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Cultura de denúncias na Suíça pena para se desenvolver

A bin full of shredded paper
Revelar as suspeitas de comportamento antiético mais cedo é a solução Keystone

O véu que protegia o famoso sigilo bancário suíço acabou caindo com o golpe fatal de alguns delatores, no entanto, parece que a cultura da denúncia de práticas corruptas ou antiéticas foi pouco além das grandes empresas.

O primeiro estudo forense sobre denúncias de irregularidades na Suíça, apresentado em Zurique na terça-feira (21), revelou que apenas 11% das pequenas e médias empresas (PMEs) desenvolveram algum tipo de sistema de denúncia de irregularidade até à data. Isto é especialmente importante porque as PMEs (empresas com menos de 250 funcionários) compõem 99,8% de todas as empresas na Suíça.

Além disso, os sistemas de denúncia de irregularidades das PMEs produzem, em média, apenas um relatório de atividades suspeitas a cada três anos, de acordo com o estudo da Universidade de Ciências Aplicadas da Suíça Oriental (HTW). Os resultados mostram uma clara necessidade de comunicar os efeitos benéficos de tais sistemas de denúncia, diz Integrity Line, uma empresa que aconselha o mundo corporativo sobre como denunciar irregularidades.

A HTW pesquisou 364 empresas de tamanhos variados para o Relatório de Denúncias de Irregularidades 2018. A universidade descobriu que as grandes empresas (250 funcionários ou mais) eram muito mais proativas na criação de sistemas de relatórios internos ou externos. Sete em dez tinham procedimentos formais para que os funcionários relatassem suspeitas.

“A reputação das PMEs pode ser prejudicada por fraudes ou práticas não éticas, tão facilmente quanto as grandes empresas”, disse Zora Ledergerber, especialista suíça em corrupção e fundadora da Integrity Line. “A melhor maneira de evitar esses riscos é a detecção precoce. O estudo mostra que a Suíça precisa melhorar o jeito de comunicar essa ideia”.

Ledergerber coloca parte dessa culpa nos legisladores. “A legislação proposta para proteger melhor os direitos trabalhistas dos delatores, ou pelo menos fornecer uma compensação para os que são despedidos, está sendo debatida no parlamento há 14 anos sem chegar a lugar algum”, disse.

Intimidante

O estudo HSW também mostrou uma mistura de resultados quando os relatórios foram apresentados em empresas suíças. As grandes empresas recebem em média apenas um relatório por semana. Mas 46% desses relatórios são descartados como “irrelevantes” pelos códigos de prática das empresas – e outros 3% são considerados maliciosos.

No entanto, as PMEs devem promover mais denúncias, de acordo com o principal autor do relatório, Christian Hauser. “Pode ser intimidante se levantar e falar se você está trabalhando em um pequeno grupo em uma PME”, disse para swissinfo.ch. “As pessoas naturalmente temem a resposta dos chefes ou colegas de trabalho”.

Ele deu um exemplo de uma PME que teve a experiência embaraçosa de descobrir práticas antiéticas de um agente através de terceiros, em vez de internamente. “A extensão de sistemas de relatórios anônimos para fornecedores e clientes também pode ajudar na detecção precoce de problemas”, afirmou.

Adaptação: Fernando Hirschy

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