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Pequenas empresas e grandes inovações: “startups” suíças

“Na Suíça, fundar uma start-up não é bem visto socialmente”

PD

A aversão ao risco ainda é muito forte na Suíça, diz Gina Domanig, diretora-executiva da Emerald Technology Venture há mais de 20 anos. A empresa sediada em Zurique investiu em 70 start-ups do setor de tecnologias "limpas", a grande maioria no exterior.

Como todas as empresas de capital de risco, a Emerald Technology Ventures levanta recursos de grandes investidores (investidores institucionais, como fundos de pensão, grandes empresas multinacionais, etc.) e investe esse dinheiro em empresas iniciantes promissoras. Contudo, a Emerald Technology Ventures difere de investidores de capital de risco generalistas, na medida em que investe apenas em startups do setor de tecnologia “limpa”. Sediada em Zurique, ela administra fundos de até 325 milhões de francos.

Série: Mulheres no comando 

As mulheres ainda são amplamente sub-representadas nos escalões mais altos da economia. Por exemplo, apenas 13% dos cargos de direção das 20 empresas listadas no principal índice da bolsa suíça, o Swiss Market Index (SMI), são ocupados por mulheres. Nesse aspecto, a Suíça não tem um bom desempenho para os padrões internacionais. Ao longo deste ano, a swissinfo.ch decidiu dar voz a gestoras de empresas suíças que atuam em todo o mundo. Essas representantes da economia suíça discutem os desafios mais urgentes de seus negócios atualmente, desde a crise do coronavírus até o lugar da Suíça na economia global.

swissinfo.ch: Como evoluiu o investimento em start-ups do setor de cleantech ao longo dos últimos 20 anos?

Gina Domaniq: Podemos distinguir várias fases. Em 2000, quando fundamos a Emerald Technology Ventures, fomos realmente pioneiros, porque o setor simplesmente não existia. Mas por volta de 2005, grandes investidores alocaram enormes somas de dinheiro para a cleantech e muitos investidores de capital de risco generalistas se envolveram. Como resultado, havia muito dinheiro no mercado, mas poucos projetos sólidos. Isto levou a valorações excessivas e, portanto, a uma rentabilidade insuficiente para os investidores de capital de risco.

swissinfo.ch: Como você descreve a situação atual?

G.D.: Nos últimos anos, muitas grandes empresas, dentre elas a Nestlé, estabeleceram metas de sustentabilidade muito ambiciosas. Isto criou uma forte demanda para os produtos das empresas iniciantes de cleantech. É claro que este é um desenvolvimento positivo, mas ao mesmo tempo um número crescente de grandes investidores está novamente alocando somas consideráveis para este setor. Espero que não estejamos recriando uma bolha por causa de um descompasso entre a oferta e a demanda. 

swissinfo.ch: Mas se houver cada vez mais fundos para novas tecnologias limpas, mais e mais jovens recém-formados lançarão em breve suas empresas…

G.D.: Mas é precisamente o tipo de start-up que nos interessa menos, porque estes jovens formados não têm experiência suficiente. Em nossa indústria, preferimos investir em start-ups lideradas por gerentes experientes, pois isso reduz significativamente o risco de fracasso.  

swissinfo.ch: Sua sede está localizada em Zurique, mas vocês têm escritórios em Toronto e Cingapura. A escolha dessas cidades é incomum. Por que não no Vale do Silício?

G.D.: Nossa sede está em Zurique, principalmente devido à excelente infraestrutura, especialmente o aeroporto. Além disso, as duas escolas politécnicas federais são importantes fontes de talento. E como a qualidade de vida é tão alta em Zurique, também somos capazes de atrair talentos do exterior. Por estas razões, 21 de nossos 33 funcionários estão sediados em Zurique.

Biografia

Gina Domanig é sócia gerente da Emerald Technology Ventures, uma empresa fundada por ela em 2000. Anteriormente, trabalhou para a Sulzer como vice-presidente e chefe de planejamento estratégico, fusões e aquisições.

Gina Domanig é graduada em finanças pela Universidade Estadual do Arizona. Ela também possui mestrado em administração de empresas (MBA) pela Thunderbird School of Global Management (Arizona) e ESADE (Barcelona). É fluente em inglês, alemão e espanhol.

Participa de numerosos conselhos de administração e conselhos consultivos.

Na América do Norte, as empresas industriais em que investimos estão espalhadas por todo o semi continente, sem nenhuma concentração particular no Vale do Silício. Como Zurique, escolhemos Toronto porque é conveniente e atraente. Finalmente, no ano passado, abrimos um escritório em Cingapura porque queremos fortalecer nossos investimentos na Ásia. Estamos visando o mercado japonês em particular, dada nossa colaboração com a empresa japonesa Nabtesco.

swissinfo.ch: Você também não teria escolhido Zurique para sua sede por causa da forte presença de conglomerados e de empresas industriais derivadas (spin-offs) neste cantão?

G.D.: Na verdade, não. De nossos cerca de 40 grandes investidores, apenas um está sediado na Suíça. E de nossos 70 investimentos, dos quais 20 estão atualmente ativos, há apenas uma start-up suíça. Como mencionado anteriormente, descobrimos que a gestão de empresas derivadas universitárias carece de experiência. No entanto, vejo uma melhoria no ecossistema de start-ups suíço. Por outro lado, há muita aversão ao risco na Suíça. E, de um ponto de vista social, fundar uma start-up não é suficientemente bem visto.

swissinfo.ch: Quais são as principais competências de seus funcionários?

G.D.: Uma empresa de capital de risco como a nossa precisa ter um conjunto de competências complementares, incluindo um bom conhecimento de diferentes tecnologias limpas, uma ampla rede de contatos e muita experiência em investimentos e vendas comerciais. Também precisamos ser capazes de ajudar nossas empresas iniciantes de forma concreta, principalmente conectando-as com clientes potenciais, mas também apoiando o desenvolvimento de sua organização, sua estratégia de propriedade intelectual, etc.

swissinfo.ch: Seus critérios de investimento são “gestão sólida, potencial de mercado atraente e vantagens competitivas”. Como estes critérios são específicos para a Emerald Technology Ventures?

G.D.: Provavelmente não são. Seja como for, espero que outros capitalistas de risco também se concentrem nestes critérios.

swissinfo.ch: Quais são os montantes típicos de seus investimentos?

G.D.: Na primeira fase, normalmente investimos de três a cinco milhões de euros por start-up, mas mantemos duas a três vezes esse montante em reserva para as rodadas seguintes. Além disso, nossos vários co-investidores trazem aportes semelhantes. 

swissinfo.ch: Que tipo de controle você tem sobre suas empresas iniciantes?

G.D.: Temos participações minoritárias em nossas start-ups, embora nós e nossos co-investidores às vezes tenhamos a maioria dos direitos de voto. Em princípio, fazemos parte do conselho de administração de nossas empresas iniciantes. De modo mais geral, estamos sempre dispostos a fazer o que pudermos para apoiar nossas empresas iniciantes.

Adaptação: DvSperling

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