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Empresas suíças se adaptam a real forte e dólar fraco

O real se tornou uma moeda forte nos últimos tempos. Reuters

Além do franco suíço, a valorização do real frente ao dólar norte-americano também afeta as empresas de origem suíça que atuam no Brasil.

Para alguns setores, o fortalecimento da moeda brasileira representa a oportunidade de abrir novos negócios e conquistar novas fatias de mercado. Para outros, contribui para tornar inviáveis os investimentos no país.

“O aumento do real nos afeta porque os fretes internacionais são sempre cobrados em dólar ou em euro. Isso acarreta que o recebimento de dinheiro no Brasil seja menor. Com o real mais forte, recebemos menos pelos nossos serviços e também reduzimos nossa remessa à Suíça. Para nós, a valorização do real não é nada interessante. O ideal seria um dólar forte e um franco suíço mais barato. De toda forma, esse é um cálculo complicado, pois em alguns sentidos você ganha e, em outros, perde. Mas, dois reais por um franco não é interessante”, resume Dominik Keller, diretor da Via Mat no Brasil.

A análise de Daniel Monteiro, diretor-geral da Sika Brasil, empresa que atua em projetos de infraestrutura e engenharia civil, segue uma trilha mais pessimista: “A valorização do real impacta a nossa competitividade frente a outras subsidiárias do grupo e torna os investimentos no país muito mais caros. A manutenção desta tendência diminuirá a capacidade exportadora do Brasil e inibirá investimentos”, aposta.

Para a MSC Brazil, que atua no setor de transportes marítimos, a alta do real frente à moeda norte-americana está sendo positiva: “A desvalorização do dólar provoca uma migração das commodities dos navios a granel  – que não é nosso negócio – para os contêineres. Ocorre um aumento substancial no volume de contêineres de importação. Desde 2010, o nosso volume de importação no Brasil tem sido maior do que o volume de exportação”, revela o diretor financeiro da empresa, Alexandre Foschine.

“Hoje, a exportação de açúcar, de café, de soja e de arroz está acontecendo também em contêineres. Então, cresceu o nosso volume de exportação de commodities. Isso acontece porque o comprador do outro lado consegue, através dos contêineres, comprar lotes menores do que compraria em um navio a granel. Essa é uma prática recente, que se incrementou a partir da crise econômica de 2008 e 2009”, continua o empresário.

Mesmo o incremento dos negócios pode trazer alguns problemas. Se a desvalorização do dólar frente ao real continuar, segundo Foschine, a tendência é que os navios cheguem ao Brasil mais carregados do que costumavam vir no passado: “Isso dá um problema logístico porque a gente acabou tendo falta de equipamento no Brasil. Antes, os navios conseguiam trazer contêineres vazios, mas hoje eles vêm lotados e carregados  produtos de importação”.

Economia sólida

Algumas empresas suíças apostam na força do real, como explica Roger Fischer, que é dirigente da Bühler Brasil: “Acredito que uma economia forte também tem uma moeda forte em longo prazo. Por isso, em médio e longo prazo, a Bühler investe ainda mais nos mercados e nas moedas onde o grupo espera obter maior crescimento. O investimento na abertura de uma nova fábrica no Brasil, prevista para março do ano que vem, vai nos ajudar a minimizar a dependência das moedas estrangeiras. Além disso, planejamos aumentar nossa produtividade em todos os setores e buscar constantemente novas soluções para nossos clientes locais”.

Para a MSC, a crise é uma oportunidade para a busca por novos mercados: “É isso que tem acontecido. A crise fez com que a carga migrasse para regiões como América do Sul, e México, passando pela África e pela Austrália e subindo por China, Turquia e Arábia Saudita. Ela não nos afeta tanto em volume, mas sim no planejamento e execução das operações, já que existe uma migração de uma região para outra. Nosso negócio no Brasil foi bem favorecido”, diz Foschine.

Na avaliação de Keller, da Via Mat, o longo período de crescimento vivido pela economia brasileira funciona como um atenuante para as dificuldades comerciais decorrentes do momento de insegurança monetária: “Não acredito que a situação do câmbio traga mudanças significativas na relação entre parceiros comerciais suíços e brasileiros, pois a Suíça tem produtos de alto valor agregado, com qualidade e tecnologia sofisticada. Então, os brasileiros não vão deixar de comprar na Suíça por causa da alta do franco, especialmente em áreas como medicina, farmacêutica e relógios”.

Turismo

Apesar da alta do franco suíço, a força do real estimula os brasileiros, sobretudo os pertencentes às classes econômicas A e B, a continuar procurando a Suíça como um de seus destinos preferenciais de viagem: “Geralmente enviamos casais de meia idade e famílias, e a maioria busca serviços de primeira classe nos trens e hotéis entre quatro e cinco estrelas. O turista brasileiro que vai a Suíça não é pão duro”, afirma Gabriel Camargo, da Canada Turismo, agência especializada em viagens para a Suíça.

Camargo revela onde os clientes brasileiros preferem gastar seus dólares na Suíça: “Muitos de nossos passageiros fazem roteiro fly and drive, com locação de veículo. Para estes, nós conseguimos montar viagens muito bonitas e diferenciadas, incluindo lugares como Neuchâtel, Lucerna, Interlaken, Zermatt, Montreux e Genebra, que são as cidades mais procuradas. Entre os passeios, os mais pedidos são Glacier Express, Monte Titlis, Jungraujoch e Trem de Chocolate”, diz.

A tendência de alta do real frente ao dólar pode acabar beneficiando algumas das maiores empresas brasileiras que, no período de grande tomada de crédito a juros baixos no mercado internacional, acabaram contraindo uma elevada dívida na moeda norte-americana.

Entre as empresas brasileiras mais endividadas em dólar estão a Petrobras (US$ 45 bilhões), a Eletrobrás (US$ 8,3 bilhões) e a Telemar (US$ 4,8 bilhões).

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