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Nordeste promete lucros para multinacional suíça

O presidente Lula e a ministra Leuthard inauguram a fábrica da Nestlé em Feira de Santana, Bahia. Keystone

A inauguração na sexta-feira de uma nova fábrica da Nestlé no estado da Bahia suscita aplausos e críticas de sindicalistas. Para a empresa, o empreendimento no Nordeste promete bons negócios no futuro.

A região, uma das mais pobres do Brasil, necessita de empregos e investimento. Porém existe o medo de que a multinacional suíço possa tomar mercados da indústria local.

A nova fábrica está situada a pouco mais de 100 quilômetros de Salvador, a capital baiana. Ela é a primeira unidade de produção a ser especialmente adaptada ao gosto dos consumidores locais.

Com o investimento de 47 milhões de dólares (cerca de 60 milhões de francos), a Nestlé procura adaptar-se à realidade dessa região pobre do Brasil, onde vivem aproximadamente 50 milhões de pessoas, e tirar proveito do forte crescimento do consumo detectado nos últimos dois anos.

Alguns produtos já são fabricados em Feira de Santana (massas pré-cozidas vendidas em embalagens plásticas). Outros serão recondicionados na nova fábrica para serem posteriormente vendidos a preços mais acessíveis (cereais, café solúvel e bebidas achocolatadas). A capacidade de produção inicial de 40 mil toneladas poderá chegar, futuramente, a 100 mil toneladas. Isso graças à produção eventual de sorvetes, iogurtes e biscoitos num futuro próximo.

Preços populares

Segundo a direção da empresa, o investimento é visto como uma etapa decisiva na estratégia de regionalização da Nestlé. “O Nordeste é visto atualmente um país a parte dentro do Brasil”, declara Paul Bulcke, vice-presidente da Nestlé para a região das Américas.

O Nordeste corresponde a 30% do mercado brasileiro da Nestlé (cerca de 7 bilhões de francos suíços em 2006), mas a taxa de crescimento do consumo é o dobro da média nacional, como ressalta Johnny Wei, encarregado na empresa de aplicar no país o plano de regionalização.

“Essa experiência nos ajuda a conhecer à fundo os diferenciais do mercado e a apresentar produtos a preços competitivos”, acrescenta Ivan Zurita, presidente da Nestlé Brasil, que também encoraja a venda de produtos a preços populares.

Vender sua imagem

Para a Nestlé o Brasil já representa o maior mercado mundial em volume, após os Estados Unidos. Explorar esses nichos de crescimento potencial é imperativo para a multinacional, portanto sem comprometer as margens operacionais. Nos subúrbios pobres das grandes metrópoles, a Nestlé também lançou operações de venda direta porta-a-porta.

No ano passado, cinqüenta funcionários da direção da empresa foram enviados para conhecer a realidade do cotidiano dos consumidores de baixa-renda. Mesmo Johnny Wei passou dois dias em companhia de uma família num bairro popular de São Paulo.

Nestlé aproveita igualmente do seu investimento na região nordeste para valorizar a imagem da marca. As ações de marketing também incluem programas de educação alimentar, assim como ações de divulgação durante o carnaval, que se realiza atualmente.

Críticas de sindicalistas

Nestlé não é a única multinacional a investir na região. Nela os americanos da Ford já montaram uma fábrica de automóveis, trazendo ao mesmo tempo um grande número de fornecedores de autopeças. Também o fabricante de bebidas Pepsi anunciou que irá se instalar ainda em 2007 na região de Feira de Santana.

A criação de 500 empregos diretos através da Nestlé é bem-vinda nessa região que ficou descartada por muito tempo do desenvolvimento econômico do país. Porém alguns sindicatos vêem o investimento de forma crítica.

“A criação de empregos é sempre algo muito positivo, porém nós nos perguntamos a que preço”, se questiona Siderlei de Oliveira, presidente da Confederação de Trabalhadores do Setor da Alimentação (CONTAC).

“Geralmente o número de empregos criados é inferior ao de empregos que poderão ser eliminados no espaço de alguns anos. Isso, pois várias pequenos empresário e concorrentes da Nestlé terminarão desaparecendo”.

Oliveira também taxa a Nestlé de “oportunista” em relação ao Nordeste. “Nessa região o governo é o único cliente rentável”, declara.

Mais dinheiro para consumir

De fato, os subsídios distribuídos pelo governo Lula a mais de 11 milhões de famílias beneficiam prioritariamente às famílias nordestinas. Dessa forma elas têm mais dinheiro para consumir.

Ivan Zurita admite que o “Bolsa-Família”, como é conhecido o programa de subsídios governamentais aos pobres no Brasil serviu como um estopim. “Ele não é a solução (para o problema social do Brasil), mas é um passo importante para que a população tenha acesso a um nível mínimo de consumo”.

A Contac suspeita a Nestlé de querer ir mais longe e se transformar em um grande fornecedor de produtos alimentares para outros programas sociais do governo na região (cesta-básica, cantinas escolares, etc)

Provavelmente o programa piloto da multinacional poderá ultrapassar as fronteiras do nordeste brasileiro. Nestlé lembra que existem 2,8 bilhões de consumidores de baixa renda no mundo. Paul Bulcke confirma que se trata de “uma primeira experiência” e que ações similares poderão ocorrer no México, Índia ou na China.

swissinfo, Thierry Ogier em Feira de Santana

Nestlé no Brasil
Implantação em 1921 (para a produção de leite condensado).
Faturamento atual: 11,6 bilhões de reais (2006).
Crescimento de 5,4% em termos reais em relação a 2005.
Número de fábricas: 27
Investimento na fábrica do Nordeste: 100 milhões de reais.
Está previsto até o final do ano a inauguração de mais duas fábricas no Brasil
Setores de atividade: leite, massas pré-cozidas, chocolate, sorvetes, biscoitos, alimentos para animais domésticos e bebidas.

O intercâmbio comercial bilateral estão limitados a 2 bilhões de francos por ano e representam menos de 1% do intercâmbio comercial de cada país. Portanto, numerosas empresas suíça, incluindo a Nestlé, são ativas no Brasil, especialmente nos setores financeiros e farmacêuticos.

Durante sua visita ao Brasil, a ministra suíça da Economia, Doris Leuthard, declarou que deseja um aumento de 20% do intercâmbio comercial nos próximos três anos.

O meio-ambiente está se transformando no item mais importante da cooperação entre os dois países. Desde 2003, a Suíça contribui ao financiamento do programa Bio Trade, visando proteger a biodiversidade. Nos últimos dois anos, financiamento suíços foram direcionados para projetos ligados à nanotecnologia e tecnologia de proteção ao meio-ambiente.

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