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Nestlé reforça controles da produção de óleo de palma

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Além da palma, a Nestlé pretende também utilizar satélites para monitorizar seu abastecimento em soja e cacau. Keystone / Hotli Simanjuntak

Nestlé convidou jornalistas para conhecer sua nova tecnologia de satélites para monitorar a produção de óleo de palma. Apesar do esforço que a multinacional suíça faz para combater o desflorestamento, ainda não garante que o produto que chega à mesa não foi nocivo ao meio-ambiente. 

A apresentação da tecnologia de satélite “Starling” ocorre no complexo da Airbus, a maior empresa aeroespacial europeia, em Toulouse, na França. Nestlé e Airbus começou a cooperar no desenvolvimento de serviços de monitoramento via satélite a partir do momento em que aderiram ao Fórum dos Bens de Consumo, uma associação de 400 empresas reunidas em torno de diversas iniciativas, dentre as quais, acabar com a deflorestação de matas virgens até 2020. 

Um representante da Airbus exibe em um monitor imagens tiradas por satélites de florestas e plantações de palma na Indonésia. Elas mostram as capacidades do sistema Starling, dentre elas de fazer um “zoom” sobre um alvo tão pequeno, que ocupa uma área de apenas 1,5 metro. Assim os satélites da Airbus permitem distinguir as plantações de palma, mesmo cercadas pelas florestas. Em caso de dúvida, os algoritmos distinguem as palmeiras das seringueiras e outros cultivos: colorindo o primeiro em amarelo e o segundo, em marrom.

Manchas em vermelho exibem áreas onde a floresta foi desbastada recentemente. Quando isso ocorre em um raio de 50 quilômetros em uma das 1.257 áreas de produção da Nestlé no mundo, uma notificação é enviada aos computadores da multinacional, que contata imediatamente o fornecedor. Este terá de provar que o desmatamento não foi de sua responsabilidade. 

“Aproximadamente 60% dos nossos fornecedores já receberam uma notificação”, explica Benjamin Ware, responsável mundial da Nestlé pelo fornecimento sustentável. 

O não respeito às regras impostas pela multinacional em termos de desflorestamento, e detectadas pelos satélites, podem ter como consequência a suspensão temporária do fornecedor. Segundo Ware, dez deles já entraram na lista “negra” da Nestlé. Eram fornecedores que respondiam por 5% do óleo de palma consumido pela multinacional. 

“Uma combinação de imagens de satélite, presença local e certificação nos permitem declarar que 77% da matéria-prima que consumimos não causaram desflorestamento”, ressalta Magdi Batato, chefe de operação na Nestlé.

Fornecedores sob controle

“É um complemento para o trabalho já feito no terreno. A Nestlé nos diz onde ocorre desmatamento e vamos discutir com os responsáveis, pois temos a capacidade de rastreá-los”, afirma Ian Suwarganda. O representante da Golden Agri-Resources, um fornecedor de óleo de palma para a Nestlé, afirma ser capaz de rastrear 62% do óleo de palma produzido, mas faz uma reticência. “Um ponto sensível para nós é a suspensão imediata se o desmatamento for encontrado. Acho que ambas as partes concordam de que a exclusão não é a resposta ideal”, diz Suwarganda.

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Acesso público

No início do mês, Nestlé publicou uma página no seu site contendo informações sobre o desflorestamento causado pela produção de óleo de palma. Os dados vêm do sistema Starling e representam apenas uma fração da imensa quantidade de informações geradas pelas concessões da empresa ao redor do mundo. A Nestlé gostaria de tornar os dados acessíveis aos consumidores, mas o contrato atual com a Airbus ainda não o permite. 

“O sistema é baseado no compartilhamento de informações. A conjunção de dados gerados pelo sistema de satélites da Airbus e pela Nestlé exige um acordo para determinar o que pode ser exibido ou não”, explica François Lombard, responsável pelo setor de negócios inteligentes da Airbus.

Uma pergunta: os consumidores podem confiar na exatidão da Nestlé de compartilhar os dados recolhidos pior satélites quando se trata de combater o problema do desflorestamento causado pelos plantadores de palma? “O que a Nestlé tem a ganhar de esconder os fatos se estes podem ser descobertos um dia? O objetivo é de conquistar a confiança e não a perder”, responde Bastian Sachet.

Representante da Earthworm, uma consultoria que participa do desenvolvimento da plataforma Starling, Sachet considera que a Nestlé pode estar aberta a dar a algumas ongs o acesso ao sistema Starling. Embora a visão de longo prazo seja dar aos consumidores acesso total às imagens, há muitos obstáculos a superar.

Problema dos pequenos agricultores

As imagens geradas pelos satélites do Starling também permitem distinguir os proprietários das plantações – roxo para as áreas alocadas pelo governo, azul para as propriedades privadas. Essa informação detecta mais facilmente os responsáveis pelo desmatamento. Todavia não é possível demarcar as propriedades dos pequenos proprietários. Eles representam 20% da cadeia de abastecimento de óleo de palma para a Nestlé.

Para acompanhar a deflorestação causada pelos pequenos proprietários, a multinacional depende que os fornecedores conheçam exatamente a origem do óleo de palma, o que é muito raro. Essa barreira é um obstáculo concreto a Nestlé para alcançar o desflorestamento zero até 2020. 

Ao obrigar os fornecedores a provar que não desflorestaram uma determinada área, a multinacional os obriga a controlar com mais rigor a produção e origem do óleo de palma. No entanto, reprimir os pequenos agricultores não o principal objetivo. “A Nestlé, como compradora, concentra-se mais em áreas de grande dimensão e não em pequenas explorações agrícolas de subsistência”, garante Ware.

Adaptação: Alexander Thoele

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