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Suíços perdem cada vez mais poder aquisitivo

Cerca de 25 mil pessoas participaram de uma manifestação por aumentos salariais, sábado, em Berna. Keystone

Eles são os trabalhadores mais bem pagos do mundo, mas o custo de vida é 30% mais elevado do que nos países da UE. E só um terço dos trabalhadores recebe aumentou salarial todo ano.

E frente à inflação, os aumentos salariais em 2007 deveriam ser de 6% para recuperar o poder aquisitivo de 2000.

Não há dúvida nenhuma: os suíços são os trabalhadores mais pagos do mundo, um “privilégio” retratado nas estatísticas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

No entando, o próprio clube dos países ricos questiona o mito da inquestionável “riqueza helvética” para precisar que os trabalhadores ganham 25% mais do que os europeus, mas o custo de vida é 30% mais caro na Suíça.

Para citar um exemplo, um quilo de queijo vale o equivalente a 15 francos suíços na Itália ou na Grécia. Na Suíça ele custa 17,50 francos.

Não é por outra razão que os sindicatos preparam uma campanha pedindo aumentos consideráveis de salário em 2007.

Recuperação para todos

A União Sindical Suíça (USS) vai reivindicar 4% de aumento em 2007 para seus 380 mil membros. Trabalho Suíço reindicará pelo menos 3% de aumento para seus 160 mil trabalhadores.

Com isso, as duas maiores centrais sindicais suíças tentam garantir a solvência das família em meio à alta dos preços permanente nos últimos anos. O argumento dos sindicatos é que os trabalhadores tenham sua parte no crescimento econômico. Segundo a Secretaria Federal de Economia (SECO), 2006 tem sido o melhor dos últimos sete anos.

Para atingir seus objetivos, os sindicatos estão dispostos a tudo. Sábado passado (23 de setembro), a USS reuniu 25 mil manifestantes em Berna, capital federal, para exigir um aumento salarial digno, capaz de reverter – segundo o sindicato – à estagnação dos salários dos últimos 12 anos.

Durante a manifestação, a passeata foi encabeçada por mulheres, um gesto simbólico para enfatizar a discriminação de que são vítimas no mercado de trabalho: com mesmo nível de qualificação, elas ganham, em média, 20% menos do que os homens.

Aumento para todos?

Os reajustes salarias anuais são indispensária para garantir para manter o nível de vida dos trabalhadores. Porém, na Suíça, como reconhece a Divisão Federal de Estatísticas (OFS), nem todos recebem reajuste salarial todo ano.

Um estudo concluído pela OFS em agosto, em 2003 somente 38% dos trabalhadores suíços receberam algum reajuste salarial. Em 2004, foram apenas 25%. Os que menos ou nada recebem são os menos qualificados.

A faixa de trabalhadores que ganha entre 2.200 e 4.200 francos suíços por mês foi a que menos recebeu reajustes (sobretudo nos setores de hotelaria, restauração e indústria de roupas).

Na faixa de salários de mais de 4.500 francos (construção civil e serviços), pelo menos metade dos trabalhadores receberam reajuste.

Para os trabalhadores mais qualificados, com salários entre 5 mil e 7.500 francos (concentrada principalmente no setor financeiro), 8 em cada 10 pessoas receberam reajuste ou aumento salarial.

Contrastes que provocam polêmica

Simultaneamente, sindicatos como a USS acham escandalosos os dados divulgados seis meses atrás, segundo os quais os 200 diretores das empresas mais importantes do país receberam aumentos salarias de 14% em média, em 2005, onze vezes mais do que o que foi dado, em média, aos trabalhadores.

Outro dado comparativo que causou grande polêmica: um empregado precisa trabalhar 60 anos para ganhar o que seu diretor receberá em um ano.

Claro que o nível de qualificação, responsabilidade e estresse não é o mesmo e, conseqüentemente, as comparações simplistas não têm sentido.

No entanto, durante a passeata em Berna, os sindatos denunciaram a injustiça em que o presidente do UBS (maior banco suíço) ganhe 549 vezes mais do seus empregados; ou que o presidente da Nestlé receba 1.316 vezes mais do que qualquer trabalhador do grupo.

Sobre esse assunto, a SECO considera positiva a existência de salários elevados em um país. O problema é que todos os preços que giram em torno da vida cotidiana também aumentam de maneira desproporcional.

Nas entranhas da inflacão

Todos ouvimos falar dos danos que inflação provaca na economia e na população. Na Suíça, a inflação é medida pela OFS a partir de uma cesta de produtos que, em teoria, refletem os padrões de consumo da população helvética.

Os bens e serviços mais consumidos estão incluídos e a cada um deles é atribuída um peso percentual no cálculo global. Contudo, com freqüência a cesta global não reflete o consumo de todo mundo e daí a “inflação pesssoal” não será a mesma das estatísticas públicas.

Concretamente, a OFS estima que 25% das despesas mensais dos suíços são destinados ao aluguel e eletricidade; 17% com saúde; 11% com alimentação; 10% em transporte; 9% com cultura e diversão; 9% com restaurantes e hotéis; depois são considerados gastos menores com roupa, tabaco, comunicações e gastos ligados à casa (consertos, móveis etc).

Só que essas ponderações raramente correspondem à realidade: uma família que dedique 30% do orçamento à alimentação e que não viaja nada tem a ver com um casal jovem, sem filhos, com uma vida social ativa.

Os salários diminuíram

No final, o único que conta realmente – além do discurso dos sindicatos e dos patrões – é saber se os suíços perderam ou não perderam poder aquisitivo.

A OFS deixa claro que sim. Só em 2005, a perda foi de 0,2%, ou seja, os salários aumentaram 1% e a inflação foi de 1,2%. Em 2004, a perda mínima foi de 0,1%. Em 2003, os salários perderam 0,8% e 2002 foi pior ainda, com perda reeal de 1,1%. Nos dois anos anteriores, 2001 e 2000, a perda respectiva foi de 0,3 e 05%.

É preciso considerar ainda que os impostos e as cotizações sociais são, em geral, muito mais elevados na Suíça do que na Alemanha, França, Áustria ou Itália, vizinhos mais próximos. Além disso, a jornada de trabalho é maior e as férias menores.

swissinfo, Andrea Ornelas

A União Sindical Suíça (USS) representa e defende os interesses dos trabalhadores frente ao governo, Parlamento e organizações patronais. Congrega 16 sindicatos.

Na Suíça não existe um salário mínimo oficial mas o salário médio atual é de 5.500 francos suíços, segundo a Secretaria Federal de Economia (SECO).

O Índice de Preços do Consumidor (IPC) mede a evolução dos preços e mercadorias e serviços consumidos pela maioria dos lares.

Os salários dos altos executivos das 300 empresas cotadas em Bolsa são fixados livremente porém, para uma maior transparência, foi modificado o Código das Obrigações. A mudança entra em vigor em janeiro de 2007.

Salários médios anuais:

Suíça: 65.000 francos suíços
Alemanha: 54.000 francos suíços
Grã-Bretanha: 53.000 francos suíços
Áustria: 43 mil francos suíços
Itália: 35 mil francos suíços
França: 32 mil francos suíços

Os altos executivos suíços recebem por ano:
Marcel Ospel (UBS): 24 milhões de francos suíços
Daniel Vasella (Novartis): 21,2 milhões
Franz Humer (Roche): 14,7 milhões
Peter Brabeck (Nestlé): 13,7 milhões

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