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A experiência de comer no escuro

Prédio e entrada do restaurante muito especial, em Basiléia. swissinfo C Helmle

Comer, beber e conversar com os amigos em completa escuridão. Essa é a experiência de quem vai ao restaurante "blindekuh", em Basiléia ou em Zurique.

Os garçons são cegos e os clientes ficam mais atentos aos seus outros sentidos: tato, olfato, paladar e audição.

O nome vem da brincadeira de vedar os olhos e movimentar-se no escuro – para os alemães uma vaca cega e para os brasileiros, cabra cega.

A idéia de criar um espaço como esse surgiu em 1998, quando um grupo trabalhou numa instalação no Museu de Design de Zurique, “Dialog im Dunkeln”.

Logo a experiência saiu dos guias de museus e entrou para o roteiro das cidades. Primeiro em Zurique, em 1999, e depois em Basiléia, em 2005. “A idéia é promover a percepção dos outros sentidos, além de abrir espaço de trabalho para deficientes visuais”, explica Sonja Hohgraefe, assessora do restaurante em Basiléia.

Procedimentos a serem seguidos

Na entrada, os clientes devem deixar bolsas, casacos, celulares – e outros aparelhos luminosos – num armário com chave. O costume de pendurar objetos nos encostos das cadeiras não é adequado ao ambiente: as coisas podem cair e atrapalhar os garçons que circulam entre as mesas.

É também na recepção – e não à mesa – que os visitantes devem escolher os pratos e as bebidas da noite. Na hora de decidir-se, é aconselhável levar em conta o fato de que o prato será degustado no escuro: nem sempre é fácil comer um frango ou mesmo algumas folhas de alface sem ver.

Como o jantar foge da rotina, os clientes são orientados para seguirem alguns procedimentos. Caso alguém se sinta realmente mal, deve chamar o garçom ou garçonete que o atende. Nunca deve levantar-se sozinho. Nem para ir ao banheiro: o atendente leva o cliente até a parte iluminada, onde fica a toalete.

Garçom é quem chama o cliente

No blindekuh, os clientes é que são chamados pelo garçom. Eles buscam o grupo na recepção, pedem que as pessoas se mantenham em fila e levam os clientes à mesa. Cada uma tem oito lugares. Em Basiléia, o restaurante recebe até 100 pessoas, em Zurique, 70.

Os primeiros momentos são difíceis. Além das conversas dos visitantes, ouve-se, vez ou outra, como em qualquer restaurante, a queda de um copo ou de uma garrafa. Mas o sobressalto é maior no escuro.

“No começo fiquei um pouco assustada porque não tinha controle da situação e cheguei a rir de nervoso, mas depois as coisas foram se acomodando”, diz Larissa Goldstein.

Ela foi com um grupo de amigos ao restaurante e gostou da experiência. “Fiquei impressionada como a garçonete servia sem errar o que cada um pedia”, lembra-se.

Outra forma de ver o mundo

Algumas regras de etiqueta ganham mais sentido e devem ser seguidas – mesmo que ninguém esteja olhando. A de colocar o guardanapo sobre o colo, por exemplo, é uma delas. O procedimento pode evitar muitos incidentes desagradáveis, como o de sair com a roupa toda manchada de comida. Outras podem ser ignoradas. É inevitável usar as mãos para pegar algum alimento que não pára no garfo.

A cada semana o restaurante oferece um cardápio diferente, com três opções de entradas, pratos principais (carne, peixe e vegetariano) e sobremesas. A comida é boa e o ambiente propicia a degustação, já que se percebe mais o paladar e o aroma dos pratos.

Mas é preciso concentrar-se para que o garfo chegue à boca com a comida desejada. Por isso, um jantar pode demorar um pouco mais … mas ninguém vai reparar que você está demorando para comer – só a garçonete. O restaurante promove também atividades culturais, sobretudo concertos musiciais.

Não há sequer um ponto luminoso no ambiente. Depois de algum tempo, acostuma-se com o escuro e percebe-se o movimento dos garçons perto das mesas, aromas de pratos e até mesmo a respiração mais ofegante ou o silêncio de uma pessoa do grupo – uma outra forma de ver o mundo.

swissinfo, Lourdes Sola, Basiléia

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