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Entrevista: Thomas Knöpfel

Knöpfel: - "Iremos lutar pelo mercado brasileiro". Holcim - Öffentlichkeitsarbeit

Thomas Knöpfel, 54 anos, é responsável no grupo Holcim pelas atividades da empresa na América Latina.

Em entrevista exclusiva à swissinfo, o executivo fala dos planos de aquisições no Brasil e dos fornos de cimentos que são alimentados por lixo.

Mais de um quinto dos funcionários da Holcim trabalham na América Latina. Também 22% da produção de cimento ocorre na região. Com exceção de alguns poucos países – Paraguai, Bolívia, Uruguai, Suriname, Guiana, Cuba e Belize – a multinacional está presente com subsidiárias em todo o continente.

Os bons resultados da Holcim na AL devem-se a vários fatores: no México devido à construção de casas populares e projetos de infraestrutura: no Caribe graças aos investimentos feitos no turismo; o Equador pela entrada de divisas enviadas pelos imigrantes que vivem nos países desenvolvidos. A principal razão é a recuperação geral da economia, incluindo também a da Argentina.

No caso do Brasil, onde a Holcim tem seu maior volume de vendas, por que o crescimento foi tão baixo em comparação com a Venezuela ou Argentina?

O problema não é o crescimento. O Brasil é a locomotiva da América Latina. Quando o país deslancha, o movimento é percebido não apenas no continente, mas também no mundo inteiro. Depois que sua economia teve resultados medianos durante o ano passado, o último trimestre foi mais satisfatório.

Sobretudo devido ao aumento das exportações?

Sim, algo que também pode ser observado em outros países da América Latina. Porém isso é um problema para nós: a exportação em si não é negativa, sobretudo se eu consigo vender grandes volumes a preços vantajosos nos mercados externos, porém em longo prazo é preciso também ter investimentos no mercado interno para movimentar a economia.

E na sua opinião, como o Brasil é visto pela empresa?

No último trimestre vimos que o país voltou a crescer. O governo Lula trabalhou muito para conquistar a confiança dos investidores e está fazendo um trabalho correto, apesar das dificuldades políticas. Tratam-se de uma mistura sensata no seu programa, sobretudo por que hoje em dia não é preciso ser de esquerda para reconhecer a importância do problema social no continente. Esse é o panorama geral. Porém entrando em detalhes no mercado do cimento, a situação se torna diferente.

Nós tivemos no ano passado algumas dificuldades no Brasil. A concorrência no mercado tem aumentado, assim como o número de novos produtores capazes de oferecer preços vantajosos. Porém nosso maior competidor continua sendo a Votorantim.

E qual a estratégia da Holcim para melhorar seu espaço no mercado brasileiro?

Nós decidimos não perder mais mercado no país. Queremos ir luta, mesmo que isso signifique preços menores. Apesar dos grandes investimentos e do grande número de fábricas que temos no Brasil, somos apenas o número quatro no mercado. Estamos concentrados, sobretudo, no triângulo entre Minas Gerais, Rio e São Paulo. Porém eu já tenho na minha agenda um plano estratégico. Se houver a possibilidade a Holcim irá comprar empresas em outras regiões do país. Porém a situação de preço do cimento no mercado nos preocupa ainda um pouco.

Mudando de tema, teria a Holcim planos de instalar fábricas de cimento na América Latina que também sejam capazes de funcionar a partir da queima de lixo, como já existe em Eclépens, na Suíça?

A idéia é utilizar nos fornos de cimento, aonde as temperaturas chegam a alcançar os 1.500 graus centígrados, diferentes tipos de dejetos. Dessa maneira é possível resolver dois problemas: além de se livrar de um material não desejável, a empresa economiza no uso de combustíveis não-renováveis.

Em si esse é um conceito que pode ser aplicado em qualquer parte do mundo. Na América Latina somos conseqüentes em aplicá-lo. Em vários países nós já estamos liderando nesse setor como, por exemplo, na fábrica de Cantagalo, Brasil. Lá já chegamos a uma situação de “few costs”, ou seja, os custos que temos para recolher esse material já são menores do que as economias que a gente faz na compra de combustível.

E por que essa tecnologia não é aplicada em todo o mundo?

A questão é que existe um problema nos países emergentes. Veja a situação das pequenas oficinas latino-americanas, onde se troca óleo de veículos: em muitos casos a legislação permite o reaproveitamento de até três vezes desse material. Muitos desses países vivem em crise econômica permanente. As populações menos favorecidas têm uma outra visão do que é lixo, em comparação com a Europa. Lá se os dejetos são muito mais reaproveitados.

E concretamente, que investimentos foram feitos na América Latina no setor de meio-ambiente?

Em todos os países da América Latina onde atuamos temos essas novas instalações. Somente no Brasil investimos 16 milhões de dólares e nos outros países também a mesma quantia. Essas fábricas estão aparelhadas para utilizar diversos tipos de combustíveis e dispõe de filtros especiais. No final das contas, nós queremos evitar acabar com o problema e criar um outro.

swissinfo, Alexander Thoele

Thomas Knöpfel, 54 anos, estudou direito e têm o título de doutorado pela Universidade de Zurique. De 1980 a 1988 o suíço trabalhou no UBS, o maior banco helvético, tendo depois ingressado na Holcim. Seu primeiro posto foi na Espanha. Em 1995 ele tornou-se presidente Cementos Boyacá, S.A, empresa colombiana do grupo Holcim. Quatro anos depois, o jurista passou a ser responsável na Holcim pela a região dos Andes e, desde 2002, também pela América Central e Caribe. Desde 1o de janeiro, Knöpfel faz parte do conselho de direção geral da empresa, sediada em Zurique, e é responsável pela região América Latina, com exceção do México.

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