP que seu departamento estava com dificuldades para lidar com o grande número de feridos.
“Não há leitos suficientes, nem medicamentos, nem meios para tratamento cirúrgico ou clínico (…) Muitos dos feridos estão morrendo por falta de cuidados”, afirmou.
“Os corpos dos mártires estão estendidos no chão dos corredores do hospital (…). A situação é catastrófica”, alertou.
O Exército israelense pediu nesta quarta-feira a evacuação da zona de Rimal, na Cidade de Gaza, antes de um ataque de “grande intensidade”. Israel bombardeou na terça-feira dois hospitais em Khan Yunis, no sul do território.
Segundo o Exército, esses estabelecimentos abrigavam “um centro de comando e controle” do Hamas, considerado organização terrorista por Israel, pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
– Israel intensifica a ofensiva –
Coincidindo com a libertação do refém americano-israelense Edan Alexander, o Hamas pediu na segunda-feira à administração Trump que “prossiga com seus esforços” para pôr fim à guerra.
Sessenta e sete ex-reféns pediram, por sua vez, em uma carta a Netanyahu e a Trump, que encontrem uma “solução negociada” para garantir a libertação de todos os cativos ainda em Gaza.
“A maioria da sociedade israelense quer os reféns em casa, mesmo que isso signifique parar as operações militares”, afirmaram.
O primeiro-ministro israelense, no entanto, anunciou na terça-feira a intensificação da ofensiva. “Não haverá situação em que possamos parar a guerra. Pode haver uma trégua temporária, mas vamos com tudo”, enfatizou.
O presidente palestino, Mahmud Abbas, acusou Netanyahu na quarta-feira de continuar a guerra “por motivos pessoais” e pediu um “cessar-fogo a qualquer custo” em Gaza.
Israel prometeu destruir o Hamas após o ataque de 7 de outubro de 2023, quando milicianos islamistas mataram 1.218 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais.
Eles também capturaram, naquele dia, 251 pessoas, das quais 57 continuam retidas em Gaza, incluindo 34 que o Exército israelense declarou como mortas.
A ofensiva israelense em represália já matou pelo menos 52.928 pessoas em Gaza, também em sua maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.
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